Recentemente tivemos a prisão de vários deputados do Rio de Janeiro, entre eles a desagradável surpresa de ver o presidente da Mangueira.

É desagradável porque é algo que mexe com nosso meio, é desagradável porque o motivo tinha a ver com carnaval, propina paga por Sergio Cabral para o desfile da verde e rosa. É desagradável pelo momento da Mangueira.

A Mangueira é um dos grandes nomes desse pré carnaval. Mais uma vez vem com um enredo crítico ao sistema, ao status quo fazendo oposição, mostrando indignação com o poder e dessa indignação toda vem o samba do ano. Um samba cuja letra é uma obra prima e consegue refletir tudo o que pensamos hoje em dia. Toda a raiva que estamos sentindo do poder, toda revolta em relação ao status quo e justo agora o presidente da Mangueira é pego por atos que vão contra todo esse discurso. É pego por ser aliado do poder, do sistema.

A Mangueira nesse momento reflete a cisão que existe no carnaval. O sambista anônimo e o artista, como carnavalescos e compositores, já entenderam o que vem ocorrendo com o Brasil, entenderam que precisam abrir a boca, se indignar, se revoltar com a forma que o Rio de Janeiro e o Brasil vem sendo conduzidos, com a falta de respeito que o carnaval vem sendo tratado. Mas os dirigentes, aqueles que mandam fazem justamente o contrário.

Os dirigentes são subservientes, abaixam a cabeça para o poder, beijam a mão e não vem conseguindo nada com isso, muito pelo contrário. Apoiaram o Crivella e tomaram um pé dele depois, pelo segundo ano seguido não teremos ensaios técnicos e a indignação agora é bem menor que ano passado com a notícia. Cada vez será menor essa indignação e a tendência é que não tenhamos mais esses ensaios.

Continuaram apoiando candidatos que os sambistas não queriam nas eleições 2018, candidatos que nunca mostraram qualquer sentimento pelo carnaval e isso tudo mostra que os dirigentes do carnaval hoje não falam a mesma língua que o sambista, os dirigentes hoje em dia não representam o sambista, não estão autorizados a falar pelo sambista.

E atos como de Chiquinho fazem muito mal a imagem do samba, dão razão para aquele contribuinte que não quer dinheiro público envolvido com carnaval. Graças a essa postura subserviente e escusa com o poder o samba vai ficando cada vez mais isolado, perdendo apoio de fora de seu nicho e com tudo isso faço uma previsão catastrófica: Se não se reinventar em no máximo vinte anos não teremos mais desfiles de escolas de samba.

Vai chegar a hora que a Globo não se interessará mais e jogará o desfile pra TV a cabo, vai chegar a hora que essa onda conservadora que o país passa enxergará o Carnaval como inimigo e começará a protestar com o dinheiro gasto nele. Chegará o momento que sem dinheiro pela primeira vez teremos um carnaval sem desfile. Isso causará uma grande indignação como foi com o ensaio técnico, mas aí virá o segundo ano com menos indignação e quando vermos tudo isso será passado.

O carnaval só sobreviverá se mostrar indignação com a forma que é tratado, mostrar revolta, postura, se juntar com seu sambista e com o povo para mostrar sua grandeza. O samba tem que firmar posição, tem que falar alto, do alto de sua importância e história. Quem abaixa muito acaba mostrando a bunda e o samba já está com a bunda toda exposta.

Os filhos dos patronos ensaiam uma mudança no sistema do carnaval, se aproximam de Roberto Medina que em poucas horas esgotou os ingressos do Rock in Rio. Com mentalidade nova entendem que a era do fax tem que ser enterrada, que a folia precisa se modernizar, mas isso não basta.

Tem de partir da Mangueira o primeiro ato, tem de tirar Chiquinho de sua presidência. Perde força seu enredo revolta, seu samba indignado tendo como mandatário alguém que usa seu nome e mancha o mesmo. Comece tudo, Mangueira.

Que prevaleça o carnaval da Marielle presente e do Chiquinho ausente.

Para o bem da folia.

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