De vez em quando perguntam para Zico porque ele não treina times do Brasil e ele responde que não teria coragem de enfrentar o Flamengo. Perguntam porque ele não treina o Flamengo e ele responde que não gostaria de ser chamado de burro pela torcida que lhe idolatra.

Ele tem razão, como dirigente passou perto desse drama quando foi vice de futebol no Brasileiro de 2010, um dos piores do clube. Eu vi Junior, um dos maiores jogadores da história do Flamengo, ser vaiado pela torcida quando virou treinador, e Roberto Dinamite perdeu muito da idolatria da torcida do Vasco virando presidente do clube.

Zico está certo realmente. Por muitos anos os rubro negros pediram que ele fosse presidente do Flamengo e ele se esquivou, hoje não pedem mais até porque por mais defeitos que a direção atual tenha no futebol como clube o Flamengo engrenou. Dessa forma Zico, encerra sua participação no Flamengo fazendo apenas aquilo que mais soube fazer, jogar bola.

O fato de um cara ser brilhante como jogador de futebol não garante que seja em outros itens da vida, mesmo que sejam no futebol.

Rogério Ceni não entendeu assim. Tornou-se o maior jogador da história do São Paulo e se aposentou com toda idolatria de sua torcida. Um ano depois da aposentadoria voltou para dirigir o clube.

Não se preparou para isso, não fez cursos, não começou por equipes menores, nem nas divisões inferiores do São Paulo.

Caiu no mesmo erro de Junior, que assumiu o Flamengo poucos meses depois de sua aposentadoria, em 1993. Junior conseguiu manter a idolatria, mas não conseguiu manter a carreira de técnico.

Risco que Rogério Ceni corre. Rogério tem até maior risco do que Junior, que não tinha tantas restrições da torcida adversária quanto Rogério. Rogério não fez como Zidane, muito mais jogador do que ele, e que começou de baixo no Real Madrid, humilde até chegar ao time profissional e ganhar duas vezes a Champions League. Mesmo ganhando tudo, isso ainda é contestado.

Rogério não teve essa base, continua sofrendo restrições dos adversários e não consegue emplacar no São Paulo. Se sair do São Paulo, dificilmente emplaca outro clube do mesmo nível por essa restrição e pelo trabalho fraco no Morumbi. Foi eliminado da Copa do Brasil, da Sul-Americana de forma vexatória, do Paulista para o arquirrival Corinthians, e começa muito mal no Brasileiro.

Além dos resultados, mantém postura arrogante nas entrevistas e se meteu de forma errada na polêmica do fair play do Rodrigo Caio e na declarações de Lucão. Muitos problemas, muitas dúvidas.

Se é qualquer outro treinador já teria sido demitido, mas a idolatria lhe mantém no cargo. Até quando? Não sabemos, mas o fato é que o trabalho não é bom e um dos maiores vencedores do futebol brasileiro chega a junho quase sem pretensões de títulos.

É preciso discernimento para São Paulo e Rogério sobre até onde ir para não manchar a idolatria. A volta do ídolo até agora é um amargo regresso.

Zico tem razão, que Rogério também tenha.

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