Já escrevi sobre o assunto outras vezes aqui, mas não resisto a voltar a postar sobre o absolutamente pífio modelo de gestão do Flamengo. Desta vez, sobre o marketing do clube.
A última foi a entrega da camisa do clube ao surfista Kelly Slater (acima), multicampeão da categoria e que se encontra no Brasil para a etapa local do Mundial da categoria. A idéia dos responsáveis pela marca do clube é de que a foto “corre o mundo” e aumenta a exposição e o conhecimento da marca. Certo.
Entretanto, como bem escreveu ontem em uma das listas de discussão o colunista desta Ouro de Tolo Walter Monteiro, “o Flamengo deve ser o campeão mundial de entrega de camisas a celebridades”. E isto é fato, basta se lembrar do episódio envolvendo o presidente americano Barack Obama – onde a Presidente Patrícia Amorim passou pelo ridículo de trazer a camisa no corpo para driblar a segurança e, pior, ainda se orgulhou disso.
A questão principal, a meu ver, nem é a entrega ou não das camisas, mas seu significado prático e estar como um dos principais pontos da estratégia de marketing do clube. A impressão que eu tenho é de que ao entregar estas camisas os responsáveis pelo setor no clube imaginam que o clube passará a rivalizar em conhecimento e torcedores com o Barcelona, o Real Madrid ou o Manchester United, por exemplo. Obviamente, nada mais falacioso.
Ainda mais quando percebemos que questões chave e muito mais importantes para o futuro a curto prazo do clube não são contempladas de forma adequada.
A primeira delas é o patrocínio “master”. Estamos em meados de maio, tendo um chamariz de atração que nenhum clube brasileiro possui – a presença de Ronaldinho Gaúcho no elenco – e a camisa do clube se encontra absolutamente “limpa” no peito e nas costas. Isso é bom para o torcedor como eu que quer ver o “Manto Sagrado” imaculado, mas abre-se mão de uma receita que é importantíssima para o fechamento das contas do clube. Ainda mais como se sabe o quão deficiente é o modelo de gestão do Flamengo.
Como pode se ver na imagem acima – do treino da última terça feira em Fortaleza – a camisa do clube possui apenas dois anunciantes: o BMG – que como explicamos em post recente é credora do clube – e a TIM, empresa de telefonia. São duas empresas que anunciam em vários times e que procuraram o clube a fim de ter suas marcas expostas.
A Olympikus, patrocinadora de uniformes do clube, também procurou o Flamengo quando dos estertores do contrato com a fornecedora anterior. Se os valores são vantajosos deve-se muito mais ao interesse da Azaléia que ao esforço do marketing rubro negro.
Aliás, esta é uma característica que vem desde a diretoria anterior: uma certa inação. Não é o departamento responsável pelo setor no clube que prospecta potenciais clientes, mas sim as empresas é que demonstram interesse. Não parece haver uma postura pró-ativa na prospecção de parceiros, de modo que ficamos aos sabores dos humores dos departamentos de marketing de grandes empresas. 
Ao que me parece também a parceria efetivada com a Traffic quando da contratação de Ronaldinho também contribuiu para esta postura reativa: há uma impressão de que a parceira deve buscar estes anunciantes, não o clube.
Lembro aos leitores, também, que recentemente o clube rejeitou uma proposta de R$ 18 milhões da Hyundai, fabricante coreana de automóveis, pelo patrocínio master até o final deste ano. A alegação foi de que “o valor era baixo”. 
Entretanto, 18 milhões de reais por sete meses equivaleriam a praticamente 31 milhões de reais anualizados, o que corresponde à expectativa inicial demonstrada pelo Flamengo na imprensa. Não conheço os detalhes da proposta mas, a princípio, tal recusa me parece incompreensível sob argumentos lógicos, legais e racionais.

Não se pode descartar, também, a possibilidade de que tal proposta não seja interessante à Traffic e ao próprio Ronaldinho – que são uma espécie de “sócios” do patrocínio master acima de um determinado valor conforme o contrato firmado quando de sua contratação. São apenas conjecturas de minha parte, mas que devem ser levadas em conta na análise.

Outro ponto que mostra que o clube tem na verdade um “Departamento de Anti Marketing” é o fato de que o clube não tem um projeto de atrair seu mercado consumidor, fidelizá-lo e transformar este imenso potencial em receitas.
O chamado “Cidadão Rubro Negro” é algo absolutamente inusual: em sua “versão Ouro” o adepto paga cerca de 400 reais por ano para na prática simplesmente ter direito de compra prioritária de ingressos em três ou quatro jogos decisivos por ano. É risível.
É algo que decididamente não representa o anseio do torcedor, ainda mais quando comparado aos planos de “sócio-torcedor” de outros clubes. Sabemos que não há interesse político – desde a diretoria anterior, sejamos justos – de se ter um plano destes no Flamengo, pois não existe a mais remota intenção de democratizar as esferas de poder rubro negras. Inclusive na proposta de reforma estatutária que está em elaboração retira-se o direito de voto dos sócios, com o presidente passando a ser eleito apenas pelo Conselho Deliberativo.
Entretanto, algum tipo de fidelização do torcedor deveria e poderia haver, de forma a atender este potencial de consumo existente. Na prática, quem acaba explorando este mercado são as parceiras, em especial a Olympikus, com o clube levando apenas as “migalhas” de tais receitas. As empresas estão erradas? Não.
Outro bom exemplo do que digo está no recente lançamento de uma série de relógios de alto luxo com a marca do clube: simplesmente colocaram “outdoors” gigantescos com as fotos dos campeões do mundo Andrade e Júnior sem pedir a necessária autorização do uso de imagem. Erro absolutamente primário.
Estes são bons exemplos de como o modelo de gestão rubro negro está infinitamente longe do que deveria ser a praxe. E fico me perguntando o que pensam os diretores do Barcelona, por exemplo, ao ver fotos como a que abre este post.
Voltarei ao tema.