Semana que vem Marcelo Crivella completará seis meses como prefeito do Rio de Janeiro e podemos dizer que esses seis meses podem ser divididos em dois, não igualmente. Os primeiros cinco meses e o último mês.

Nos primeiros cinco meses, a impressão que tivemos foi de que o Rio não tinha prefeito. A maior reclamação era que Crivella sumiu, não se fazia presente, vivia viajando e nada de muito relevante podia se dizer sobre ele ou seu governo. No último mês, percebemos que temos prefeito e isso não quer dizer que seja bom.

A polêmica envolvendo o carnaval para mim é o menor dos problemas, mas como é da minha área vou falar dele. Não sou desses que só por ser do samba vou mergulhar em defesa desse, participar de protestos na frente da prefeitura vou dizer “Eu me chamo Aloisio Villar e estou em defesa do carnaval”.

Primeiro porque não tenho tanta representatividade nem ego inflado ao ponto de achar que uma declaração dessas faria algum efeito, prefiro deixar para os veículos de carnaval que, infelizmente, em vez de se unirem ficam se alfinetando em redes sociais. Segundo, que não há mocinhos nessa história.

Sou contra o corte de verba, pelo menos para agora, acho que esse corte poderia ocorrer para o carnaval de 2019. É evidente que o país, estado, município, estão em crise e qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade percebe isso, não só à sua volta como no próprio bolso, então não sou contra o corte.

Só acho errado para esse carnaval que já começou, as escolas, semanas depois dos desfiles, já se planejam para o ano seguinte, fazem orçamentos, pagam funcionários… Então é um corte que, sim, dificulta muito as coisas e prejudica pessoas que nada têm a ver com a história. Para o carnaval seguinte, concordo porque as escolas teriam um ano para planejarem, cortarem, se reinventarem.

O que menos concordo é o motivo alegado, para usar em creches. É populista, demagogo, alegação safada e oportunista para jogar a população contra o carnaval e conquistar apoio. Mas o prefeito não é o único vilão da história.

Em 2015, eu participava de um programa feito pra internet e quando foi dito que iriam dobrar a subvenção eu fui o único contra, enquanto prevaleceu o oba-oba no local. Fui contra por toda a crise que o país já enfrentava e por achar que as escolas de samba deviam aprender a caminhar sozinhas, principalmente as do Especial.

Ganharam quadras, ganharam reformas nas que já tinham, vendem enredos, ganham dinheiro de TV, têm nomes, marcas fortes suficientes para se autossustentarem e não passarem pela humilhação de pedir dinheiro para quem não quer dar.

Mas são preguiçosas, são como o adulto que vive da mesada do pai, as escolas do Especial têm plenas condições de viver sem a Prefeitura, mas nunca buscaram isso e agora estão com esse problema.

Vamos ver por outro aspecto, sem paixão. O carnaval feito pelas escolas do Especial em 2017 merece que cada escola receba dois milhões? Um dos piores anos da história do Grupo Especial com acidentes, mortes, desfiles desastrosos como o da Tijuca, que, mesmo fazendo o que fez, não cairia na pista, mudança de regulamento na hora da apuração para não cair ninguém, acréscimo de campeão quase dois meses depois do resultado.

Isso não é um trabalho que traga credibilidade para alguém investir vinte e seis milhões de reais que, na verdade, eram pra ser vinte e quatro porque a Liesa enfiou mais uma escola no Especial sem consultar ninguém, muito menos quem lhe dá dinheiro como a Prefeitura. Ou alguém chegou no Crivella e perguntou:”Bispo, vamos botar mais uma escola, são mais dois milhões, tá?”.

Fora outras questões. Em março, já aparece um monte de gente dizendo que o carnaval do acesso e da Intendente Magalhães do ano seguinte já está decidido, pairam no ar um monte de “lendas” como distribuição de carros para jurados ou 30 mil dólares para subir, quantas e quantas vezes já não ouvimos alguém falar rindo “Olha lá, subvenção saiu, diretor mudou de carro”. Essas histórias são verdadeiras? Não sei, mas para exigir algo não é importante ter credibilidade? Que credibilidade nós do carnaval temos hoje?

Teremos carnaval ano que vem, talvez mais pobre, talvez mais criativo, mas teremos. O problema é essa onda evangélica fundamentalista que toma a cidade com a Universal mexendo seus tentáculos contra as minorias e pra quem não ora por sua cartilha. O Rio de Janeiro, cidade da simpatia, bom humor, liberdade religiosa e mistura de raça e cores, está virando uma ditadura da fé.

Pior do que a situação do carnaval é bater uma chuva em junho, que é muito inferior as de verão, e a cidade ficar debaixo d`agua com o prefeito dizendo que passamos no teste e o secretário se mostrar despreparado e dizer coisas como “nós sabíamos da chuva e não quisemos alertar”.

O carnaval vai saber se virar até porque são todos parceiros e esses mesmos dirigentes que hoje choram e pedem apoio ajudaram a eleger o prefeito, o problema é outro, o buraco é mais embaixo.

Temos que cuidar das pessoas.

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