(por Fellipe Barroso)

Seguindo os moldes do “Guia Prático da Sapucaí – Versão 2017”, e atendendo a alguns pedidos, deixo aqui algumas dicas para quem pretende assistir aos desfiles na Intendente Magalhães.

Estão baseadas nos poucos anos em que acompanho a folia de lá ao vivo, indo sempre às terças-feiras, que já foi o dia da última divisão do carnaval carioca mas acabou dando espaço à Série B (Antiga Série C, antes da fusão das Séries A e B ocorrida para o carnaval de 2013). Na prática, o terceiro grupo.

Parte I – Desfilantes

Nunca é demais lembrar que o trabalho de um ano estará em avaliação. Portanto, não atrapalhe!

Não é porque estes desfiles possuem quase nenhuma visibilidade junto à grande mídia que se trata de uma “terra livre”. As Escolas serão avaliadas pelos mesmos quesitos e com o rigor adequado à realidade de cada grupo. Se você, leitor, quer pular livremente o seu carnaval, opte por um bloco. Respeito às Agremiações, suas bandeiras e histórias, é sempre bom!

Sou mais um espectador do que um desfilante, mas já tive minhas experiências neste outro palco carioca. Assim sendo, ficam as recomendações que o Migão já deixou no “Guia…”, e acrescento como fiz para participar de alguns desfiles.

1 – Rumo ao “desconhecido”…

Então você chegou à Intendente Magalhães, e resolveu que vai desfilar naquela Escola simpática que há tempos não dá as caras na Sapucaí, e cujo o samba do ano não sai da sua cabeça?

Ok, dirija-se à área de armação da Escola, na própria Intendente, e verifique junto aos Diretores e Presidentes de Alas se há alguma fantasia disponível. Havendo, sendo do seu gosto (Fundamental para que o desfile seja divertido), e servindo bem (Mesmo com alguns ajustes), caia na folia!

2 – Carência de mão de obra

Algumas Escolas podem carecer de uma força maior nas horas que antecedem seus desfiles pelos mais diferentes motivos. Assim sendo, pode haver “vagas” que vão de Diretor de Harmonia a empurrador de carro!

Exercendo qualquer uma destas funções, ou desfilando fantasiando, tenha sempre em mente de que é um concurso. Problemas de última hora podem acontecer, e, se você se comprometer, ainda que “em cima da hora” (que também desfila na Intendente… ok, não resisti!), seja sério na função que lhe foi delegada.

Esta seriedade implica em conhecer adequadamente o papel a ser desempenhado. Sim, a Escola pode estar precisando muito de alguma mão de obra específica de última hora para auxiliar na condução de seu desfile; mas se você nunca fez isso na vida, não escolha este momento para sua estréia.

3 – Respeite as determinações da Escola

Este item completa o anterior, e é válido para o fato de nas últimas divisões, por exemplo, homens completarem a ala das baianas.

Das muitas histórias do carnaval, sabe-se que esta é uma proibição para lá de antiga, mas já vi muitos bigodes e gogós no lugar das simpáticas senhoras.

Nunca pesquisei ou me esclareci se há alguma “tolerância” para isto de fato, mas, se Escola assim determinou e você, leitor homem, foi cogitado de vestir as peças sagradas do vestuário da baiana, siga em frente, e não discuta!

Tome sempre o cuidado, claro, de averiguar junto a outras pessoas da Escola sobre a estas determinações para não pagar de “intruso que fez besteira”.

Parte II – Para Quem Vai Assistir

Os desfiles na Intendente Magalhães são gratuitos. Ali é uma grande festa de rua aberta a todo e qualquer público que queira ir lá para desfilar, assistir, ou simplesmente passear. Quem me dera os desfiles no Sambódromo tivessem este clima de “quintalzão”…

1 – O complexo

A Estrada Intendente Magalhães fica fechada ao trânsito desde seu início, um imenso portal escrito “Intendente Autoshopping” devidamente “adornado” por um supermercado Prezunic (À esquerda) e uma igreja “A luz do mundo” (À direita), que faz esquina com as Ruas Cândido Benício, Domingos Lopes e Ernâni Cardoso.

Poucos metros adiante do portal começa a área de armação das Escolas, seguida da concentração, e por fim, um pouco antes da quadra da Tradição, o início da pista de desfile.

A área de armação vai além da Intendente, ocupando a pista lateral direita da Ernâni Cardoso, esta com trânsito parcialmente impedido para dar espaço às alegorias.

Há o sambódromo, montado com arquibancadas de metal e madeira, banheiros químicos, cabines de jurados e cabines de imprensa (na mesma altura que as arquibancadas); e entorno do sambódromo, composto pelas casas dos moradores e todo tipo de barraquinha vendendo em sua esmagadora maioria comida e bebida.

2 – Assistindo aos desfiles

As arquibancadas são estruturas montadas em contêineres, dispostos em sequência e com algum espaçamento entre eles, o que permite o acesso dos espectadores. Possuem piso em madeira, com quatro degraus, o que não deixa as pessoas muito altas e as aproxima ao máximo dos desfiles.

Não havendo catracas ou muito controle de acesso, basta “conseguir entrar”, e buscar um lugar vago. As arquibancadas muito cheias possuem algum controle de acesso feito por funcionários credenciados e com apoio da Polícia Militar. Nada muito violento. Aliás, costuma ter mais gente se espremendo entre as arquibancadas do que sentado nelas. Vai entender…

Há outras partes da pista sem arquibancadas, apenas com grades móveis, onde se pode assistir a tudo de pé. Algumas delas são completamente tomadas por moradores que “montaram acampamento” em seus quintais, com cadeiras de praia, plástico, ou similares, mesinhas, muita comida, bebida, televisão e até jogatina (de tabuleiro a jogo de cartas).

Não existe um recuo para a bateria. Uma vez que ela deixa o box no início da pista, seguirá na mesma posição dentro da Escola até o final do desfile.

O contato visual e sonoro com as Escolas é excepcional. Na Intendente cada aplauso, vaia, ou grito de qualquer coisa é nitidamente ouvido na pista. Há muita brincadeira entre desfilantes e espectadores. Isto torna o desfile ainda mais divertido. O som da avenida é distribuído por caixas ao longo de seu percurso, mas não são ensurdecedoras como as da Sapucaí.

Entre uma escola e outra, a pista de desfiles é “invadida” em sua maioria por crianças. Tudo é muito respeitoso, e ao menor sinal todo mundo libera a avenida para a passagem da próxima Escola.

3 – Curtindo o entorno

O entorno do sambódromo é formado por uma multidão de pessoas que simplesmente foi lá para brincar o carnaval à sua maneira. As dezenas de barraquinhas com comidas e bebidas podem saciar a fome de todos os gostos (sim, dá para fugir dos churrasquinhos e cachorros quentes – tipo “podrão” – dominantes. É só procurar!).

Muitas pessoas andam fantasiadas, seja com trajes tipicamente carnavalescos, ou restos de fantasias já usadas pelas escolas que desfilaram. É possível pegar muito material de graça por lá! Para quem trabalha com artes de forma geral (ou mesmo com carnaval), a Intendente é um mercado gratuito muito válido!

Infelizmente, por ser uma rua, há muitos outros sons além dos desfiles, desde os ambulantes até os próprios moradores, que tocam de tudo (samba, pagode, axé, sertanejo universitário, e claro, funk). Nunca vi estes outros sons atrapalharem as Escolas desfilantes.

4 – Chegando ao local

Pode até ser que o leitor que possua carro ache conveniente, caso more muito longe, se conduzir ao local em seu veículo particular. A pessoa que vos escreve nunca recomenda isso por entender que carnaval é período de diversão em que rolam bebida alcoólica e cansaço físico. Assim sendo, o transporte público coletivo é sempre bem vindo.

Além de diversas linhas de ônibus que passam próximas (na “porta”), há o sistema BRT com a estação Campinho. É sempre bom se certificar dos horários de funcionamento de todos os modais que forem utilizados para se chegar ao local no intuito de, ao se querer ir embora, não ter que esperar amanhecer para retornar ao lar.

O trem deixa na estação Madureira, a uma distância caminhável.

5 – Apetrechos a serem levados

Não havendo o rígido controle da Marquês de Sapucaí, se o leitor quiser levar uma geladeira para o local, não haverá muito problema, desde que ele saiba como carregá-la e energizá-la. Apenas acredito que não conseguirão entrar na arquibancada com uma Brastemp nos braços…

Capas de chuva, bolsas impermeáveis e material de proteção contra as águas do céu são bem vindos. Assim como na Sapucaí, exclua os guarda-chuvas de sua bagagem. Eles incomodam na Intendente também.

6 – Se for desfilar

Basicamente siga as recomendações da parte I.

Não há guarda-volumes ou qualquer outra estrutura para se guardar um lugar ou fantasia na arquibancada enquanto se desfila. Se estiver em grupo, os amigos cuidarão disso. Estando sozinho, saiu da arquibancada, perdeu o lugar!

7 – Aprenda os sambas

Faço minhas as palavras do Migão no “Guia…”:

Procure ouvir os sambas antes do desfile. Cante com a escola. OCD está à venda nas lojas “D´Samba” existentes em diversos shoppings.

Muitas pessoas, pelas circunstâncias já descritas anteriormente, nem conhecem a Escola pela qual estão desfilando. Não seja esta pessoa. Respeite as Agremiações!

8 – Telefonia/Internet

Mantenha seu plano de Internet móvel em dia, ou usurpe o Wi-fi do amigo que mora por perto! Melhor que a Sapucaí, como vêem.

9 – Divirta-se

Cante, brinque, respeite. Seu direito começa onde termina o do outro, lembre-se sempre.

10 – Onde Fellipe estará

Grupo de Acesso na frisa do setor 5. Grupo Especial na arquibancada do Setor 6. Terça-feira gorda na Intendente Magalhães em frente à loja Flay-Rio (Temporariamente hospedado na casa da amiga que mora próximo a este local).

(colaborou o editor chefe Pedro Migão)

Imagens: Fellipe Barroso/Ouro de Tolo

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16 Replies to “Guia Prático da Intendente Magalhães – 2017”

  1. Meu tio uma vez na Intendente atuou como eletricista.

    A escola em qustão precisa de um e meu tio vinha passando e ajudou o desfile.

    1. De acordo com um amigo deste blog, ele pode ser carnavalesco. Afinal de contas, basta iluminar bem qualquer coisa e a nota 10 é certa (risos).

  2. Me senti contemplado! Muito legal o guia! Em 2015 eu julguei Conjunto nos grupos C e D e várias escolas tinham homens na ala das baianas. Era até engraçado que eles passavam nos módulos olhando pro chão ou então de raio de olho para que a gente não percebesse. Certamente não sabiam que essa punição não cabia aos julgadores. Interessante dizer que não lembro que alguém foi punidos por esse fato, mas sim por ter menos baianas que o mínimo.

    1. Não sabia que tinha sido jurado. Eu cheguei a ser convidado em duas oportunidades – uma foi 2014 – mas minhas ligações com a Acadêmicos do Dendê impediram que eu aceitasse.

      1. Fui no ano que a Lierj pegou os grupos. Muitos que foram meus companheiros lá e na série B estão hoje na série A. Foi um interessante estágio para todos.

  3. Uma outra lembrança que tenho é que no dia da série D (dia que caiu aquele dilúvio sobre Viradouro e Mangueira no Especial) teve um cara que tocou surdo em no mínimo metade das escolas. Era muito engraçado, pois acabava o desfile e eu via ele voltando correndo fantasiado e depois tava na escola seguinte e sempre passava encarando e sorrindo pro módulo de julgadores.

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