Para fechar 2017, a coluna “Samba na Garoa” traz a análise dos sambas do Grupo de Acesso de São Paulo, com o intuito de atribuir um ranking para uma competição tão pouco valorizada na mídia e, principalmente, gerar opiniões e debates de alto nível entre os amantes do carnaval paulistano. Como quaisquer opinião sobre sambas de enredo, o gosto pessoal está implícito, mas o objetivo deste ranking é se fidelizar ao máximo ao Manual do Julgador da Liga, para que as notas se assemelhem as opiniões dos jurados.

Vamos a elas, pela ordem de desfiles:

Barroca Zona Sul
Enredo: “Carnevale. A magia da folia”
Intérprete: Pixuleh

Sabe aquele samba que dói na alma despontuar? Primeiro que o Pixuleh é um monstro, tem uma potência vocal absurda, vai ser uma honra tê-lo no Anhembi em 2018. Eu gosto de cantar esse samba e acho que o grupo será aberto com bastante animação, mas o regulamente manda penalizar trechos que ficam espremidos em determinada melodia. Em vários momentos percebe-se palavras cantadas de forma rápida para caberem no verso. Outro trecho que não aparenta clareza é o “Será, que no brinde ao ano novo, vou, brincando com o povo, encontrar o meu amor? A virgula após o “vou” não é notada no canto, dessa maneira a frase não tem o sentido correto. Nota: 9,8

Leandro de Itaquera
Enredo: “A celebração da solidariedade no mundo. Onde há necessidade, há um leão”
Intérprete: Juninho Branco

Esse samba veio ao mundo com a ingrata missão de suceder a reedição de “Babalotins”, talvez o maior da história da folia paulistana. E na minha visão a obra não cumprirá esse papel. O samba não é ruim, mas é longo, o que dificulta no desfile mais curto do acesso; além do fato que a melodia cansa, pois ela segue muito linear. Além disso achei os últimos quatro versos fora de propósito, parece um refrão antes do refrão, que nesse caso não fez sentido. Nota: 9,7

Nenê de Vila Matilde
Enredo: “A epopeia de uma Deusa africana”
Intérprete: Agnaldo Amaral

Após um descenso controverso pelas polêmicas do óleo na pista que atrasaram seu desfile, a Nenê aposta em Iemanjá para retornar a elite. O samba poeticamente é bem bonito e tem o tom melódico que o enredo pede, mas o problema é que na sinopse a escola se propõe a contar a “Epopeia da deusa” e no samba não vemos essa saga sendo contada. Temo também que o samba se arraste na avenida ao longo do desfile, pois ele tem poucas nuances, trabalho para o lendário Agnaldo Amaral e para a bateria do Mestre Pelegrino. Nota: 9,9

Colorado do Brás
Enredo: “Axé – Caminhos que levam a fé”
Intérprete: Chitão Martins

Ah Samba Enredo, o quesito que deixou a Colorado há um décimo de estar no Grupo Especial em 2018. Para que isso não aconteça novamente a escola caprichou até demais e nos brindou com uma excelente obra. Rimas boas, clareza para cantar e uma melodia sensacional, especialmente na segunda do samba, onde ela dá uma caída e volta a subir no quinto verso. O único porém fica para a palavra “bravura” no último verso antes do refrão do meio, ela é esticada demais e incomoda para cantar. Mesmo assim não há como despontuar o samba que promete fazer história no Anhembi, com um potencial imenso de explodir no canto. Nota: 10

Camisa Verde e Branco
Enredo: “100% Camisa Verde e Branco carnavalizando Mário de Andrade. O berço do samba, o poeta e o herói na Pauliceia desvairada”
Intérprete: Nêgo

Mais um belíssimo samba para a maior discografia do nosso carnaval. Não digo que está no nível dos clássicos do Camisa, mas este samba é bom demais, daqueles que se ouve em looping sem cansar. A grande sacada são as nuances melódicas. O trecho “Ai que preguiça” dá uma mudada no ritmo genial, o refrão do meio entra muito bem e a transição melódica após o verso “Ou será um retrocesso, meu Tietê” é sensacional. Esse samba te remete a época de Mário de Andrade, traz aquele romantismo que o enredo pede. Pode não empolgar demasiadamente no desfile, mas como obra musical é a melhor do grupo. Nota: 10

Águia de Ouro
Enredo: “Mercadores de sonhos”
Intérpretes: Serginho do Porto, Douglinhas e Fernandinho SP

Após o polêmico “Como faz Luisa Mell” onde as notas de Samba Enredo rebaixaram a escola, a àguia de Ouro traz um samba certamente melhor do que o de 2017, mas longe de ser uma das grandes obras da sua história. O excesso de versos terminados em “ar” do refrão de cima e na primeira compromete a riqueza poética e e em dois trechos a melodia dificulta o canto linear do samba (“ A nossa história vai começar/É do oriente um fascínio sem igual). Sabemos que o trio de intérpretes é muito bom e a bateria do Mestre Juca também, isso pode fazer passar bem no desfile. Nota: 9,8

Pérola Negra
Enredo: “Numa viagem arretada por terras nordestinas, a Joia Rara do samba embarca rumo ao maior São João do mundo: Campina Grande”
Intérprete: Daniel Collete

Temos aqui uma ótima surpresa da safra. O samba sofre Campina Grande é bem simples, melodia já usada muitas vezes e uma letra de enredo CEP totalmente padrão. Mas é tudo muito bem feito, é o tal do “Arroz com feijão bem temperado”. As rimas não se repetem, é muito fácil de cantar e o samba sobe preparando para o refrão, tudo muito dentro dos moldes tradicionais. Não darei dez pois no comparativo acho que não tem a criatividade e o poder de encantar como os dois líderes, mas tenho quase certeza que sob o comando do Daniel Collete irá gabaritar no júri. Nota: 9,9

Imperador do Ipiranga
Enredo: “Solidariedade. A explicita magia de sonhar, amar, viver, em prol do bem”
Intérpretes: Juninho Berin e Rodrigo Atração

Para fechar o carnaval de São Paulo a escola que se salvou por pouco do rebaixamento em 2018. A Imperador precisa de um grande desfile para se reafirmar no grupo. O samba tem um dos melhores refrãos do meio da safra, acho ele muito acima do restante do samba, acredito que isso cause irregularidade no canto da escola, pois esse trecho é mais gostoso de cantar que os demais. De restante acho a obra bem extensa e cansativa, principalmente na segunda, não vejo o canto fluir. Já a solução do começo achei bem legal, de dar um bis no terceiro verso, que remete a própria escola. Nota: 9,7

Ranking:
1º – Nota 10 Colorado do Brás Camisa Verde e Branco
3º – Nota 9,9 Nenê de Vila Matilde Pérola Negra
5º – Nota 9,8 Barroca Zona Sul Águia de Ouro
7º – Nota 9,7 Leandro de Itaquera Imperador do Ipiranga

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