Neste domingo a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, traz resenha de livro que também li recentemente e que por absoluta falta de tempo acabei não escrevendo sobre: a biografia de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. A meu ver é um documentário indispensável para se entender não somente a história da televisão brasileira, mas também a da publicidade e do rádio.

Apesar de cair bastante em seu terço final – e a história de sua saída da Globo é contada de maneira bastante superficial – é leitura obrigatória para aqueles que se interessam pela televisão brasileira e em especial pela Rede Globo de Televisão. Também possui o mérito histórico de pela primeira vez haver a admissão por parte de alguém interno de que a emissora ajudou Fernando Collor não somente no célebre debate do segundo turno como na campanha em si do candidato.

Vamos ao post. O livro pode ser comprado neste link.

O Livro do Boni

Estou escrevendo essa coluna com certa antecedência por estar viajando. Então, se aconteceu alguma “bomba” na última semana não tive como colocar na coluna, nem mesmo se o mundo acabou deu tempo de relatar. Mas prometo que se for um dos sobreviventes do Armaggedon eu escrevo sobre ele semana que vem. [N.do.E.: o Armaggedon não houve, mas espero que o colunista tenha sobrevivido aos rodízios de massa e frango do bairro curitibano de Santa Felicidade…]
Essa é uma coluna encomendada pelo Migão, mas que eu também já pensava em escrever. É sobre um personagem muito interessante não somente da televisão como do Brasil.

Escrevo hoje sobre José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Entretanto escrevo também sobre como podemos passar a gostar de alguns personagens depois que conhecemos a fundo suas histórias e principalmente que o livro de nossas vidas somos nós que escrevemos – e a qualidade dele depende única e exclusivamente da gente.

Que eu me lembre rapidamente ocorreu duas vezes comigo de conhecer mais a história de alguém e virar fã.

A primeira quando vi o documentário feito pelo “casseta” Claudio Manuel chamado “Ninguém sabe o duro que dei” sobre a vida do cantor Wilson Simonal. Não era fã do Simonal, não conhecia a fundo sua vida, só sabia aquilo que todo mundo falava, que era dedo duro e foi afastado da vida artística por isso. Até hoje não sei se o Simonal foi ou não dedo duro, tendo a acreditar nele pelos relatos, mas virei fã do artista que era impressionante. Sua empostação de voz, seu domínio de público, a beleza que dava às canções com sua voz. Um monstro, um mito e hoje sou muito fã dele.

Assim como sabia pouco do Boni, só que ele foi um cara “grandão” na Globo, mas não sabia nem como ele chegara lá.

Seu livro foi lançado ano passado com grande estardalhaço e como eu sempre gostei de biografias fiquei curioso em ler. Namorei por um tempo com o livro quando passeava em shoppings e passava em livrarias, mas achava caro para meu bolso e deixava passar. O curioso é que o livro foi a primeira coisa que comprei depois que recebi o dinheiro pelos direitos do samba da União da Ilha do carnaval 2012, foi sem querer. Não foi intencional que fosse a primeira coisa e só me toquei agora. Vai ver era essa enorme vontade de ler.

Não me arrependi.

O livro tem um pouco mais de 450 páginas e conta toda sua vida desde o seu nascimento em Osasco, cidade de São Paulo até os dias de hoje como diretor e sócio da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo que atende parte do interior paulista.

Boni é o resultado de uma soma que é fundamental para o sucesso de qualquer ser humano em qualquer área: talento com a força de vontade. O talento o brasileiro já tinha visto, mas a força de vontade foi contada nesse livro, quando desde os quinze anos de idade ele corria atrás das pessoas que trabalhavam em rádios, tvs ou área de publicidade para aprender, observar e poder assim abrir seu caminho.

Com quinze anos no Rio conseguiu virar estagiário de Dias Gomes na Rádio Clube do Brasil e pouco tempo depois estava em São Paulo trabalhando com Manoel de Nóbrega na filial da Rádio Nacional na capital. Rodou por diversar rádios, televisões, foi diretor da gravadora RGE – sendo um dos que lançaram a cantora Maysa – e trabalhou na publicidade sendo o letrista do famoso jingle da Varig e da expressão “Varig, varig, varig..”.

Pegou experiência de tal forma que com trinta anos de idade já era disputado por emissoras de televisão e parou na TV Globo, canal 4 do Rio de Janeiro. Até então uma emissora nova, bancada pela Time Life por um tempo e passando um momento de dificuldades financeiras. É preciso nem dizer no que a Globo se transformou depois de sua chegada e como ele entregou a emissora em 1998. A Globo com ele deixou de ser uma tv local e virou uma rede. Não só uma rede como a quarta maior rede de televisão do mundo.

Podemos ter todas as reclamações em relação a Globo, ideologicamente, a forma como nasceu ou que cresceu, mas de sua qualidade não podemos falar e foi o Boni que implantou essa qualidade. Ele contratou os profissionais que alavancaram a emissora, teve as principais ideias e as menores, mas importantes também. Explicando o que disse acima, de sua cabeça e da cabeça de seu grupo saíram ideias como transformar a Globo em rede, de uma pessoa no Rio ou em São Paulo ver a mesma coisa, ao mesmo tempo em que alguém no Sul ou no Norte.

Desse grupo que ele comandava também saíram o Jornal Nacional, o Fantástico e de sua cabeça saiu coisa que não parece importante, mas hoje é fundamental para quem vê um filme que é no começo de cada bloco botar o nome do filme, em que parte está e colocar o “plim plim” para separar o filme do intervalo comercial.

As séries brasileiras como “Carga Pesada”, “Malu Mulher”, a faixa para música e entretenimento como “Globo de Ouro”, “Cassino do Chacrinha” e amor ao carnaval: no livro ele mostra o amor que tem pelas escolas de samba e explica histórias como a Globo não ter transmitido o desfile de 1984.

Acho que a diferença do gênio para a pessoa comum é que o gênio pensa um segundo antes. O gênio é aquele que tem a atitude que nós falamos “claro, por que não pensamos nisso antes?”. O Gênio é o que faz a diferença. Boni fez. Na televisão realmente foi um dos gênios, um dos desbravadores que fizeram a televisão brasileira ter a qualidade que tem hoje.

Tornei-me fã dele porque gosto de gente assim, gosto de vencedores. Dizem que no Brasil sucesso é ofensa, que brasileiro não gosta de quem vence, eu não sou assim: eu gosto até porque esse tipo de gente que vence por seu esforço e talento sempre tem algo para nos ensinar. Por isso gosto do Boni, do Simonal, do Chico Buarque, do Lula, de Muhamad Ali… Gosto de gente que vai à luta e derrota o destino, que mostra que pode ser maior do que aquilo que a vida apresenta.

Não dizem que somos nós que fazemos nosso caminho? Porque não então um asfaltado, com árvores e flores em volta e que nos leve a um bom lugar?

Não é só em novela que precisa ser assim. Semana que vem tem mais… plim, plim. Orun Ayé!

3 Replies to “Orun Ayé – "O Livro do Boni"”

  1. Desculpe, amigo, mas o Boni apenas copiou a TV americana. Copiou tudo, as aberturas dos telejornais, o tipo de telejornal, as séries americanas, depois as séries brasileiras. Copiou também os programas da antiga TV Exelcior que tinha inovado muito na TV Brasileira. Copiou a rigidez na grade de Tv dos americanos, para acostumar os brasileiros com seus horários. E o filho dele com o BB segue os caminhos do pai, só cópia.

  2. Coincidentemente comprei o livro na semana passada. Estou na página 100, mas compartilho a mesma surpresa positiva que o autor da coluna teve, principalmente em função dos relatos do período em que o Boni trabalhava com publicidade, antes da Globo. Se com disse o Migão, o livro cai na parte final, é uma pena, mas ó pelo o que já li, está valendo a pena.

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