Sem dúvida alguma, o assunto palpitante da política neste último final de semana foi a matéria da revista “Isto É” dando conta de que um dos chamados “caixas” da campanha presidencial de José Serra (PSDB) simplesmente sumiu com R$ 4 milhões arrecadados para a campanha do candidato.
Entretanto, segundo a matéria o sumiço do dinheiro não pode ser denunciado à Polícia por serem recursos destinados a “Caixa 2” da campanha – o que é ilegal.
O tesoureiro em questão, Paulo Vieira de Souza (foto acima) – também conhecido como “Paulo Preto” – até abril ocupou posição estratégica na administração pública paulista, como diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), estatal paulista responsável por grandes obras viárias – como o Rodoanel. Sua posição era estratégica porque tinha contato com diretores de grandes empreiteiras, que, como sabemos, são sempre grandes doadoras de recursos para as campanhas. Já expliquei isso aqui antes.
O desvio de recursos foi descoberto quando a primeira planilha de arrecadação entregue ao Tribunal Superior Eleitoral mostrou que Serra tinha apenas um terço do valor arrecadado pela candidata do PT, Dilma Roussef. Como o PSDB tem bom trânsito junto a grandes empresários pelo seu histórico de defender seus interesses quando no poder, foi feita uma consulta a grandes empresas. E todas afirmaram que fizeram doações a “Paulo Preto”.
Como é dinheiro doado sem origem declarada, o partido sequer pode denunciar o tesoureiro à Justiça – pois configuraria “Caixa Dois”, o que é ilegal e pode até levar à cassação da candidatura. O discurso oficial é de que ele não estaria autorizado a recolher doações de campanha, mas próceres do partido admitem que ele tinha bom trânsito junto a empresários, segundo a matéria.
Paulo Vieira já vinha sendo acusado de achacar empreiteiras durante seu trabalho na Dersa, mas por ser homem de confiança do então Secretário da Casa Civil e hoje candidato ao Senado Aloysio Nunes Ferreira foi mantido no cargo até a saída de José Serra do governo paulista.
Sabe-se que a campanha presidencial de Serra encontra problemas financeiros, em especial para fortalecer as campanhas de aliados regionais. Há pouco tempo, o candidato ao governo do Rio de Janeiro Fernando Gabeira recorreu a Serra a fim de receber recursos destinados à campanha e recebeu uma negativa.
Este suposto desvio de recursos trará outro problema à campanha do candidato: empreiteiras, instadas a colaborar, podem alegar que entregaram recursos a Paulo Vieira – e este sumiu com os mesmos. Segundo a reportagem, o partido teria uma dívida com o arrecadador, e a retenção dos recursos seria uma forma de “pagamento”.
Este caso, independente de seus desdobramentos, deixa claro que o financiamento público de campanhas tem de ser adotado no Brasil. É preferível se separar uma verba transparente, que sabe-se como será utilizada, para uma prestação de contas correta, do que o modelo atual onde grandes empresas contribuem e esperam algum tipo de “retorno’ se o candidato for eleito. Este retorno vem em forma de obras ou serviços estatais, muitas vezes a preços bastante acima do mercado.
Uma ressalva importante: é normal que a administração pública pague um valor um pouco superior por bens e serviços, porque há um prazo considerável entre a realização do serviço e seu pagamento. Na prática paga-se uma “taxa de juros” devido a esta dilatação do prazo. O problema é quando este diferencial é elevado demais, sinal de que há problemas na contratação.
Da forma que está agora, facilita-se a troca de favores entre empresas e políticos e chega-se a situações como esta que descrevo neste post.
Finalizando, convido os leitores a uma reflexão: você votaria em um candidato em que o próprio tesoureiro desvia R$ 4 milhões da campanha ? O que faria este partido tendo acesso aos recursos financeiros do Estado?
É para se pensar.

2 Replies to “Serra, quatro milhões de reais e o Caixa Dois”

Comments are closed.