PIO XII: GUMPEL, PER BEATIFICAZIONE DOSSIER DI 3000 PAGINE

Nesta terça feira, a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, retoma o tema do conclave para a escolha do novo Papa, a se iniciar na próxima segunda feira. Mais uma vez, em duas partes: hoje uma análise das possíveis alianças e, amanhã, o estudo dos possíveis nomes a serem adotados pelo novo pontífice.

As duas primeiras partes desta série podem ser lidas aqui e aqui.

O Conclave Papal – Parte III

Vindo de um concurso público exaustivo nesse último fim de semana, paro rapidamente para escrever mais algumas notas sobre o conclave que deve se iniciar na próxima segunda feira:

Primeiro: ou existe um movimento forte completamente fora do meu radar, ou realmente o colégio de cardeais está extremamente dividido como nunca esteve desde 1914. Esse conclave ocorreu no início da sangrenta 1ª Guerra Mundial e elegeu o pacificador convicto e papa errático, porém com claro viés de abertura da Igreja, Chiesa (Bento XV).

Segundo: continuo com minha forte convicção que o conclave durará três dias. Em três dias, tudo pode acontecer – inclusive nada. Nos últimos conclaves que duraram três dias foram eleitos Roncalli (João XXIII), um aparente bonachão que deu “uma rasteira” em toda a Cúria e revolucionou a Igreja contra a vontade de vários cardeais. Posteriormente Montini (Paulo VI), grande favorito do conclave, preparado por Roncalli para ser seu sucessor, e que acabou um pouco por trair seu mentor e fez sua revolução retroceder um pouco (mas só um pouco, boa parte que já tinha mudado já não tinha como voltar atrás). Finalmente, Wojtyla (João Paulo II), o grande azarão do sec. XX em matéria de conclave, cujo pontificado já foi comentado por mim nas colunas passadas.

Terceiro: a única possibilidade que vejo do conclave durar apenas dois dias é da eleição de alguém indicado pelo viciado “conglomerado ultra-conservador”, tal como foi como Ratzinger. Se isso ocorrer o papa será um europeu e será péssimo para a Igreja Católica. Para mim, isso será o prenúncio de um grande problema para a Igreja Católica, tal qual foi a eleição de Pacelli (Pio XII, foto), o papa “proto-nazista”, que também foi eleito em dois dias. Os dois outros papas a serem eleitos em dois dias foram Luciani (João Paulo I) e Ratzinger (Bento XVI). História conta por mim o que ocorreu com ambos…

Quarto: se o conclave for para um hipotético quarto dia é a prova que o Vaticano está completamente rachado. A última vez que um conclave durou quatro dias foi com Ratti (Pio XI), em uma época complicada para a Igreja que estava em completo impasse com o governo da Itália recém-reunificada – que já durava 50 anos.

Porém não é má notícia: historicamente são desses conclaves “sangrentos” que saem muitas vezes soluções duradouras para a Igreja, como foi exatamente o caso de Ratti, que assinou o Tratado de São João de Latrão pacificando a Itália e o Vaticano e abrindo caminho para a forte colaboração entre ambos os Estados nos dias atuais.

Por fim, continuo a afirmar que não tenho a menor condição de tentar afirmar quem será o novo Papa. Poderia dar um chute qualquer aqui (e quem me conhece sabe que eu odeio ficar em cima do muro), mas seria completamente leviano da minha parte, pois seria um chute sem qualquer embasamento básico. O leitor do Ouro de Tolo não merece esse jornalismo sensacionalista.

É possível que, com os acontecimentos dessa semana pré-conclave, eu consiga mapear algum movimento ou tentar apontar algo (ou, de preferência, alguém). Caso eu consiga essa proeza (com o estado atual acho cada vez mais difícil), chamarei um “Plantão” para o editor e assim compartilharei minhas visões.

Por exemplo: já percebo com certa força uma tentativa (que começa a dar sinais muito prósperos) de uma “união americana” para juntar os seus 33 votos das Américas em algum candidato latino-americano para tentar forçar a eleição de um Papa das Américas, em detrimento de um Papa europeu.

O problema é que um movimento desses, ao invés de clarificar a questão, apenas a deixa mais nublada. Essa quantidade de votos é muito pouco para eleger um Papa, porém quase impede matematicamente os 2/3 necessários para a eleição de qualquer outro Papa.

Até onde irá a convicção dos cardeais americanos para manter o impasse mesmo em minoria? Que tamanho afinal de contas terá no fim a coalizão?

Exemplificando: se o escolhido por essa coalizão for Scherer ou Gomes, os mais cotados, não vejo Maradiaga os apoiando, principalmente o primeiro. Terá o nome escolhido condições de atrair votos europeus? Se sim, quantos conseguirão já nas duas primeiras eleições para causar impacto e manter o nome em discussão?

Haverá a chance de sair um “papa de terceiro dia” (papa não apoiado nem desapoiado por ninguém, só para escolher alguém e acabar o conclave como foi Wojtyla) de um possível impasse de europeus x americanos? E se sair esse “papa de terceiro dia” será ele europeu ou americano? Ou asiático/africano para não beneficiar qualquer dos lados? Há algum cardeal asiático ou africano pronto para ser Papa? Aqui minha resposta pessoal é clara: não.

Não faço a menor idéia como o colégio de cardeais, como um coletivo, pensa em cada um desses pontos e isso me confunde ainda mais.

O que eu posso fazer, e já fiz com todas as letras nas duas colunas passadas é fazer a lista dos não-papáveis de forma alguma. Ali sim, qualquer erro poderá ser cobrado de mim futuramente.

Amanhã retomo o tema abordando outra questão da escolha: o nome a ser adotado pelo futuro Papa. Até lá.

5 Replies to “Made in USA – “O Conclave Papal – Parte III””

  1. Belo trabalho. Só um equívoco: Pio XII não apoiou os nazistas, ao contrário: foi a única voz da Europa que condenou Hitler e abriu todas as igrejas e conventos para abrigar os judeus perseguidos.

    1. Deyvid, essa foi a postura pública de Pacelli. Porém, nos bastidores ele foi um forte aliado dos nazistas.

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