Nesta coluna, abordaremos o quesito que menos distribuiu notas 10 ao longo da apuração. Alegorias e Adereços tomou o posto tradicionalmente ocupado por Comissão de Frente, mas o culpado por isso foi um único julgador que teve a coragem que ninguém tinha há anos: não deu nenhuma nota 10.

Porém, no fundo, ele foi o único julgador que julgou corretamente o quesito – que voltou a exibir a desfuncionalidade gritante de 2017 ao praticamente ignorar o julgamento de concepção.

Módulo 1

Julgador: Fernando Lima

  • Estácio de Sá – 9,7 (concepção 4,9 e realização 4,8)
  • Viradouro – 9,9 (realização 4,9)
  • Mangueira – 9,7 (concepção 4,9 e realização 4,8)
  • Tuiuti – 9,7 (concepção 4,9 e realização 4,8)
  • Grande Rio – 9,9 (realização 4,9)
  • União da Ilha – 9,8 (concepção 4,9 e realização 4,9)
  • Portela – 9,8 (realização 4,8)
  • São Clemente – 9,8 (concepção 4,9 e realização 4,9)
  • Vila Isabel – 9,8 (realização 4,8)
  • Salgueiro – 9,8 (concepção 4,9 e realização 4,9)
  • Unidos da Tijuca – 9,8 (concepção 4,9 e realização 4,9)
  • Mocidade – 9,8 (realização 4,8)
  • Beija-Flor  – 9,9 (realização 4,9)

Já começamos por ele, o “Seo Adilson” da nova geração que tanto chamou a atenção na apuração. Fernando Lima, julgador estreante, foi o primeiro julgador desde o já lendário Adilson Gomes de Oliveira no longínquo ano de 2004, no finado quesito Conjunto, a não distribuir nenhuma nota 10 em seu caderno de julgamento. Pela pesquisa do Bruno Malta, antes de 2004 só em 1988 encontraremos uma julgadora sem nenhum 10 – no caso Berta Nutels em Harmonia.

Brincadeiras a parte, na verdade ele foi o único julgador que realmente julgou Alegorias e Adereços, com bastante atenção tanto à concepção como a realização. Afinal, julgando exatamente como o Manual exige, neste ano nenhuma escola merecia a nota 10. Os únicos conjuntos alegóricos realmente impecáveis, Viradouro e Grande Rio, tiveram problemas visíveis de realização, muito bem apontados por este julgador mesmo ele não tendo visto o LED apagado do último carro da Viradouro.

Justificativas altamente detalhadas e atenta a volumetria, efeito visual da alegoria, harmonia das formas, além dos problemas de acabamento e avarias normais de todo ano com dosimetria equilibrada. Um julgador para aplaudir de pé, como é difícil ver em Alegorias. Agora, caso ele permaneça no juri é bom verificar se essa qualidade se mantém, pois neste quesito não é raro os mesmos julgadores terem comportamentos bem diferentes de um ano para o outro, como poderá ser percebido ao longo deste texto.

Quanto ao detalhamento das justificativas, a única pequena crítica que faço é que em duas ou três escolas ele cita “problemas de acabamento” na alegoria sem dizer com mais detalhes onde, enquanto em várias outras ele o faz. Poderia fazer para todas.

Apenas preciso pontuar um ponto que me chamou a atenção. Ele despontuou a Portela por condutor exposto sem nenhuma caracterização. Porém, lembro do Presidente da LIESA dar declarações logo após as tragédias de 2017 de que recomendaria aos julgadores não penalizar mais condutores expostos. É mais um ponto que a LIESA poderia clarificar no manual.Módulo 2

Julgador: Soter Bentes

  • Estácio de Sá – 9,9 (realização 4,9)
  • Viradouro – 10
  • Mangueira – 9,9 (realização 4,9)
  • Tuiuti – 9,8 (realização 4,8)
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 9,8 (concepção 4,9 e realização 4,9)
  • Portela – 10
  • São Clemente – 9,9 (realização 4,9)
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 9,9 (realização 4,9)
  • Mocidade – 10
  • Beija-Flor  – 9,9 (realização 4,9)

Vamos começar aqui um “deja vu” e voltar a Justificando de Alegorias e Adereços de 2017. Daqui até o final do quesito, apenas as três “bandeiras leves”, Estácio, Ilha e São Clemente, serão penalizadas em concepção. Todos os outros descontos serão apenas por problemas de realização.

Ou seja, pelo terceiro ano consecutivo (ele não julgou em 2019) este julgador foi um “guardinha de trânsito”. Logo, sou obrigado a escrever pela enésima vez a mesma coisa: se não se pune a concepção, a justificativa vira um sem fim de faltou isso, aquilo ficou quebrado, tinha um objeto estranho…

É exatamente o que esse julgador se limita a fazer mais uma vez. O trabalho que o carnavalesco e a escola teve de desenhar e bolar algo criativo para colocar na avenida de nada serviu. A única coisa que importa é trazer a alegoria certinha com tudo em seu lugar.

Ao menos, ele foi um bom fiscal de erro e verificou a maior parte dos problemas mais óbvios. Só ficou faltando o LED apagado da Viradouro e os elementos laterais do Abre-Alas da Grande Rio arrancados na Presidente Vargas.

Porém a LIESA realmente quer um julgador que já se notabilizou por praticamente não julgar concepção? Parece sim…

Módulo 3

Julgador: Walber Ângelo de Freitas

  • Estácio de Sá – 9,7 (concepção 4,9 e realização 4,8)
  • Viradouro – 9,9 (realização 4,9)
  • Mangueira – 9,9 (realização 4,9)
  • Tuiuti – 9,8 (realização 4,8)
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 9,6 (concepção 4,9 e realização 4,7)
  • Portela – 10
  • São Clemente – 9,8 (concepção 4,9 e realização 4,9)
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 9,9 (realização 4,9)
  • Mocidade – 10
  • Beija-Flor  – 10

Walber é um julgador experiente, com bons serviços já prestados, porém aqui ele flertou com o péssimo caderno de 2017 dele. Ele só tirou ponto de concepção das três escolas com menos bandeira e de resto só puniu a realização. O resultado final é exatamente o mesmo do módulo anterior: um “guardinha de trânsito” que só fica vendo o que quebrou, passou apagado, torto, mal pintado, etc.

Mesmo assim, não despontuou as falhas da Grande Rio nem as diversas pequenas falhas de acabamento da Beija-Flor, essas bem citadas pelos julgadores anteriores.

Nesses 5 anos de Justificando, Walber deve ser o julgador de desempenho mais irregular. Sempre intercala rasgados elogios a críticas ferrenhas. Ano passado foi o do elogio, já esse…Módulo 4

Julgador: Teresa Piva

  • Estácio de Sá – 9,9 (concepção 4,9)
  • Viradouro – 9,9 (realização 4,9)
  • Mangueira – 9,9 (realização 4,9)
  • Tuiuti – 10
  • Grande Rio – 9,9 (realização 4,9)
  • União da Ilha – 9,8 (concepção 4,9 e realização 4,9)
  • Portela – 10
  • São Clemente – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Mocidade – 10
  • Beija-Flor  – 9,9 (realização 4,9)

Mais uma “guardinha de trânsito”. Um décimo em concepção na Estácio por problema volumétrico em uma alegoria, só para não dizer que não usou seus conhecimentos de arquiteta no julgamento, outro décimo em concepção na Ilha por causa daquela totalmente infeliz “alegoria” do ônibus e só.

De resto, só carro apagou, carro quebrou e carro descolou material. Salvo 2019, esta julgadora tem um longo histórico de “fiscal de erro”. Ou seja, carnavalescos, seus trabalhos criativos no desenho das alegorias foi em vão mais uma vez. De novo, os julgadores simplesmente não julgaram as concepções das alegorias. Repeteco do desastre de 2017.

Volto a me perguntar: é isso mesmo que a LIESA quer? Porque é o 3º ano nos últimos quatro em que esse não julgamento da concepção das alegorias ocorreu.Módulo 5

Julgador: Madson Oliveira

  • Estácio de Sá – 9,9 (concepção 4,9)
  • Viradouro – 9,9 (realização 4,9)
  • Mangueira – 9,9 (realização 4,9)
  • Tuiuti – 9,9 (realização 4,9)
  • Grande Rio – 10
  • União da Ilha – 9,7 (concepção 4,8 e realização 4,9)
  • Portela – 10
  • São Clemente – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Unidos da Tijuca – 9,8 (realização 4,8)
  • Mocidade – 10
  • Beija-Flor  – 10

Madson tem sido outro julgador “montanha-russa” nesta coluna. Recebeu rasgados elogios por seus ótimos cadernos de 2015 e 2016. Em 2017 entrou na “geleia geral” da falta de julgamento de concepção para em 2019 fazer outro bom caderno.

Neste ano descontou pouco, muito pouco para os inúmeros problemas surgidos nas realizações das alegoria este ano (só ler o caderno do julgador do módulo 1) e também só tirou de concepção das “café com leite” Estácio e Ilha.

Pior ainda, fora essas duas acima e alguns problemas da Tijuca, todos os outros descontos foram por problemas de alegoria passando apagada. Madson, normalmente um julgador atento, simplesmente não fez seu papel de julgar esse ano. Nem no teste de “fiscal de erro” ele passou, porque não apontou qualquer das avarias da Grande Rio e dos vários nítidos problemas de acabamento da Beija-Flor.

O julgamento do Madson foi tão ruim que fez o de 2017 parecer até razoável perto disso. O mais louco é pensar que é o exato mesmo julgador que fez um trabalho excelente ano passado. Como se muda tão rápido em tão pouco tempo?

Concluindo, esse foi um outro quesito de julgamento desastroso. Somando com fantasias, esse foi o pior julgamento de plástica desde o início desta série. Na verdade, salvo o elogioso trabalho do julgador do Módulo 1, simplesmente não tivemos julgamento. No máximo, tivemos uma fiscalização e ponderação de erros. Ainda assim, nem isso tivemos direito, pois alguns erros nítidos passaram batido pelos julgadores.

Ano passado, até deu a impressão que a LIESA pediu que os julgadores fossem mais rígidos, pois tivemos um julgamento de razoável para bom. Parecia que a LIESA estava começando a ajustar a rota deste quesito, que se desajustou de forma grave em 2017 e 2018. Porém esse ano, não só voltamos atrás nos passos andados, como ainda recuamos ainda mais.

Só não chegamos ao terrível nível de 2017 porque não tivemos um absurdo como o da Unidos da Tijuca naquele ano para escancarar a situação. Apesar disso, meu sentimento diz que, se tivesse uma escola com drama similar, iríamos superar 2017 pela porta dos fundos.

Este é outro quesito que a LIESA precisa rever com urgência o que está ocorrendo, até de uma forma mais radical do que em fantasias. Neste último, tudo estava indo razoavelmente bem até este ano. O problema em alegorias é antigo e data desde 2017, apenas com um breve refresco em 2019.

Sabe o que mais intriga? Desse julgamento de 2019, que foi apenas de razoável para bom, 3 julgadores são os mesmos de 2020.

Imagens: Ouro de Tolo

One Reply to “Justificando o Injustificável 2020 – Alegorias e Adereços”

  1. Observando as notas da Regina Oliva em Fantasias e do elogiado Fernando Lima em alegorias, a Mangueira teve o pior visual do Carnaval 2020, ao lado do Tuiuti. Lógico que podem, e devem, descontar caso percebam erros, e deve-se levar em conta o fator subjetividade, mas dar as piores notas nos seus cadernos? Observando o desfile, é sério que acham que a Mangueira foi o pior conjunto de alegorias e fantasias que passou nos dois dias de Grupo Especial? Haja justificativa. Se dependesse de ambos, a escola era rebaixada. Puxado…

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