Lendo a prévia da coluna “Orun Ayé” do próximo domingo, onde o colunista Aloísio Villar faz uma ácida análise do que representa o “7 de Setembro”, fiquei a pensar nas transformações que nossa sociedade experimentou nos últimos anos.
Evidentemente que há muito o que se mudar e muito o que se evoluir, mas quando pessoalmente observo o que somos hoje e o que éramos há 20 anos atrás a evolução me parece bastante perceptível.
Acho que já escrevi aqui em outras ocasiões que o grande sonho de minha geração de economistas era ver o Brasil com um mercado interno consumidor de massa. Em meados da década de 90, época onde estudei, isso era considerado impossível, ou em futuro distante. Nosso mercado, ou melhor, nosso país em termos de consumo, se resumia com boa vontade a 20 milhões de habitantes.
Hoje, com erros e imperfeições, temos um mercado consumidor interno que manteve a economia girando apesar da crise mundial. Vale lembrar nesta questão o efeito indutor da economia proporcionado pelo Bolsa Família.
O programa de geração de renda é advindo do “Renda Mínima”, de autoria do saudoso professor Antonio Maria da Silveira e encampado pelo então senador Eduardo Suplicy. Seu papel neste processo foi propiciar um efeito indutor à economia, em especial em regiões sem dinamismo econômico.
Exemplificando: o Zezinho não tinha renda nenhuma e passou a receber o Bolsa Família. Então ele vai na padaria do Manoel e compra pão e leite para os filhos, que precisam freqüentar a escola por exigência do programa.
O que ocorre? O Manoel contrata o Zezinho para vender pão, pois a demanda pelo seu produto aumentou. Com isso uma economia estagnada passa a ser mais dinâmica devido ao efeito indutor do programa.
O Manoel também vai comprar mais e permitir que a fábrica de freezers, por exemplo, contrate mais gente para atender ao pedido dele – e de outros Manoéis pelo Brasil. Esta gente contratada também compra na padaria do Manoel – e um círculo virtuoso se forma.
Paralelamente, com o aumento do emprego e da renda e a queda dos juros reais abre-se espaço para uma maior concessão de crédito, o que possui um efeito duplo: aumenta o consumo por um lado e o investimento por outro – já que se torna mais atraente investir em novos negócios que manter o dinheiro parado no banco com o rendimento de renda fixa.
O fato é que hoje temos uma economia dinâmica e que vem se mantendo incólume apesar da crise nos países desenvolvidos. Isso explica, também, o porquê da manutenção do PT no governo apesar de toda a intensa campanha midiática contra.
Politicamente, lembro ao leitor que este período de normalidade democrática já é o maior de nossa República. São 27 anos de respeito à Constituição e com governos eleitos dentro das regras estabelecidas.
O leitor pode alegar que a República Velha, entre 1889 e 1930, foi um período maior. Entretanto, temos de nos lembrar que houve uma série de revoltas neste período, bem como não havia o voto universal. A participação era oligárquica e não abordava a maior parte da população.
Mesmo o combate à corrupção, a meu ver, avançou. Há muito o que se fazer ainda, mas hoje vivemos em um tempo onde os escândalos são revelados e, aqui e ali, há punições. Nosso Judiciário precisa olhar menos a cara do freguês, mas este é um longo processo.
Em termos de política externa, há cerca de 20 anos éramos satélites inexpressivos dos Estados Unidos, com as finanças externas exauridas e tendo as nossas política econômica e externa determinadas fora do locus territorial brasileiro. Hoje fazemos parte dos BRICs e temos um papel ascendente na política internacional, como potência regional.
Seremos sedes da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, algo que na minha infância e adolescência seria impensável. Pode-se questionar o superfaturamento nos custos e a falta de transparência nestes, mas sem dúvida alguma é uma conquista que reflete as mudanças ocorridas em nosso país. Nos próximos quatro anos seremos alvo de todas as atenções mundiais.
Descobrimos também aquela que é a última fronteira petrolífera mundial, graças ao esforço de geólogos e engenheiros de petróleo da nossa Petrobras.
Vale lembrar também que a fome, problema sério há apenas 20 anos atrás – quem não se lembra da “Campanha do Betinho” – é algo hoje muito menor. O padrão alimentar do povo brasileiro (aliás, este foi o tema de minha monografia final de curso) hoje já exerce uma demanda protéica crescente, com adição de frutas e legumes na dieta média.
Temos uma nova classe média, com ascensão social de um número de pessoas jamais visto na história do Brasil. Apesar de ser um ponto onde ainda precisamos melhorar bastante a educação também vem se mostrando mais inclusiva e atendendo a mais pessoas.
Nós sentimos dificuldade de avaliar momentos históricos quando estamos inseridos neles, mas daqui a 30 anos, quando olharmos para trás, veremos que este é um dos momentos mais importantes da história brasileira. A independência do “7 de setembro” pode ter sido apenas “pro forma”, mas curiosamente em um mundo interdependente como é o atual o Brasil vem se desenvolvendo com uma cada vez maior importância individual.
Há muito o que se avançar? Sem dúvida. O país tem problemas, a corrupção ainda é bastante alta, o modelo político precisa de aperfeiçoamentos, precisamos ter uma mídia mais isenta e a economia sanar alguns gargalos. Além disso o povo pode e deve ser mais participativo na vida nacional.
Mas o leitor tenha certeza que daqui a trinta anos este período que estamos vivendo será marcado como um dos mais importantes da história brasileira. É algo que, sem dúvida, podemos celebrar no dia de amanhã. Uma vez na vida conclamo o leitor a olhar para o que é bom e se fixar menos nas críticas do dia a dia. O momento merece – até para que estejamos impelidos a evoluir ainda mais.
Patriotismo é fazer a nossa parte e ver o país progredir.