Agora na hora do almoço estive no velório de uma tia-avó, irmã do meu avô e que me ajudou a criar quando eu era bem pequeno. Infelizmente, não pude ficar para o sepultamento.

Entretanto, queria falar um pouco sobre velórios. São um local de tristeza, mas prefiro pensar como um local de saudade e reminiscências.

O bom velório é aquele onde as pessoas estão tristes, mas sem demonstrações de desespero nem de inconformismo. Local de rever pessoas que a rotina afasta, e de recorrer às reminiscências de um tempo que já passou, mas que deixa a lembrança.

Também há a tradição dos “gurufins”, que nada mais é que o enterro de um sambista. Bebida, comida, samba para uma bela despedida. Reza a lenda que, no sepultamento do grande Nélson Cavaquinho, não havia uma viva alma sóbria ao final do féretro. Outra tradição é o surdo acompanhando o cortejo.

A morte é a única coisa da qual temos certeza. Na minha tradição religiosa, é a passagem para uma nova vida, no mundo Espiritual. Em outras tradições, é a passagem para a vida eterna.

A dinâmica de sepultamento acaba sendo, em essência, um rito de passagem. Do viver efêmero do lado de cá para uma outra dimensão – seja qual for.

O acontecimento da morte se torna a celebração da vida. A dor da perda se torna a alegria do reencontro.