cardinal-angelo-scola-vaticanNesta segunda, o advogado Rafael Rafic e sua “Made in USA” mostra um quadro preciso do conclave papal, a se iniciar amanhã.

O Conclave Papal – Parte V

Conforme disse no meu terceiro post sobre Conclave Papal, eu pediria um “plantão” ao editor caso eu mapeasse algo interessante antes do início do Conclave. Como eu mapeei e meu pensamento bate exatamente com o que o La Reppublica (o jornal mais lido da Itália quando o assunto é Vaticano) e o La Stampa (principal jornal de Turim) anunciaram, solicitei então essa coluna extra. 

Percebe-se um movimento bastante parecido com o que ocorreu no último Conclave, em 2005, com os cardeais se dividindo em conservadores e progressistas: ou talvez melhor seria chamá-los dessa vez de “continuístas” e “insatisfeitos”, respectivamente. Cada um dos grupos parece ter um número de cardeais apoiadores bastante parecido, em torno de 40. 

De um lado, o dos “insatisfeitos”, aparece como favorito o Cardeal Angelo Scola (foto), atual Arcebispo de Milão, figura que Ratzinger já vinha preparando para ser o novo Papa e sempre foi o grande favorito desse Conclave. 

Como já havia dito, o Arcebispado de Milão é pródigo em oferecer novos Papas e Scola além de ter apoios importantes entre cardeais europeus, parece ter trazido para ele aqueles que, ao que tudo indicam, serão o fiel da balança nesse conclave: os cardeais norte-americanos.  Para mim, hoje ele seria o principal nome para se apostar. 

Esses cardeais que se aliam a Scola seriam aqueles que estão pressionando pela divulgação do tal relatório sobre os documentos do Vatileaks antes do início do Conclave e acreditam que tem algo muito errado na administração atual do Vaticano, precisando mudar. 

Pelo lado dos continuístas, surge a figura do Arcebispo de São Paulo, D. Odilo Scherer. Ele seria apoiado pelos cardeais italianos Sodano, Bertoni e Re. Eles são justamente as atuais grandes figuras da Cúria italiana e principais suspeitos de estarem bastante encrencados no relatório secreto sobre o Vatileaks que só será revelado ao novo Papa. 

Ainda por essa “Teoria” eles estariam apoiando Scherer em um arranjo político que ao mesmo tempo fizesse com que um italiano aliado desses três fosse nomeado para o Secretariado de Estado (cargo principal da administração política do Vaticano). Assim, ao mesmo tempo, os três passariam ilesos pelo escândalo e continuariam a comandar a Igreja, com as mesmas pessoas continuando na Cúria. 

Isso é lindo na teoria, mas o último Papa eleito com tal compromisso foi justamente Roncalli (João XXIII). Roncalli foi aquele que fez de tudo, menos continuar com o que estava se fazendo. 

O que me intriga e mostra que essa eleição está bastante complicada é que, diferentemente de 2005, os conservadores escolheram um cardeal nem tão conservador para votarem. Enquanto isso os progressistas escolheram um Cardeal que está longe de ser progressista. E nem vou entrar na bagunça que está sendo esse bando de italianos (que sempre querem de volta um Papa italiano) de repente escolherem votar em um Cardeal latino-americano em detrimento de um outro favorito que é italiano enquanto os brasileiros, ao menos Damasceno e Majella, parecem ter abandonado Scherer. 

Em 2005, para quem não se lembra, os conservadores já se concentraram em torno de Ratzinger, seu maior expoente intelectual, enquanto os progressistas se concentraram em torno de Carlo Maria Martini (morto no último agosto), seu maior propagador. 

Enquanto Ratzinger era o candidato conservador por excelência, Martini era apenas um nome aglutinador para ser trocado durante o decorrer do conclave, já que era consenso que o mesmo não teria saúde suficiente para ser Papa. 

Os progressistas também estavam em número bastante inferior aos conservadores, o que o fez com que os últimos engolissem os primeiros rapidamente e elegessem Ratzinger ainda no segundo dia. 

Apenas não ficou claro até hoje se Ratzinger foi eleito apesar da resistência dos progressistas (que neste caso estariam em número inferior a 1/3) ou se, verificando a força que o nome de Ratzinger tinha atingido, resolveram capitular para não prolongar o Conclave. 

Para agora, além das diferenças sobre as convicções dos eventuais favoritados, também percebo que ambos os grupos são grandes o suficiente para barrar o outro de conseguir os 2/3 necessários para se eleger papa (ou seja, 77 dos 115 eleitores) . 

Normalmente, quando temos um cenário desses, um impasse é criado, o Conclave chega ao terceiro dia e no final um nome de compromisso é escolhido em comum acordo de ambos os grupos – e os dois favoritos não são eleitos. É exatamente nesse cenário que aposto hoje. Esse cenário poderia trazer alguém como o húngaro Peter Erdo ou alguém que sequer foi pensado para papa (como ocorreu no conclave que elegeu Wojtyla no final de 1978). 

Nessa posição, a imprensa italiana também aponta fortemente o nome de Timothy Dolan, Arcebispo de New York. Porém não aposto sequer um centavo nessa possibilidade. Além de Dolan estar longe do perfil de um “papa de terceiro dia”, não acredito que a Igreja tenha coragem de apontar um papa dos Estados Unidos, com os inúmeros escândalos de pedofilia por lá ainda vivos na memória. Caso isso ocorra, todos precisarão rever seus conceitos sobre Conclave. 

Mas se a fumaça branca aparecer ainda na 4ª feira, no segundo dia de Conclave, o eleito muito provavelmente terá sido Scola ou Scherer. São os únicos que vejo com condições de ganhar ainda no 2° dia. 

Agora apenas nos resta esperar o começo do Conclave amanhã. Alea jact est!

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