Com a inversão dos quesitos na série esse ano, finalmente hoje começaremos a analisar os quesitos de chão, meus favoritos.

Para começar, olhemos os quatro cadernos de Bateria e a já característica chuva de notas 10. Mas neste ano louco a chuva de notas 10 nem foi tão discrepante comparado a outros quesitos.

Módulo 1

Julgador: Jorge Gomes

Notas

  • Tuiuti – 9.8
  • Grande Rio – 9.8
  • Imperatriz – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 9.9
  • Ilha – 10
  • São Clemente – 9.8
  • Mocidade – 9.9
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Portela – 10
  • Mangueira – 10

Um bom caderno de um julgador novato. Todos os descontos foram muito bem justificados, com detalhes das falhas apresentadas que permitem sua identificação e correção futuramente. Além disso, usou a falta de ousadia como uma das justificativas de São Clemente e Mocidade, mesmo assim acompanhados de outros problemas pertinentes.

Chamo a atenção pela grande quantidade de problemas apontados em surdos de 3ª: Tuiuti, Grande Rio, Sâo Clemente e Mocidade. Além disso, houve, ainda segundo o julgador, desencontros entre surdos, caixas e repiniques na Tuiuti, na Grande Rio e na São Clemente.

Módulo 2

Julgador: Sergio Naidim

Notas

  • Tuiuti – 9.9
  • Grande Rio – 9.9
  • Imperatriz – 10
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Ilha – 9.9
  • São Clemente – 9.9
  • Mocidade – 10
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Portela – 10
  • Mangueira – 10

Naidim normalmente é econômico nos descontos e esse ano não foi diferente. Sete notas 10 e o resto de 9.9. Mais uma vez problemas no surdo de 3a aparecem, dessa vez na Grande Rio, na Ilha e na São Clemente.

A única justificativa que me chamou um pouco mais a atenção foi a da Grande Rio: “A bossa do baião foi feita um pouco distante do módulo, ou seja, em termos comparativos não houve tanta criatividade.” Mas, espera aí. Ele não ouviu a bossa, mesmo que distante? Isso não satisfaz o critério de criatividade? Tem que ser na frente do julgador?

De resto um problema nas caixas embaixo da Tuiuti e da São Clemente e no tarol da Ilha. Nessas 3 ele escreveu as cifras relativas ao problema.

Nas considerações finais o julgador reclamou que o som das vozes nas caixas de som encobre todos os instrumentos, prejudicando a percepção geral. Talvez aqui esteja a explicação para a justificativa da Grande Rio.

Ele ainda nas considerações finais deu opinião de que o público poderia se emocionar mais caso a bateria pudesse ser ouvida mais nitidamente e finalizou dizendo que, na opinião dele, o andamento da performance deveria ser mais devagar, pois facilita a execução instrumental, o canto e a dança.

Sobre isso interessante notar que as duas baterias mais corridas esse ano, Tuiuti e Grande Rio, foram canetadas por este julgador.

Módulo 3

Julgador: Cláudio Luiz Matheus

Notas

  • Tuiuti – 9.8
  • Grande Rio – 9.9
  • Imperatriz – 10
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Ilha – 10
  • São Clemente – 9.9
  • Mocidade – 9.8
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Portela – 10
  • Mangueira – 9.9

Antes de comentar as notas e justificativas, cabe uma observação sobre o caderno disponibilizado. As folhas de observações finais desse caderno não segue a ordem de todos os outros. A folha das observações finais de segunda-feira sequer foi digitalizada e a folha de observações finais do domingo está rabiscada e escrita a mão em cima “observações finais”. Que eu lembre, é a 1a vez que uma folha simplesmente não é digitalizada, mesmo quando em branco.

Agora sobre o julgamento em si, quem lê meus textos sobre julgamento sabe que eu peço a troca de Cláudio Luiz há algum tempo, apesar de ser um dos julgadores mais antigos. Justificativas incompletas e arbitrárias sempre aparecem aos montes.

Esse ano não foi diferente e minhas reclamações contra ele permanecem as mesmas dos outros anos. As justificativas são muito curtas e na maior parte das vezes não explicam exatamente o que ocorreu. Olhemos, uma a uma.

Tuiuti: “Entrada irregular e vacilante no 2° verso ‘Ê Bahia…’ ‘Flam’ dos tamborins no trecho ‘mas raiou o sol'”.

Nada contra a justificativa do flam, mas “entrada irregular e vacilante” de novo? Além de altamente vago, o que se define por entrada imprecisa? Quais naipes entraram errado (afinal, houve uma ‘entrada imprecisa e vacilante’). Qual efeito isso causou? Nada sobre.

Grande Rio: “Na convenção entre tamborins e surdos do trecho ‘e lá vou eu’ (1° refrão) a resposta dos surdos soa imprecisa.”

Essa justificativa está no limite do aceitável. Ok, foi um problema nos surdos. Mas o que causou essa imprecisão? Entrada em tempo errado? Falta de força na marcação? Qual tipo de imprecisão foi percebida?

Vila Isabel: “Convenção pouco criativa e de difícil definição entre as peças no 1° refrão (‘Vila azul que dá o tom’)”.

Esse é o tipo de justificativa que me passa a impressão “quero tirar um décimo arbitrário, deixa eu criar um motivo”. As justificativas de falta de criatividade sempre são complicadas, por ser algo muito subjetivo. Esse ponto já foi abordado em vários anos nessa série. Porém o que seria difícil definição entre as peças? São as da “cozinha” (surdos e caixas)? Ou as leves (tamborins, chocalhos e agogôs)?

É muito raro e difícil, ainda mais no nível atingido pelas baterias no Grupo Especial, haver uma confusão tão forte entre instrumentos tão diferentes entre si como surdos e tamborins. Então, por que não detalhar mais a “dificuldade de definição”? Fica até difícil da escola acertar o problema para os anos futuros.

São Clemente: “Na convenção do trecho ‘um palacete’ em que há um diálogo entre as peças agudas (caixas e chocalhos) fica sem marcação, perdendo-se a definição rítmica.”

Aqui, cabe uma pergunta de leigo e peço a ajuda dos leitores entendidos de bateria: a marcação da bateria não é feita pelo surdos? A convenção não é de caixas e chocalhos? Então como pode haver um problema de marcação em uma convenção entre caixas e chocalhos?

Então não pode haver nenhuma bossa com a silenciação dos surdos, porque ficará sem marcação?

Mocidade: “Há um momento de pergunta e resposta entre tamborins e surdos que fica sem sincronia, como se não estivessem tocando juntos. O desenho inicial dos tamborins se mostra complexo, causando o efeito ‘flam’ que vai se ajustando conforme se avança na frase.”

Olhando historicamente as notas e justificativas deste julgador para a Mocidade eu fico com uma ligeira impressão de perseguição. Porém esse ano, foi a melhor justificativa do Claudio Luiz Matheus na qual ele detalhou onde estavam os problemas despontuados.

Mangueira: “Faltou molho e criatividade. Só se ouve os surdos, as caixas e tamborins fazendo mesmo desenho.”

De novo o “faltou criatividade”. É muito complicado comentar isso. Particularmente acho que, especialmente em bateria, isso teria que ser revisto ou, pelo menos, especificado. O que seria criatividade? Os paradões da bateria da Mangueira no “rogai por nós” (que alias ficou ótimo) não se aderem ao conceito de criatividade? É uma questão espinhosa.

Módulo 4

Julgador: Philipe Galdino

Notas

  • Tuiuti – 10
  • Grande Rio – 9.8
  • Imperatriz – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Salgueiro – 9.9
  • Beija-Flor – 10
  • Ilha – 10
  • São Clemente – 9.8
  • Mocidade – 10
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Portela – 10
  • Mangueira – 10

Mais um julgador novo, mais uma chuva de notas dez. No caso foram nove, ou 75% das notas, inclusive a única nota dez da Tuiuti no quesito. É raro uma bateria melhor no fim do desfile. Pelo contrário, o normal é o cansaço atrapalhar as performances no 4° módulo. Mais interessante é que das três baterias despontuadas duas delas foram despontuados em 2 décimos.

Pelo menos, as 3 escolas receberam justificativas nos quais dá para se entender o problema ocorrido. Na Grande Rio, mais uma vez se justificou a falta de sonoridade dos surdos de 3ª e falta de uniformidade nos naipes agudos, segundo o julgador pelo ritmo extremamente acelerado. No Salgueiro houve uma corrida dos surdos de 3ª no “tinge essa avenida de vermelho” e na São Clemente houve embolação dos surdos de 1ª e levada reta das caixas, sem “pegada”.

A ultima justificativa das caixas ate pode ser discutível, mas fica no limite do aceitável pela subjetividade.

Do quesito como um todo, esse ano nem irei reclamar do excesso de notas altas no quesito, porque essa foi uma tônica de todo o julgamento e bateria esse ano não ficou muito diferente de alegorias e adereços, por exemplo. Ou seja, esse ano o problema foi generalizado.

Semana que vem voltaremos com Evolução. Ai, ai, ai…

[N.do.E.: não sou especialista em bateria e queria a ajuda dos leitores, mas lendo estas justificativas me deu a impressão que os jurados cobraram os chamados “desenhos” no surdo de terceira. O que, a meu ver, é algo bem complicado. PM]

Imagem/Vídeos: Ouro de Tolo

[related_posts limit=”3″]

One Reply to “Justificando o Injustificável 2017 – Bateria”

  1. Eu concordo que haja muito mais subjetividade que o aceitável. Porém, visto o pavor que foram as justificativas e notas do ano passado, acho que as desse ano foram bem ok. Penalizaram bastante a questão da correria, o que é bem louvável.

    Sobre as marcações, acho que ele quis dizer que tocando sozinhos, chocalhos e tamborins atravessaram sem o auxílio das marcações. Porém, se não me engano, no trecho falado do samba não tem bossa alguma.

Comments are closed.