Estando no Maracanã sábado, sou surpreendido pela notícia da morte do grande locutor Doalcei Bueno de Camargo, anunciada pelo painel eletrônico do estádio.

Com o passamento de ilustre figura, se encerra uma era de ouro do rádio esportivo carioca.

Doalcei formava com Waldyr Amaral e Jorge Cúri o trio de narradores esportivos que povoaram a minha infância. Naqueles tempos, final da década de setenta, início de oitenta, futebol na televisão era coisa raríssima e nossa imaginação era povoada pelas narrações do rádio.

Os locutores conseguiam imprimir uma emoção à partida que, muitas vezes, era criada pela própria atmosfera da “latinha”. As imagens em nossa mente formavam-se à medida em que eram guiadas pela voz inconfundível dos mensageiros da bola.

Mesmo quando ia ao Maraca, o radinho era companheiro constante, dando o detalhe que, muitas vezes, se perde no tempo e no espaço. Garoto, baixinho, às vezes perdia o lance e contava com o auxílio do radinho para descrever o lance.

A mágica que saía das caixinhas fazia a minha infância bem feliz. Está certo que fui um garoto de sorte, porque peguei a melhor fase do Flamengo em sua história; entretanto, o rádio teve uma importância gigantesca na minha formação enquanto amante do futebol.

Me recordo que eu somente podia dormir depois do horário estabelecido quando tinha jogo do Flamengo para ouvir. Reunia a família junto ao rádio para torcer.

Além dos três citados, ouvia também o José Carlos Araújo e o Cesar Rizzo, este já aposentado. Hoje, quando ouço futebol prefiro a narração do Luis Penido, da Rádio Tupi. Mas o encanto não é mais o mesmo.

Nos dias atuais, pouco tenho ouvido, até por um problema tecnológico: a narração do rádio chega cinco a seis segundos antes da imagem na minha televisão. Chega a ser engraçado.

Por falar em televisão, a verborragia dos locutores me irrita sobremaneira, bem como a explicitação de preferências pessoais.

Descanse em paz, Doalcei. Vá narrar partidas no Céu, junto com Waldyr Amaral e Jorge Cúri, grande rubro negro falecido tragicamente em um acidente de carro. Que Deus o receba.

No alto e abaixo, exemplos das narrações do Trio de Ouro.

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