O homem da pré-história, com cabeças e peles de animais adquirindo força e poder;
A morte e a vida na mesma direção;
O culto do Egungun da África para o mundo; As bruxas e seus encantos, feiticeiras e curandeiras;
Máscaras ritualísticas, dança e crença na ressureição;
Egito dos faraós, múmias, Anúbis e sarcófagos mortuários; tudo sobre a proteção de Anúbis;
Oriente, budas, gueixas, dragões, quimeras;
As mil e uma noites de Ali Babá, Xeiques e Odaliscas;
Grécia da Medusa, Minotauro;
Veneza, o Zorro, Máscara Negra;
Super-heróis infantis;
Operações transexuais;
Conduta, comportamento, liberdade de expressão;
Carnaval, posso ser tudo o que quiser, desde que seja fantasiado e tenha alegria;
Com a máscara no rosto posso ser tudo o que quiser e puder.”
(Fonte: Galeria do Samba)
Segundo Espanhol, ao contrário do que vemos hoje a sinopse de Caribé possibilitou muita liberdade criativa aos compositores. Segundo seu relato – que faz parte da entrevista – muitas coisas que compunham o samba não estavam originalmente na sinopse, e as palestras para a dissolução de dúvidas aos carnavalescos também trouxeram elementos novos, como o pássaro “Eleié”. Novamente de acordo com o relato do compositor, a impressão que ele tem é que Caribé montou o roteiro de desfile e a parte plástica a partir do samba – impressão que também foi manifestada à época em grupos de discussão pela internet.
Juan Espanhol e Sylvio Paulo venceram a disputa, ao lado de Fernando, Bola e Bira Só Pagode. Era a décima terceira vitória de Espanhol no Arranco – recorde na escola – e até o momento em que escrevo foi a última. E o samba foi considerado o melhor inédito daquele grupo pela maioria e, por muitos, o melhor samba do carnaval 2006.
A preparação da escola seguiu com dificuldades financeiras. A escola não tem patrono e a subvenção deste grupo é claramente insuficiente para um desfile competitivo – embora tenha melhorado, ainda hoje o é. E a escola disputaria com agremiações muito mais estruturadas como a União da Ilha, a São Clemente e a Estácio de Sá, esta também voltando do Acesso B mas com patrono forte. Sua luta seria para se manter no grupo.
O Arranco foi a sétima escola a desfilar na noite de 25 de fevereiro de 2006, sábado de carnaval. O carnavalesco optou por um desfile em tons escuros, utilizando-se de materiais reciclados e fantasias mais simples a fim de driblar a falta de recursos. A bateria cometru um erro durante o desfile, “atravessando”, e depois optou por passar “reta” sem efetuar paradinhas ou coisas correlatas. O puxador Zé Paulo não mostrou o brilhantismo que desenvolveria nos anos seguintes mas não comprometeu o ótimo samba escolhido.
“O Arranco, que também voltava ao grupo, animou o público com o ótimo samba “Gueledés, o retrato da alma”, mas a parte visual do desfile não ajudava em sua compreensão. O público ficou sem saber se os Gueledés eram uma entidade, uma lenda ou apenas alguma espécie de ser onipresente, que passeava pela Índia, pelo Extremo Oriente e pelo Brasil. Mas a escola do Engenho de Dentro deve conseguir permanecer na Segundona do Samba.”
Havia uma certa apreensão na escola com o resultado, mas em uma apuração cuja vitória da Estácio de Sá não surpreendeu àqueles que acompanham com mais atenção o dia a dia pré-carnavalesco a escola obteve a sétima colocação entre dez escolas, com 236 pontos.
O melhor estava guardado para o final: o samba ganhou os dois principais prêmios carnavalescos cariocas, o Estandarte de Ouro e o Prêmio Sambanet – ambos na categoria “Melhor Samba do Grupo de Acesso A”. Eram dois prêmios que os dois grandes compositores não tinham, corrigindo grave injustiça.