No momento em que escrevo essa coluna, parece que a greve acabou. Eu digo parece porque tem gente ainda fazendo manifestações e bloqueios.

O caos que ocorreu no Brasil nessa duas semanas traz algumas certezas e uma dúvida. Certeza de que o desgoverno Temer, que nunca foi um primor de precisão, se perdeu de vez, certeza que um país de dimensões continentais como o Brasil é refém de uma classe trabalhadora, certeza de que esse mesmo país gigante não pode depender tanto do sistema rodoviário. Deixa também a dúvida, a pergunta de um milhão de dólares. Para quem exatamente serve a greve?

Ninguém em sã consciência pode ficar feliz com a política do aumento de combustíveis empregada. A desculpa do governo, respaldada por boa parte da imprensa, destaca que esse aumento tem causa internacional e é necessário o repasse para fortalecimento da Petrobras, não falam que muito do déficit da empresa vem da roubalheira que lhe sangrou, e ainda sangra, e que não é justo que o povo pague pela roubalheira de políticos e empresários.

Dito isso, é legítima a revolta dos caminhoneiros, que, sem dúvidas, são a classe que mais sofre com esses aumentos. O povo reconhece esse prejuízo, a importância dos caminhoneiros e juntando tudo isso ao saco cheio que sente desses aumentos e do governo Temer lhe dá um apoio até certo ponto surpreendente.

A questão é que bastava pedir coisas específicas para a classe como diminuição dos pedágios, mas foi para a questão do diesel que sim lhe prejudica, mas prejudica muito mais grandes empresários donos de frotas e o agronegócio. Esses são os maiores beneficiados com a proposta do governo o que faz aumentar a suspeita que na verdade foi um locaute, uma manobra de poderosos em acordo com líderes dos caminhoneiros usando a maioria dos mesmos como massa de manobra.

E quem vai pagar esse acordo? Nós que veremos dinheiro previsto para educação, saúde e outros pontos importantes sendo desviados para resgatar a Petrobras e cumprir o acordo que diminuiu o diesel apenas deixando a gasolina cara.

Sim, nessa história toda os otários, mais uma vez, somos nós. Nós que não conseguimos pegar ônibus, vimos produtos sumindo ou aumentando valor nas prateleiras e voltamos aos anos 80 fazendo fila para abastecer. Aliás, um a parte nisso, horas em filas para abastecer porque o cidadão não sabe viver sem carro e andar de transporte público uns dias. Somos otários porque teimamos em acreditar nas boas intenções das pessoas e classes quando cada um só quer ver seus interesses. Mazelas de um país que não investe no setor ferroviário porque demora para linhas ficarem prontas e governantes não quererem outros inaugurando suas obras.

Curioso pensar que a direita alerta tanto sobre o risco de o Brasil virar Venezuela em caso de vitória presidencial de um candidato de esquerda e o Brasil virou Venezuela mesmo em um governo liberal.

Vale uma reflexão: Tirando a questão política dos vizinhos que realmente é controversa e polêmica imagine como deve ser viver um um país asfixiado por sanções e embargos econômicos? Será que a pobreza extrema do país vem só da truculência e pouca democracia de Maduro ou também tem a ver com isso? Por muito menos o Brasil também parou.

A cereja de gasolina que faltava no bolo de um governo que acabou.

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2 Replies to “A gasolina no incêndio”

  1. O Irã sofre com mais embargos e sanções. E tbm é uma ditadura (ou “pouca democracia”, como dito acima). Mas não vejo o Irã em situação sequer semelhante a uma Venezuela.

    1. O Irã é um dos países mais fechados do mundo tendo ainda o fator religioso. Não da pra conhecer muito a realidade do país.

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