Está chegando o Carnaval e é hora de compilarmos alguns números e estatísticas recentes do desfile das escolas de samba do Grupo Especial. Estatísticas, curiosidades, comparações e pontos que, no dia a dia, não nos damos conta.

Sucesso passado não é garantia de sucesso futuro no “negócio” escola de samba, mas pode permitir verificar algumas curvas de tendência. É lógico que questões como troca de diretoria ou um mecenas que resolva colocar dinheiro influenciam bastante, mas, ao menos, estes números permitem algum debate – regado a uma cerveja gelada, claro.

Feita esta introdução, vamos lá:

Campeãs na última década (2008/17): 7. Tijuca (3), Beija-Flor (3), Salgueiro, Vila Isabel, Mangueira, Portela e Mocidade.

Campeãs na década anterior (1998/2007): 4. Beija-Flor (5), Imperatriz (3), Mangueira (2) e Vila Isabel.

Nota-se uma dispersão maior comparada à década anterior. A Beija-Flor continua como força dominante nas estatísticas, mas de 2012 para cá somente venceu em 2015. A Unidos da Tijuca emergiu e a Imperatriz Leopoldinense deixou o grupo das candidatas ao título ao se comparar esta década à anterior.

Entre as demais, temos dois grupos bem distintos. Por um lado Salgueiro e Portela (esta desde 2012) vêm mantendo uma constância de bons resultados; por outro os títulos de Mangueira e Mocidade foram resultado de trabalho em um ano somente – embora estas duas citadas venham em um processo de soerguimento. Já a Vila Isabel vem oscilando bastante e isso tem correlação direta com as reviravoltas políticas que a agremiação vem enfrentando nos últimos anos.

Presenças no Desfile das Campeãs na Última Década:

  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 9
  • Unidos da Tijuca – 8
  • Grande Rio – 8 (em nove anos*)
  • Portela – 7 (em nove anos*)
  • Imperatriz Leopoldinense – 7
  • Vila Isabel – 5
  • Mangueira – 5
  • Mocidade – 1
  • União da Ilha – 1 (em nove anos*)
    *não julgada em 2011, ano do incêndio na Cidade do Samba

Aqui algumas coisas chamam a atenção. A primeira é a incrível regularidade do Salgueiro, que, ainda tendo sido campeão apenas uma vez, esteve no Sábado das Campeãs em todos os anos. A Grande Rio também pode ser destacada sob este aspecto, embora tenha obtido algumas colocações bastante questionáveis neste período – especialmente em 2013.

A Beija-Flor vem traçando uma clara linha de queda nos últimos anos: de 2014 para cá ela foi respectivamente sétima, campeã, quinta e sexta, ao contrário dos 15 anos anteriores, nos quais só obteve três colocações diferentes de campeã ou vice – 2006, 2010 e 2012.

Por outro lado, a Portela vem ascendendo com força após a troca de diretoria ocorrida em 2013: de lá para cá obteve um título, dois terceiros lugares e um quinto – este empatado com o terceiro na pontuação.

Número de Escolas: nos últimos cinco anos, 16 escolas participaram do desfile do Grupo Especial. Para 2017 teremos a volta do Império Serrano, se somando a este grupo após ficar longos oito carnavais ausente do seu lugar de direito. Destas 16, quatro participaram apenas em uma oportunidade, tendo feito um “bate e volta” entre a Série A e o Grupo Especial: Inocentes, Império da Tijuca, Viradouro e Estácio de Sá. O Paraíso do Tuiuti teria se juntado a este grupo não fosse a virada de mesa ocorrida ano passado.

Apenas Portela e Mangueira participaram de todos os desfiles do Grupo Especial desde o início. Salgueiro e Mocidade Independente jamais foram rebaixadas após o acesso ao que hoje se denomina Grupo Especial.

Diretorias Pós-2013: temos uma comparação interessante aqui. Mangueira, Portela e Mocidade (pela ordem) trocaram suas diretorias após o carnaval de 2013. De lá para cá as três conquistaram um campeonato, mas nos demais resultados a Águia vem tendo uma consistência maior, indo ao Desfile das Campeãs em todos os anos – contra dois da Mangueira e um da Mocidade.

Puxando a brasa para a nossa sardinha, os números deixam insofismável a virada que o grupo “Portela Verdade” deu na escola – o que não significa que o trabalho realizado nas duas coirmãs seja ruim, longe disso.

Estandartes de Ouro de Melhor Samba-Enredo: nos últimos dez anos, com o julgamento oficial bastante errático deste quesito – em especial de 2015 para cá – o Estandarte pode (ainda) ser apontado como um bom aferidor neste quesito. Não deixa de ser um “título informal” no concurso entre sambas de enredo:

  • Imperatriz – 4 (2008, 2010, 2011 e 2015);
  • Portela – 2 (2012 e 2016);
  • Mangueira – 1 (2009);
  • Vila Isabel – 1 (2013);
  • Salgueiro – 1 (2014);
  • Beija-Flor – 1 (2017);

Se levarmos em conta que três dos quatro primeiros prêmios da Imperatriz foram no início da sequência, pode-se dizer que há um equilíbrio entre as composições – em que pese, no julgamento oficial, a Portela ter obtido apenas uma nota diferente de 10 de 2012 para cá, e descartada.

“Supercampeonato” 2013-17:

E se pegássemos todas as pontuações dos últimos cinco anos e somássemos? Ao contrário do ranking da Liesa, que atribui pontos às colocações, aqui somo todos os resultados de 2013 até 2017 e obtenho um ranking – uma espécie de Supercampeonato.

Ressalve-se o fato de o quesito Conjunto ter sido extinto e de alguns julgamentos específicos de quesitos com problemas em relação ao que se viu na pista, mas em um universo amostral de cinco anos, estas tendem a ser diluídas. Considerei apenas as escolas que participaram de todos os desfiles no Especial neste período e apenas as notas válidas para o resultado oficial em cada ano.

O resultado seria o seguinte:

  1. Salgueiro – 1.405,8
  2. Portela – 1.404,4
  3. Beija-Flor – 1.404,1
  4. Unidos da Tijuca – 1.404,1
  5. Imperatriz – 1.402,5
  6. Grande Rio – 1.401,5
  7. Mangueira – 1.399,2
  8. Vila Isabel – 1.397,1
  9. Mocidade Independente – 1.394,6
  10. União da Ilha – 1.394,3
  11. São Clemente – 1.391,4

Adotei como critério de desempate a pior colocação neste período, por isso a Beija-Flor fecha o pódio. Ainda assim, a Unidos da Tijuca na quarta colocação pode ser considerada um resultado espetacular, tendo em vista seu 11º lugar do ano passado.

Vale ressaltar também que o desconto de pontos nos dois últimos anos foi bem menor que nos anteriores, o que distorce um pouco o ranking. Ainda assim, comparado com o feito pela Liesa – com critério diferente – o resultado final é semelhante. Também é digno de nota o fato de Portela, Beija-Flor e Tijuca estarem separadas por apenas três décimos no somatório de cinco anos de notas válidas.

Ou seja, podemos afirmar que, em média, Salgueiro, Portela (esta em viés de alta), Beija-Flor (em viés de baixa) e Unidos da Tijuca são as melhores escolas de samba nos últimos cinco anos, especialmente em termos de regularidade. Ainda que a divisão de títulos tenha sido diferente – e mais influenciada por eventos específicos, o que é absolutamente normal – estas quatro citadas, neste universo amostral, estão sempre disputando as taças.

O curioso é que justamente a “campeã” na soma dos últimos cinco anos tenha sido a única escola a não ter conquistado um título neste período, entre as quatro citadas.

Não esgoto o assunto, longe disso, mas considero estes números compilados neste texto bastante interessantes. E os números não mentem, já diria o ditado. E a área de comentários está aberta para análises, críticas e sugestões.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

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25 Replies to “Estatísticas Recentes do Carnaval Carioca”

    1. Concordo que a Portela deveria ter ficado melhor classificada no triênio 2014/15/16, mas eu prefiro pensar pelo lado positivo e enaltecer o ótimo trabalho feito pela atual diretoria

  1. Texto interessante. Apenas confere se realmente a Beija-Flor nunca foi rebaixada. Acho que lá nos anos 60 ela subiu duas vezes para o grupo principal e foi rebaixada. Nos anos 70 voltou e aí sim nunca mais caiu.

  2. Se considerarmos os resultados desde o início deste século, a Beija-Flor mostra uma força impressionante. Sete títulos em dezessete anos, ficando fora das campeãs apenas uma vez. Não é pouca coisa. Porém, concordo que de 2012 pra cá esse domínio acabou. A Beija agora continua forte, sempre uma das favoritas, mas agora tem “novas” rivais. Se antes sua preocupação era com a Tijuca de Paulo Barros, o Salgueiro estruturado e a irregular Vila Isabel, de 2014 pra cá Portela, depois Mangueira, e agora Mocidade, voltaram a ser escolas que desfilam para vencer, tornando até mesmo uma vaga nas campeãs uma difícil tarefa. Sem falar na Grande Rio que finalmente parece estar no caminho para seu tão sonhado título.

    Outro fato interessante é notar a força do Império Serrano no quesito samba-enredo, foram três estandartes no quesito em apenas oito participações na elite neste século, sem contar os dois conquistados no acesso.

    Mangueira e Mocidade pagaram por desastrosas gestões, de 2007 a 2013, no caso da Mangueira, e desde 2003, no caso da Mocidade. A herança dessas gestões foi tão ruim que elas precisaram de dois carnavais de medianos para fracos para mostrar algum resultado. Nesse caso, palmas para a Portela, que conseguiu superar os problemas causados pela péssima gestão anterior logo em seu primeiro Carnaval.

    1. No caso específico da Mangueira, Luis, a evolução tem nome e sobrenome: Leandro Vieira. É exatamente a chegada dele à escola que marca a ascensão nos resultados – porque não houve mudanças administrativas drásticas neste período.

      Não posso falar das gestões de Mocidade e da Mangueira porque não as conheço profundamente, mas da Portela, diretoria da qual faço parte exatamente nesta área, foi justamente a implantação de um modelo de gestão administrativa-financeira que propiciou as condições para se conseguir fazer um belo carnaval já no primeiro ano.

      1. Não falo especificamente em questão de resultados, mas de organização. Embora os resultados dos dois primeiros anos da nova gestão (2014 e 2015) tenham sido muito abaixo do esperado, por questões artísticas que realmente mudaram com o Leandro, a preparação foi muito mais tranquila do que nos anos da gestão do Ivo, por exemplo. Barracão pronto, sem correria, enquanto que de 2010 a 2013 (e 2009 também, pra ser justo), era um Deus nos acuda. Sem contar a sábia opção de evitar as pataquadas feitas em 2012 e 2013.

        Já na Mocidade, claro que tem a questão financeira com a chegada do patrono, mas a escola realmente fez grandes mudanças em relação aos tempos da antiga diretoria, não só no barracão, mas também na harmonia, e nas questões internas. Antes tudo em relação a Mocidade chegava na mídia, hoje já não é bem assim…

        1. Mas você está só corroborando o que escrevi no texto. Entre as três, a gestão da Portela parece mais “regular”, mas as outras duas também avançaram.

          1. Ah sim, quanto a superioridade da Portela na questão da organização não se discute, tanto que já apresentou resultado logo no primeiro Carnaval pós-Nilo. Acho que hoje já está até no mesmo nível do que Salgueiro, Tijuca e Beija-Flor, e pedindo passagem. Só quis dizer que a evolução artística da Mangueira sem dúvida veio com o Leandro, mas que logo no primeiro Carnaval do Chiquinho, o trabalho no barracão caminhou com muito mais rapidez e tranquilidade do que na gestão Ivo. E é sempre importante frisar isso, pq nos fóruns de Carnaval da vida o que tem de viúva da antiga gestão, rapaz…

            Só acho que ele, ou o próximo presidente, terá que se virar para manter esse alto padrão artístico, pq tenho a impressão que o Leandro não fica muito na Mangueira, infelizmente. Se ficar para 2019 já estamos no lucro…

          2. Vale lembrar, Luis, que uma boa administração mantém o nível mesmo com troca de profissionais artísticos ou musicais. O Salgueiro é bom exemplo disso.

  3. No caso do Salgueiro, sim, vide o falatório em torno do barracão da escola nesse Pré-Carnaval, com um aparente grande trabalho do Alex de Souza. Mas muitas vezes a escola oferece boas condições do carnavalesco realizar seu trabalho, com investimentos e sem correria, e ainda assim as soluções estéticas não agradam na avenida, mesmo com profissionais reconhecidamente vencedores no Carnaval, como ocorreu com Rosa Magalhães na verde e rosa em 2014 (sim, teve o índio, mas esteticamente a escola deixou a desejar nas alegorias) e com Paulo Barros na Mocidade em 2015.

      1. O problema é que só julgam a capacidade de uma escola de samba com o resultado na avenida, ao passo que se esquecem do trabalho durante o ano. O mais importante é ter condições, contas em dia e gestão profissional.

        Na avenida, só uma vai ganhar, então não adianta condenar uma agremiação por causa do desfile em si.

        Lembro que, em 2013, a União da Ilha foi a primeira a completar o barracão. E foi só oitavo lugar! É ruim por isso? Eu acho formidável a organização que tiveram. Até porque sabemos como são determinadas notas…

        1. Uma coisa que eu aprendi nesses cinco anos na diretoria da Portela é que também não é o ideal acabar o barracão muito antes

          1. Nada demais rs

            Acumula poeira, sujeira, mesmo cobertos. Ideal é terminar de uma semana a dez dias antes para dar tempo de fazer todos os testes necessários nas alegorias.

  4. No caso da Mocidade, melhor deixar quieto mesmo, rs… Mas é só para exemplificar que, as vezes, mesmo com tudo certinho no Pré-Carnaval, as coisas podem “dar ruim” na avenida…

    1. Mas esta é a mágica dos desfiles das escolas de samba. Poderia passar dias aqui dando exemplos disso

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