Sem dúvida alguma, o fato novo destas eleições vem sendo a tentativa por parte do candidato do PSDB de ganhar as eleições dividindo o país e dando voz a expressões das mais obscuras no cenário político nacional. Muito pela total falta de programa atraente para as massas, haja visto a sua plataforma nitidamente excludente e reacionária.
Sobre os evangélicos, já escrevi em duas ocasiões, que o leitor pode ler aqui e aqui. Não retiro uma vírgula do que disse naquele momento.
Entretanto, algumas coisas precisam serem ditas.
Antes de mais nada, é uma grande falácia esta história de que a Igreja Católica é ligada ao PT. Desde a ascensão ao papado do Bispo Karol Wojtilla – que seria conhecido como Papa João Paulo II – que a milenar instituição vem dando uma guinada bastante radical à direita. Os bispos latino americanos ligados à “Teologia da Libertação” foram progressivamente perdendo sua influência dentro da instituição até serem afastados, em muitos casos, pela força conservadora.
Bispos e cardeais progressistas foram sendo substituídos por simpatizantes da linha defendida por João Paulo II, que era anticomunista e que renegou a linha adotada em especial na América Latina de “uma igreja para os pobres”. Basta lembrar o poderio do ex-cardeal do Rio de Janeiro Dom Eugênio Sales, radicalmente conservador, de extrema direita e que até hoje, ainda que aposentado, é uma espécie de “eminência parda” do Vaticano no Brasil.
Com a morte de João Paulo II, a eleição do cardeal Joseph Ratzinger – que perseguiu sem tréguas os padres ligados à “Teologia da Libertação” – significou a ascensão ao papado de um soberano ainda mais conservador, se é que isso era possível. Não podemos nos esquecer das ligações com o nazismo e o fascismo por parte do sacerdote alemão.
Regra geral, a Igreja Católica abandonou os pobres à própria sorte, passando a defender o “status quo”, a propriedade privada em sua forma mais radical e políticas excludentes e de concentração de renda. Até a histórica atuação dos padres brasileiros na defesa do acesso à terra está bastante enfraquecida nos tempos atuais, não encontrando qualquer respaldo na direção da instituição.
Em termos de costumes, a Igreja também passou a adotar uma postura mais conservadora. Defende a proibição da camisinha e de qualquer método anti-concepcional, a proibição do aborto, a criminalização dos homossexuais e até a volta ao casamento indissolúvel é defendida por alguns bispos mais radicais.
Internamente, o celibato é envolto em manto de “cláusula pétrea”, muito mais por questões econômicas que por qualquer outro motivo. Entretanto, as inúmeras denúncias de pedofilia entre o clero são convenientemente abafadas, o que constitui um caso clássico de hipocrisia. Ressalto também que o índice de infecção por HIV entre os padres está acima da média nacional.
Parêntesis: tenho uma posição bastante contrária ao aborto, quase radical, mas sou a favor da democratização dos métodos contraceptivos. Voltarei ao tema brevemente.
Com isso temos uma Igreja Católica aferrada ao conservadorismo, ao ritual e à forma. Mas ainda bastante popular e bastante influente, em especial nas camadas mais pobres da população.
José Serra, vendo que através de critérios objetivos não conseguiria penetrar nas classes C, D e E, aliou-se ao que há de mais conservador a fim de dividir o país e ganhar as eleições. A campanha não está sendo conduzida na base de elementos objetivos, comparação de números e coisas afins, mas sim no apelo à irracionalidade.
Mas sim em uma intensa boataria e utilizando-se destes setores reacionários e retrógrados para divulgar calúnias e boatos, tais como “Dilma vai proibir a religião”, “o aborto será liberado”, “Dilma é assassina de criancinhas” e outras coisas. Some-se a isso a vergonhosa adesão da grande imprensa à campanha do candidato tucano, e temos o quadro montado.
Lembro aos leitores que a própria esposa de José Serra incitou este tipo de calúnia aqui no Rio, ao afirmar que a candidata petista era “assassina de criancinhas”. Eu vi com meus próprios olhos panfletos apócrifos sendo distribuídos contra a candidata Dilma Roussef no Centro do Rio.
Bom, o fato é que os púlpitos passaram a ser utilizados abertamente a favor do candidato do PSDB e repetindo calúnias e argumentos absolutamente irracionais. O que se pode esperar é que em caso de vitória do candidato de oposição estes setores ultra-reacionários cobrem seu preço, o que pode significar o bloqueio do debate de questões pertinentes e que saltam aos olhos.
Outro corolário é que a perseguição aos movimentos sociais e de defesa das minorias tende a ser ainda maior do que o verificado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.Também pode-se esperar uma diminuição da liberdade de culto no Brasil e a perda do caráter laico do Estado, pelo menos extra-oficialmente.
Observa-se uma aliança semelhante à que levou George W. Bush ao poder, formada por grandes corporações empresariais – a corporatocracia – a grande imprensa reacionária e estes grupos fundamentalistas religiosos. Deu no que deu: um governo voltado para os ricos, que cortou benefícios sociais, aumentou a desigualdade e que jogou o país em duas guerras desnecessárias a fim de pagar a fatura devida aos grandes grupos econômicos.
Sinceramente, não quero a repetição disso no Brasil.
Complementando, não deixa de ser curioso – e irônico – ver que o Bispo Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus está com uma posição muito mais progressista e racional sobre o assunto. Não deixa de ser um bom parâmetro para verificarmos o grau de extremismo da campanha de Serra e, em especial,  de setores da Igreja Católica.
Ressalto, também, a minha preocupação em ver religiosos sendo tachados de “radicais fundamentalistas” por causa destes grupos conservadores. Com a estratégia adotada de incitar o ódio e o extremismo, os fiéis tanto cristãos quanto de outra religiões que não professam deste credo conservador acabam sendo jogados na vala comum do “obscurantismo”. 
O fato de se professar uma religião, seja qual for, não pode e não deve ser utlizado como forma de discriminação, tanto a favor quanto contra. Professar a Fé é importante, é necessário na formação do ser humano. O que não pode haver é o extremismo e a perda do bom senso.
Espero que nestas duas semanas até o segundo turno o debate político volte à discussão de propostas e retome a serenidade e o “caminho do meio”, o “izunomê” – utilizando-me da palavra japonesa para a definição. 
Lembro aos leitores que aqui fala um homem de profunda  e enraizada Fé. A favor da Fé, contra o obscurantismo.

8 Replies to “Fundamentalismo Religioso e as Eleições”

  1. Pedro, neste ponto vale frisar que a própria candidata Dilma abandonou suas idéias sobre o aborto em troca de um punhado de votos.

    E quanto ao bispo Edir Macedo defender uma posição mais “progressista”, só se for na sua opinião ou em comparação à opinião da igreja católica. O senador Marcelo Crivela, (supostamente ex-)bispo da Igreja Universal tomou a frente da defesa de Dilma quanto às suas posições contra o aborto.

    Sua opinião tem se revelado distorcida apenas a favor da candidata Dilma Rousseff o que me fez colocar aqui que você se tornou o Blog da Dilma. Você não enxerga a guerra podre efetuada dos dois lados e tomou a Dilma como se fosse o lado do bem, aceitando a ingênua campanha da candidata de continuidade, sem qualquer proposta para o país.

    Se é para não ter qualquer proposta (e ambos não as têm), é melhor a privatização. Ao menos é uma proposta de emprego e de menos roubalheira para o futuro. Para os próximos 4 a 8 anos, nuvens negras erguem-se no ar.

  2. Bruno, quanto ao Bispo Macedo, sua percepção é correta. Ele é progressista comparado ao que estamos vendo nas hostes católicas e em setores pentecostais – como o inacreditável Silas Malafaia.

    Quanto à parte dois, discordamos profundamente. Acho que os números econômicos e sociais melhoraram muito sob Lula.

    Mas não preciso mostrar o lado tucano: a Globo, a Veja, a Folha, o Estadão fazem muito bem isso.

    abs

  3. dei uma olhada rápida. não parece ser…

    ressalvo que a própria Messiânica abriu uma Faculdade de Teologia, basicamente para atender ao público interno.

  4. Mas não é online e oferecendo desconto de R$ 6.500,00 para R$ 1.950,00 (Se você ligar nos próximos 10 minutos, diria a Polishop!)… Além disso, vocês parecem levar muito mais ênfase à questão da solidariedade do que a da arrecadação… E – Jesus! – já apareceu uma janelinha de chat querendo conversar comigo!

    É o equivalente a fazer um IUB (Instituto Universal Brasileiro) para pastor… Pela internet e pago…

    O melhor negócio no Brasil é fundar uma igreja…

  5. Ah sim, são coisas completamente diferentes. A idéia da Messiânica, basicamente, é formar público interno – embora esteja aberta a não crentes.

    Pelo o que você escreve, isso aí é picaretagem pura.

    foi o que eu escrevi no texto: tem algo errado quando a posição do Bispo Macedo é a mais equilibrada neste imbróglio todo.

  6. caro Migão, sou católico e deixe-me fazer uns comentários:
    – muito bom o seu artigo sobre o preconceito da elite brasileira;
    – creio ser reducionista comparar a Universal com a Igreja Catolica. O Macedo criou esta igreja para tomar dinheiro do povo. Vide no youtube onde ensina a fazer isto. Ele apenas é um oportunista sem viés filosófico e prega o que lhe for melhor, sem convicções.
    – a Igreja católica possui diversas pastorais e grande trabalho social, só que quando vem um pastor e promete tudo, a concorrência fica dificil…
    – lembre-se que o comunismo atacou demais a religião, e João Paulo II sofreu (e o dalai Lama) na pele dos comunistas. Por isso o medo de algo mais a esquerda. Mas ele com certeza não era a favor destas politicas neoliberais. Sobre conservadorismos, comparado com o Islã, judaísmo, hinduismo, e neopentecostais, a ICAR até que é bem progressistas, vide que tem até santos gays (São Sérgio e São Baco). Estude melhor a história e verás. É igual eu me meter a fazer comentários sobre a Igreja messiânica sem estudá-la a fundo.

    Ronaldo Abreu

  7. Caroi Ronaldo, obrigado pela visita, espero que esteja sempre aqui.

    1) Na verdade, como expliquei ao Bruno acima, quando falei do Bispo Macedo foi sobre seu posicionamento nesta história toda, moderado. Não em sua história ou posicionamentos teológicos;

    2) perfeito, mas você há de concordar comigo que este trabalho social vem sendo bastante limitado.

    3) bem lembrado sobre o comunismo;

    4) exatamente por não conhecer a fundo é que me abstive de fazer comentários sobre a doutrina, à exceção da questão do celibato. Entretanto, é inegável que a direção da Igreja sob o Papa Bento XVI vem guinando a um conservadorismo, em especial na questão dos costumes.

    forte abraço

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