Sim, leitores, eu ainda não terminei de ler o livro sobre a história do petróleo…
Mas neste meio tempo estive em Praia Seca antes da viagem de férias e como não dava para levar um tijolo de quase três quilos como é o livro sobre a história do petróleo aproveitei para ler este “José Alencar – Amor à vida”, biografia do ex-vice presidente escrita pela jornalista da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde.

Apesar da impressionante história de vida do biografado, eu estava reticente a comprar o livro, porque a autora foi opositora intransigente do Governo Lula e utilizou-se de seu espaço no jornal onde trabalha para fazer política partidária.

Resolvi adquirir o exemplar somente depois de ler a resenha que a jornalista Milly Lacombe escreveu em seu blog sobre livros – que, obviamente, está bem melhor que estas parcas linhas.

A história do ex-vice presidente é contada de forma quase linear pela autora, desde a infância onde alternou momentos de maior pobreza com outros de fartura até a chegada à Vice-Presidência  e a luta contra os tumores que ele enfrenta desde 1997.

Este é um capítulo à parte do livro: Alencar teve mais de cinquenta tumores desde 1997, esteve desenganado em pelo menos duas ocasiões e passou por situações absolutamente dramáticas. Uma de suas operações durou dezoito horas – é chamada de “a grande cirurgia” no livro – e teve entre seus procedimentos a “lavagem” do abdômen com uma solução quente de quimioterapia.

Em outra ocasião ele se submeteu a outro procedimento para fazer radioterapia diretamente sobre os órgãos. Mas todos estes sacrifícios foram vencidos com uma inabalável vontade de viver e uma atitude sempre positiva e otimista. Os médicos afirmam de forma uníssona que jamais o viram reclamar, nem mesmo nos momentos mais difíceis.

A autora também descreve o primeiro encontro entre Alencar e Lula, em 1999 – e em como Lula saiu já naquele dia convencido de que tinha achado o seu vice ideal.

Na descrição dos anos enquanto vice reside o maior senão do livro: Cantanhêde o tempo todo tenta desqualificar as realizações dos dois mandatos do Presidente Lula, atribuindo-os, todos, a Fernando Henrique Cardoso. Nada mais falacioso.

Mas o exemplar tem o mérito de descrever as articulações que levaram à sua escolha como candidato e o teor das “costuras” políticas que foram necessárias para diminuir as resistências tanto de setores mais à esquerda do PT como do empresariado. Outro ponto curioso é que em determinados momentos do governo Alencar verbalizava exatamente o pensamento da ala esquerda do PT, que se encontrava silenciada.

Nacionalista, apoiou o golpe de 1964 mas também foi entusiasta da campanha “Diretas Já”. Enquanto dirigente de sindicatos patronais buscou entendimento com as entidades de trabalhadores, apoiado na máxima de que um dependia do outro. Votou em Lula no segundo turno de 1989 e apoiou o impeachment de Collor.

Outro capítulo importante é a história do surgimento da Coteminas, apoiada em financiamento da Sudene mas, também, em uma profunda experiência prévia com tecidos. Com o crescimento da empresa ela foi se expandindo e ocupa fábricas em Minas, no Rio Grande do Norte e em outros locais. Hoje o executivo chefe é seu filho Josué, único homem – ele tem mais duas filhas, netos e bisnetos.

Desnuda um pouco, também, do que ocorre em uma campanha política, em especial a nível estadual e municipal. Alencar foi candidato a governador de Minas Gerais em 1994 (derrotado) e eleito senador em 1998. Em seus quatro anos no Senado adotou uma postura nacionalista e discreta, mas atuante.

Ou seja, a história do menino do interior, sem grandes recursos, mas com imensa capacidade e que se tornaria grande empresário, vice-presidente e, acima de tudo, um exemplo de perseverança e vontade de viver merece muito ser lida.

Na Livraria da Travessa, custa R$ 32. Vale muito a pena.

2 Replies to “Resenha Literária – "José Alencar, Amor à Vida – A saga de um Brasileiro"”

  1. José Alencar perdeu totalmente minha admiração no caso do não reconhecimento de paternidade, que esteve envolvido. Deu uma declaração preconceituosa na época sobre isso e manchou sua biografia.

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