Nesta semana a série “Os Artistas da Folia”, conversa com o Mestre de bateria da Rosas de Ouro. Rafa Oliveira está desde 2014 no comando da “Bateria com Identidade” e neste ano gabaritou o quesito.

Rafa iniciou no projeto “samba se aprende na escola” e desfilou na bateria mirim pela primeira vez em 1998 e tornou-se diretor de bateria em 2010. Rafa não almejava se tornar Mestre e conduzir os ritmistas, mas a Presidente Angelina Basílio confiou a ele o cargo, o qual ocupa atualmente e hoje é um dos principais do carnaval de São Paulo.

Em 2018 a Rosas de Ouro será a sexta escola de sexta-feira e levará ao Anhembi o enredo “Pelas estradas da vida, sonhos e aventuras de um herói brasileiro”, uma homenagem aos caminhoneiros do Brasil.

Ouro de Tolo: Como funciona dirigir uma bateria? Como você mantém o controle, a disciplina e percebe a evolução de cada um? Afinal de contas são 250 ritmistas.
Mestre Rafa: Para dirigir uma bateria você precisa ter diretores e auxiliares, todos em sintonia de pensamento, pois eu sou um cara que ouve a opinião de todos. A gente consegue ver a evolução de cada ritmista quando separamos os naipes, com ensaios separados de caixas, repiniques, tamborim… Assim conseguimos dar mais atenção aos instrumentos no que se trata de afinação e da execução e andamento das bossas.

OT: A “bateria com identidade” é conhecida assim pelas suas características próprias, explica pra gente o que ela tem de diferente e o que forma a identidade dela.
Mestre Rafa: A nossa bateria é muito jovem, temos a bateria mirim comandada pelo Ricardo Tripa e pelo Jorge Bodão e de lá saem diversos ritmistas nossos. A identidade vem da forma de tocar, nossa bateria é a moda antiga, o surdo de terceira não é muito padronizado, temos duas batidas de caixa ao invés de uma; além dos repiniques que são soltos, dos 35 que temos seis ou sete ficam livres para criar nas bossas. Essa é a diferença, enquanto as baterias dos nossos amigos tem os naipes padronizados nós contamos com o bom gosto do nosso ritmista. Somos organizados, porém temos a nossa própria maneira de fazer.

OT: Após o desfile nesse ano você deu uma entrevista falando que esva no aguardo das “porradas dos jurados” mas gabaritou. As notas de 2016 te machucaram muito?
Mestre Rafa: Hoje no carnaval o Mestre de Bateria só tem sucesso perante a sua comunidade se ele entregar nota. Felizmente a minha escola é diferente neste aspecto, mas mesmo assim as pessoas contam muito com o resultado e neste mundo de redes sociais onde cada um fala o que quer você precisa ter a cabeça boa para lidar com tudo isso. Após o desfile eu sempre espero “porrada”, eu nunca sou prepotente achando que a nota está garantida, pois o jurado sempre pode ver alguma coisa não prevista no regulamento. Pode acreditar, se você tira 40 está no céu e um 9,9 é o inferno para o mestre e para a diretoria da escola; graças a Deus nós tiramos 40 juntamente com o Império de Casa Verde e agora é trabalhar para manter a nota.

OT: Vimos um desfile valente da Roseira nesse ano, dava pra ouvir o componente cantando, o que essa comunidade tem de diferente? Em 2018 a expectativa é que aconteça o mesmo pela adesão deles ao samba?
Mestre Rafa: Estávamos machucamos, pois viemos de um 11º lugar em 2016 e precisávamos dar uma resposta, era um desejo mútuo de todos os segmentos. Nosso segredo é ensaio, tanto de canto como de evolução; é praticamente cinco dias por semana ensaiando ou até mais.  Erámos cotados para cair de grupo por conta da correria no barracão, mas as pessoas esquecem que as alegorias representam um quesito só e que dificilmente uma escola gabarita em todos.

OT: Sua bateria foi destaque principalmente pela bossa do opanijé. Para 2018 você prepara algo surpreendente também?
Mestre Rafa: Para 2018 não preparamos nada tão ousado como foi neste ano. Temos duas bossas, uma frase no meio que pode ser chamada de bossa também. Faremos um “apagão” para a escola cantar, num entrosamento com a harmonia. Ao todo devem ser cinco bossas, vamos trabalhar muito para manter a nota, mas se por algum motivo ela não vier tenham certeza de que o show vai ficar.

(Fotos: SRZD)