Eu já disse aqui algumas vezes que o homem na vida pode mudar de casa, de carro, de emprego, país, até de sexo, mas nunca de time de futebol, porque isso é um crime de lesa pátria, coisa de pária.

O torcedor leva o amor por seu clube até as últimas consequências. É provavelmente o primeiro e o último amor de sua vida e, por ter tanto amor envolvido, ele não consegue entender que tem gente que leva como profissão o que eles levam como amor.

Antigamente era comum vermos jogadores que passavam toda a carreira em um time só, mas, com o tempo, o dinheiro envolvido no futebol aumentou demais e os jogadores começaram a trocar de clubes, seja pelo mercado exterior quanto para outros clubes do Brasil.

Como fazer um torcedor entender que o jogador de seu clube tem que garantir seu futuro, da família e assim pode vir a aceitar proposta de outro? Pior ainda, quando de repente o conforto econômico pode vir de um rival?

Não é fácil. Até hoje lembro da raiva que senti quando Bebeto trocou o Flamengo pelo Vasco. Era mais raro algo assim ocorrer em 1989 então por isso a repercussão foi gigantesca. Depois disso, algumas vezes ocorreram trocas de jogadores de um rival para o outro, mesmo assim ainda raras.

De cara lembro de Gottardo indo do Botafogo para o Flamengo no início dos anos 90, Juninho Paulista de Vasco para Flamengo no início da década passada e casos com jogadores menos expressivos como Wellington Silva do Flamengo para o Fluminense em 2013 e Rafael Vaz do Vasco para o Flamengo no ano passado.

Para 2017, temos a troca de um rival para o outro, Michel Bastos indo do São Paulo para o Palmeiras, mas a torcida do São Paulo não parece nem um pouco preocupada com essa “traição”. O caso que mais chama atenção nesse começo de ano é um tipo de mudança mais comum, quando o jogador idolatrado por um clube vai para o exterior e depois volta ao país para jogar em um rival.

É o caso de Darío Conca. Conca, apesar de ter começado no Brasil jogando pelo Vasco, virou ídolo no Fluminense e agora volta ao Brasil para jogar no Flamengo.

Apesar de ser cada vez mais comum casos assim, confesso que ainda me causa estranhamento. Nunca imaginei que o Conca um dia pudesse jogar no Flamengo por toda a história que fez no Fluminense. Se eu fosse torcedor do Tricolor estaria, sim, magoado, confesso, mas como eu disse, o jogador é profissional. Amadores, apaixonados, somos nós.

Como eu disse no começo da coluna, o jogador tem sim que pensar em seu lado, na sua família. A vida útil de um jogador de futebol vai mais ou menos até 35, 36 anos e é dessa fase da vida, do que ele consegue ganhar de dinheiro que constrói seu futuro. Quantos e quantos jogadores não agiram “apenas” por amor em suas vidas, sem pensar no lado financeiro e acabaram na rua da amargura? Algum clube ou torcedor que teria lhe chamado de mercenário se trocasse de time pensaram nesse jogador?

Por outro lado tem que pensar se vale a pena também. Esse dinheiro que Conca receberá do Flamengo em nada influenciará em sua vida até porque quase todo seu salário virá da China. Valerá a pena para ele então? Com isso, perdeu a idolatria da torcida do Fluminense e para ser do Flamengo, no mínimo terá que ser protagonista de um título brasileiro.

Não é fácil pensar pelo jogador de futebol, as decisões que tem que tomar na vida. Melhor ficarmos como torcedores mesmo e celebrar esses momentos que nossos ídolos dão, trocando de clube ou não.

Esses momentos que nos fazem amar futebol.

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