Retomando a série sobre a política carioca e as razões da guinada à direita dada pelo eleitorado, hoje analiso um assunto que a meu ver impactou bastante na opção de voto do carioca: a questão da segurança pública.
Após o final do Regime Militar a violência urbana vem aumentando crescentemente na cidade e no estado. O final do estado de exceção coincidiu com o início de uma organização rudimentar das quadrilhas de traficantes de drogas – inicialmente na “Falange Vermelha”, depois transformada em “Comando Vermelho” e que gerou várias dissidências.
Esta forma de organização fez que o tráfico aumentasse o seu poder de fogo e concomitantemente seu poderio financeiro. As compras no atacado passaram a ser relativamente centralizadas, o que gerou ganhos de produtividade e maior margem de lucro.
Retornando no tempo vemos que a política de segurança do ex-governador Leonel Brizola focou em formar o cidadão das comunidades carentes através da educação, por um lado; por outro optou pelo trabalho de inteligência ao invés da política de extermínio adotada posteriormente.
Lembro aos leitores que o estado não produz armas nem drogas.
Porém, não podemos nos esquecer que a década de 80, chamada de “perdida”, notabilizou-se por arrocho salarial, concentração de renda e aumento da pobreza. Muita gente que não tinha a necessária estrutura familiar acabou encontrando no crime a “saída” para este problema.
Minha avaliação é que, dada a conjuntura econômica nos vinte e três anos compreendidos entre 1980 e 2003 somada à profunda desagregação da família neste período levariam necessariamente a um aumento exponencial da violência urbana.
Entretanto, apoiada em uma campanha midiática absolutamente tonitruante – não podemos nos esquecer que o principal órgão de imprensa carioca era inimigo figadal de Brizola e, depois, do PT – a população colocou o aumento da violência urbana na conta de Brizola. Obviamente, isto se refletiu no movimento à direita do eleitorado.
Paralelamente certos políticos arrogaram-se representantes da “lei e da ordem” e defensores da solução de que “bandido bom é bandido morto” começaram a grassar no espectro político. Ainda que não conseguissem obter colocações de destaque no Poder Executivo sua pregação foi amplificada por programas populares na imprensa.
A “Política de Segurança” pregada e aplicada pela direita consiste basicamente em três pilares: assassinatos em massa, confinamento dos favelados dentro de seus “guetos” – afinal de contas, todo morador de comunidade é um bandido segundo esta vertente – e impunidade às ações policiais. O trabalho de investigação e inteligência foi praticamente abandonado.
Em um primeiro momento a população, crescentemente apavorada e alvo de campanha intensa de propaganda, apoiou entusiasticamente tais medidas. Ainda hoje parcelas expressivas do eleitorado consideram que “se é suspeito, deve ser devidamente assassinado sem direito a defesa”. O primado da barbárie.
Obviamente, apesar de seu apelo eleitoral tal estratégia vem encontrando problemas. Segundo pesquisas recentes cerca de dois terços dos mortos pela Polícia Militar em supostos “confrontos” não possuem o menor envolvimento com o crime.
Outra questão é que com estes novos poderes outorgados os policiais, comandantes à frente, passaram a fazer “acertos” com quadrilhas e a extorquir o cidadão de tudo quanto é jeito. A ponto de existir um chefe de Polícia Civil que chefiava uma verdadeira quadrilha dentro do Estado há pouco tempo. Felizmente, pelo menos este se encontra preso.
Contudo mesmo com esta política de “enxugar gelo” claramente ineficiente tal discurso ainda rende um manancial de votos, em especial nas novas classes médias. É mais um fator que explica a guinada à direita do Rio de Janeiro.
Uma saída para a esquerda, penso, seria explicitar os malefícios da política adotada atualmente e apostar em soluções permanentes e definitivas para a questão. Educação e emprego são dois bons inícios de conversa neste caso.
A série, contudo, não se esgota aqui. Ainda voltarei ao tema.