Obs: para uma explicação do procedimento das prévias americanas e de alguns termos técnicos usados nesta coluna, leia a coluna explicativa.

Como prometido, escrevo essa rápida coluna para apresentar o que ocorreu nas duas últimas prévias iniciais antes da Super-Terça, que ocorreram nessa semana de carnaval. Porém serei breve, pois nada disso que escrevo terá mais grande relevância já na noite de amanhã, quando ocorrerá a Super-Terça e quase um terço dos delegados serão postos em jogo ao mesmo tempo.

No sábado de carnaval, ocorreram os caucuses de Nevada e após 48 horas de longa apuração, os resultados mostraram uma vitória extremamente folgada de Sanders, ainda mais folgada do que o esperado. O senador conseguiu 46,8% contra 20,2% do 2º colocado Joe Biden, que finalmente conseguiu um bom resultado para engatar sua campanha. Após, apenas Buttigieg conseguiu uma parcela expressiva de votos, com 14,3%.

Ao fim, após a aplicação do mínimo de 15%, seja local ou estadual, para a distribuição de delegados, uma lavada: Sanders 24, Biden 9 e Buttigieg 3. Ninguém mais ganhou delegados.

O dado mais significativo foi o maciço apoio dos votos latinos para Sanders. Segundo a pesquisa de boca de urna, nada menos que 50% dos votos hispânicos foram para Sanders. É a primeira vez desde 2016 que Sanders mostra que pode trazer para seu eleitorado algo mais diversificado do que o eleitorado branco e anglo-saxão, especialmente do meio-oeste e Nova Inglaterra, que o acompanhou praticamente sozinho até aqui.

Isso é uma ótima notícia para Sanders, levando em consideração que já amanhã, dois dos três estados com mais delegados disponíveis farão sua prévia: Califórnia e Texas. Em ambos a quantidade de votos hispânicos é considerável e um desempenho semelhante dará uma força inacreditável a Sanders.

Já em South Carolina, um estado conservador do sul, a estratégia de Biden em colar nos negros democratas acertou em cheio e finalmente deu a ele uma vitória nessa disputa. E não foi uma vitória qualquer, mas uma verdadeira surra com 48% dos votos, vitória em todos os condados e nada menos do que 28% a frente de Sanders, que mesmo em território adverso à sua plataforma de esquerda conseguiu o 2º lugar.

Em 3º ficou o Tom Steyer, que tal qual Biden contava com uma forte performance no estado no qual ele gastou milhões em propaganda. Mas um 3º lugar com apenas 11% não foi suficiente para ele conseguir sequer 1 delegado, por causa do piso de 15%. Por isso, ele decidiu abandonar a campanha logo após os resultados. Todos os outros candidatos também tiveram desempenhos pífios e na contagem de delegados, dos 54 disponíveis Biden ficou com 40 e Sanders com 14.

Ontem, Buttigieg abandonou a campanha. Isso deve ajudar Biden a consolidar votos, em todos os lugares, de eleitores mais moderados.

A Super-Terça de amanhã consolidará o cenário, mas com esses resultados começamos a caminhar para um no qual apenas Biden e Sanders terão condições de conseguir os delegados necessários, respectivamente os candidatos mais à direita e à esquerda no espectro de candidatos democrata.

Contagem parcial de delegados comprometidos

Sanders – 59 delegados

Biden – 55 delegados

Buttigieg – 26 delegados

Warren – 8 delegados

Klobuchar – 7 delegados

Número mágico: 1.990 delegados

Fonte: The Green Papers

Próximas Prévias

03/mar – Super terça: Alabama, Arkansas, California, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, North Carolina, Oklahoma, Samoa Americana, Tennessee, Texas, Utah, Virgínia e Vermont (1277 delegados ao todo)

Enfim chegaremos ao primeiro grande dia das prévias. Uma concentração absurda de delegados na Super-Terça criou um cenário de “agora ou nunca”. O candidato que não sair da Super-Terça com uma quantidade considerável dos delegados distribuídos não terá mais qualquer condição prática de conseguir o número de delegados necessários para a nomeação na Convenção Nacional.

As pesquisas indicam excelentes performances de Sanders na Califórnia e Texas, o que lhe dará uma quantidade fantástica de delegados (somados esses dois estados sozinhos tem quase 650 delegados disponíveis). Além disso, deverá ter fortes resultados no Maine, em Massachusetts, em Utah e, claro, em seu estado natal Vermont.

Já Biden deve dominar os estados conservadores do “Deep South”: Alabama, Arkansas, Oklahoma e Tennessee, além de ter alguma chance no Texas, talvez o maior embate direto entre ele e Sanders nos estados de amanhã.

North Carolina e Virgínia será um campo de batalha entre os dois com pitadas de Bloomberg, que finalmente começará a disputar as prévias. Já Minnesota tem um ambiente favorável a Sanders, mas é o estado natal de Klobuchar e isso pode complicar a situação lá.