A Seleção Brasileira sobrou nas Eliminatórias. Ou melhor, a seleção de Tite sobrou. Quando Dunga saiu, o país estava na sexta colocação, com nove pontos em seis rodadas. Tite assumiu e terminou a competição com o Brasil líder absoluto com 41 pontos, dez a mais que o Uruguai, segundo colocado. A disparidade foi tamanha que, mesmo sem as seis primeiras rodadas (quando Dunga era o técnico), Tite teria pontuação suficiente para classificar o país para próxima Copa.

Com o primeiro objetivo alcançado com folga, Tite vai ter novos desafios agora. E não pode ficar amarrado aos jogos das Eliminatórias. Apesar da supremacia brasileira sobre os rivais sul-americanos, isso pouco significa para o mundial do ano seguinte. O melhor exemplo vem da Argentina em 2002. Aquela seleção comandada por Marcelo Bielsa e que tinha jogadores como Batistuta, Sorín, Verón, Zanetti e cia. fez 43 pontos (um recorde) nas Eliminatórias para o Mundial de 2002. Mas fracassou no Mundial da Coreia e do Japão: eliminada ainda na fase de grupos com apenas uma vitória em 3 jogos.

Tite também não pode correr o risco de morrer abraçado com os seus convocados. Precisa estar aberto ao novo. No Brasil, jovens jogadores surgem em questão de meses. Foi assim com Ganso e Neymar que foram preteridos por Dunga na Copa de 2010. Tite, no entanto, parece olhar com carinho para os novos valores que estão surgindo no futebol brasileiro, vide a recente convocação de Arthur, do Grêmio.

Hoje, enxergo que há sete vagas em aberto na Seleção para a Copa de 2018 (contando que ninguém se lesione). A primeira delas está no gol. Vejo Alisson e Ederson garantidos. A terceira vaga está em aberto, mas hoje seria de Cássio. Eu levaria Vanderlei, mas é difícil acreditar que o goleiro santista, que até agora não foi lembrado, seja convocado justamente nessa reta final.

Nas laterais, também enxergo apenas uma vaga disponível. Na esquerda, Marcelo e Filipe Luís estão dentro, apesar das boas atuações recente de Alex Sandro contra Bolívia e Chile. Na direita, Daniel Alves também tem presença garantida. Fagner e Danilo ainda têm chance.

Na zaga, os titulares Marquinhos e Miranda também estão com um pé na Rússia, assim como Thiago Silva. Pelas últimas convocações, a quarta vaga deve ficar entre Jemerson e Rodrigo Caio, embora eu prefira Pedro Geromel. A vantagem do são-paulino é que ele também atua de volante.

No meio, Casemiro, Paulinho, Fernandinho, Willian, Coutinho e Renato Augusto também estão dentro. Se bem que a queda de desempenho de Renato Augusto nos últimos jogos da Seleção é visível. Mas como ele é homem de confiança do Tite, deve estar na lista. Só não sei se chega como titular à Rússia. Com o sexteto garantido, sobrariam duas vagas.  Se continuar repetindo as boas atuações, Arthur tem boa chance. Mas se for vendido para a Europa e não for titular lá, a situação complica. Como meias, Diego, Giuliano e Lucas Lima devem brigar, embora nenhum deles esteja vivendo um grande momento atualmente.

No ataque, Neymar e Gabriel Jesus são titulares indescutíveis. Roberto Firmino vem sendo convocado com frequência também, embora não me inspire muita confiança. Eu vejo duas vagas em aberto, mas acho que Tite conta com o atacante do Liverpool. Por enquanto, é a posição com mais candidatos por vaga: Diego Souza, Douglas Costa, Taison, Tardelli e Luan. Nesse grupo, Diego Souza está em baixa no Sport (além de não ser atacante de origem) e Douglas Costa e Luan convivem com problemas físicos.

Para definir essa lista com os 23 convocados para o Mundial da Rússia, Tite, que está invicto em partidas oficiais pela Seleção, só vai ter mais 4 amistosos. Esse ano, a seleção deve enfrentar em novembro Japão e Inglaterra. Em 2018, o os amistosos serão contra a Alemanha e provavelmente a Rússia. Esses jogos serão importantes para o treinador testar variações no esquema tático e saber com quem pode, de fato, contar. Em recente participação no programa “Seleção Sportv”, Juninho Pernambucano lembrou que em 2014, Dante e Bernard não estavam preparados para serem titulares quando se precisou deles.

Por fim, Tite precisa definir quem vai ser o seu capitão na Copa. Por enquanto, ele optou por fazer um revezamento da braçadeira entre os jogadores. Treze jogadores diferentes já ocuparam esse posto. A experiência pode até ter sido válida para saber quem tem mais espírito de liderança e observar outras características. Mas a definição de um único nome é importante, até para evitar vaidades. Eu acho que ele deveria optar por Miranda ou Daniel Alves. E descartaria logo de início Neymar. No último jogo das Eliminatórias, o camisa 10 ainda mostrou que precisa evoluir ao cair na provocação boba dos chilenos. Neymar já tinha amarelo e, se fosse expulso, perderia a primeira rodada da Copa. Um capitão não pode cometer esse tipo de erro em uma Copa.

Imagens: Leo Correa/AP, Nilton Fukuda/Estadão e Ivan Pacheco/VEJA.com