Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloísio Villar, fala um pouco sobre a questão do respeito envolvendo duas grandes paixões: o futebol e o carnaval.

Samba, Futebol e Uma Dose de Respeito

Semana passada, ocorreu de forma triste e previsível o fim de um casamento que já se arrastava no fracasso. Todo mundo já teve relações amorosas e sabe que a relação em si acaba antes do final oficializado.

Nós sempre teimamos em arrastar aquilo que não dá certo porque não sabemos conviver com o fracasso. É terrível admitir diante do espelho que investimos em algo que não deu certo e assim vamos levando, levando na esperança que algum milagre ocorra – e raramente esse milagre vem.

Aí o fim geralmente traz mágoas, ressentimentos e ódio naquele que um dia já foi amor, festa.

E como eu disse, semana passada ocorreu algo assim. Entretanto não foi uma relação amorosa, foi uma relação profissional onde existiram diversas juras de amor e acabou mal por problemas dos dois lados. Se fosse uma relação amorosa poderia dizer que aconteceram traições dos dois lados, mas como foi “profissional” digo que faltou palavra, hombridade e nessa falta de hombridade se inclui uma mulher – por mais contraditório que seja.

Falo evidentemente da relação Ronaldinho Gaúcho e Flamengo. O jogador entre 2005 e 2006 foi considerado o melhor jogador do mundo, ganhando por duas vezes o troféu FIFA como craque do ano e como que por um encanto desistiu de jogar futebol virando um arremedo de sim mesmo.

Acabou caindo, caindo… Até que tentou o único local que ainda tinha condições de posar como “super star”: o futebol brasileiro.

Em um leilão constrangedor feito por Grêmio, Palmeiras e Flamengo o jogador, que é marionete de seu inescrupuloso irmão, acabou topando a proposta rubro-negra. Traiu pela segunda vez o Grêmio, clube que lhe formou, mostrando que carinho e gratidão passam muito longe da família Assis Moreira.

Chegou ao Flamengo com “honras de chefe de estado”, o super craque que voltava ao futebol brasileiro e levou multidão à sua apresentação. Nessa apresentação soltou a frase “Agora eu sou Mengão”. Flamengo, clube de maior torcida do Brasil, Ronaldinho, o maior craque brasileiro desse século, com certeza daria certo.

Mas não deu.

O dia da apresentação do Ronaldinho foi no dia da tragédia da chuva em Friburgo, um péssimo sinal – e esse sinal virou realidade. Faltou comprometimento dos dois lados, da diretoria omissa, amadora e digna de escárnio do Flamengo que não serve nem pra dirigir um time de futebol de botão e do ex-craque em atividade que só quer saber de farra.

A péssima diretoria do Flamengo comandada pela inacreditável Patrícia Amorim fez um acordo salarial com o jogador e não conseguiu cumprir. Diz um ditado chulo e popular que quem tem uma certa parte da anatomia apertada não faz contrato com uma outra grossa; e a diretoria do Flamengo tinha que ter ciência que um jogador desses é caro e é preciso um regime profissional para pagar a alguém desse nível.

Se não tem essa estrutura vai contratar jogador do Arranca Tocos de Três Coquinhos ou invista na base, mas não dê um salto maior que as pernas que não dará certo.

O jogador também ajudou em nada. O seu papel era mostrar comprometimento, dedicação e mostrar em campo aquilo que todos esperavam, mas isso não ocorreu. Ronaldinho não foi nem sombra daquilo que esperavam dele, teve lampejos de craque, mas na maior parte do tempo se omitiu. Mostrava desinteresse em campo e pareceu um jogador comum.

Com o tempo a dedicação fora de campo também foi embora. Faltando e chegando atrasado a treinos, indo a noitadas, levando mulheres para a concentração. Sua imagem deteriorava a cada dia e isso prejudicava o clube para arrumar um patrocínio e assim lhe pagar e sem esse patrocínio não pagava – virando um círculo vicioso.

Sem receber o jogador ganhou regalias e passou a comandar o Flamengo. Demitiu treinador, arrumava justificativas para sua indisciplina, contagiava os jogadores arrumando asseclas e rivais dividindo o grupo e culminou com o estarrecedor caso de seu irmão se achar no direito de roubar camisas da sede do clube porque ele não recebia.

Uma casa onde falta pão e ninguém tem razão: nisso pode se resumir o Flamengo. A história do clube com Ronaldinho é uma mancha nesses 100 anos de futebol do Flamengo, uma história repleta de trapalhadas, falta de respeito mútuo e principalmente falta de respeito com a nação de torcedores, que estarrecida assistiu a falta de profissionalismo e de vergonha na cara dos dois lados.

Um show de erros que continua depois do fim da relação, como na patacoada em que o Flamengo revela um vídeo do Ronaldinho levando mulher ao hotel que o time estava concentrado sem explicar porque ele não foi punido na época.

Eu escrevo essa coluna no dia que Ronaldinho assinou com o Atlético MG e começou a treinar no clube. Ele seguiu sua vida, que o Flamengo siga também, até porque o mínimo que se espera de um casal que não deu certo é que cada um siga sua vida e tente ser feliz com outros parceiros.

Ronaldinho e Flamengo foram mais um casamento que deu errado – e sobrou para “os filhos”.

Enredos 2013

O Migão pediu que eu escrevesse falando dos enredos para o carnaval 2013. Sinceramente esses enredos escolhidos pelas escolas de samba do Grupo Especial do Rio não merecem uma coluna inteira. Merecem apenas uma pequena parte de coluna, pequena como a importância desses enredos.

Depois de uma boa leva como tivemos em 2012, as escolas retroagiram e voltaram ao “topa tudo por dinheiro”.Teremos para o próximo carnaval “maravilhas” como cavalos, cidades, festivais de rock, países que tem nada a ver com a gente, enredos patrocinados por revistas fúteis e coisas similares.

Por enquanto salvam-se a Portela com enredo sobre Madureira, União da Ilha com Vinicius de Moraes e São Clemente com as novelas globais.

Como sabemos que dificilmente uma dessas três escolas ganhará o carnaval devido a diversos fatores, teremos na quarta feira de cinzas a consagração de algum enredo patético. Além de torcedores cegos como talibãs xingando quem criticou dizendo que o enredo era do “carvalho” e sua escola é “flórida”.

Não, não são.

Quem comanda o carnaval hoje em dia não quer saber se o enredo é bom ou não. Tudo é uma questão de conveniência ou interesse, seja de quem comanda nosso carnaval, seja de quem cobre, premia ou tem sua opinião levada em conta. O que vale é a conveniência, o interesse particular, para quem torce.

Não vou me espantar com o dia que uma escola levar um enredo sobre cocô para a avenida e dependendo de qual escola for essa ser aplaudida pela opinião pública, dizendo que tem que se esperar a sinopse para dar opinião e que o carnavalesco que comandará tal enredo é gênio e com certeza em uma alquimia transformará o cocô em flores.

É como a relação Ronaldinho Gaúcho e Flamengo. Cada um quer saber do seu e que se dane o coração do torcedor.

No dia que o público fiel e consumidor parar de dar moral com quem brinca ou conduz mal o seu amor com certeza as coisas irão mudar.

Com samba e futebol não se brinca. Abram o olho. Orun Ayé!