Quem acompanha o Twitter sabe que estou mergulhado na leitura de um livro que conta a história do ditador chileno Augusto Pinochet e suas atrocidades desde que assumiu a liderança do golpe militar de 1973 no Chile.
Sobre o livro, entretanto, falarei na resenha dele, que devo colocar aqui no início da semana que vem. Quero contar aqui uma história que é derivada deste golpe militar é que é bastante triste: a tortura e o assassinato do cantor e compositor Victor Jara (1932-1973), uma das maiores estrelas da música e da cultura chilena de então.
O cantor, que era filiado ao Partido Comunista Chileno, foi preso no dia seguinte ao golpe, levado ao “Estádio Chile”, torturado, os dedos quebrados e as mãos arrancadas – para que nunca mais tocasse violão – e finalmente assassinado com cerca de trinta tiros no dia 16 de setembro, cinco dias após o mergulho chileno nas trevas.
Além de cantor e compositor Victor Jara era diretor teatral e fazia trabalho de conscientização cultural junto às comunidades mais pobres de Santiago.
Seu corpo foi jogado em uma estrada, reconhecido pela viúva e enterrado de forma discreta na presença apenas dela e das duas filhas do casal. Em 1990 com o início da redemocratização as circunstâncias de sua morte foram esclarecidas; e em dezembro do ano passado finalmente recebeu uma cerimônia digna de funeral, assistida por mais de dez mil pessoas em Santiago.
O estádio onde a barbárie foi perpetrada hoje leva o nome do cantor sacrificado.
Nossa música de hoje é uma homenagem a este artista que morreu pela democracia e pela liberdade. Sua voz foi calada de maneira cruel, sórdida e desumana, mas a obra ficou. O vídeo apresenta imagens do cantor entremeadas com registros do dia do golpe militar.
A letra está em castelhano mas o sentido dela é perfeitamente inteligível.
Manifiesto

“Yo no canto por cantar
ni por tener buena voz,
canto porque la guitarra
tiene sentido y razón.

Tiene corazón de tierra
y alas de palomita,
es como el agua bendita
santigua glorias y penas.

Aquí se encajó mi canto
como dijera Violeta
guitarra trabajadora
con olor a primavera.

Que no es guitarra de ricos
ni cosa que se parezca
mi canto es de los andamios
para alcanzar las estrellas,
que el canto tiene sentido
cuando palpita en las venas
del que morirá cantando
las verdades verdaderas,
no las lisonjas fugaces
ni las famas extranjeras
sino el canto de una lonja
hasta el fondo de la tierra.

Ahí donde llega todo
y donde todo comienza
canto que ha sido valiente
siempre será canción nueva.”