No próximo sábado (17 de dezembro) teremos o lançamento do CD do carnaval paulistano na Fábrica do Samba 1. Diferente do Rio, aqui em São Paulo essa festa vira toda a madrugada e cada escola se apresenta com sua própria bateria e com sua comunidade também realizando números artísticos.

As obras que vão embalar este evento, os ensaios técnicos e no dia do desfile já estão disponíveis na versão oficial; assim já podemos fazer as análises. Além dos critérios da liga (adequação ao enredo e riqueza melódica), também considero a poesia do samba e o potencial que ele apresenta de empolgar na avenida.

Vamos aos sambas:

Tom Maior

Intérprete – Bruno Ribas

O carnaval será aberto por um bom samba sobre a cantora Elba Ramalho. O enredo e a ordem dos fatos são muito semelhantes ao da Grande Rio de Ivete Sangalo: começa com a infância de Elba no nordeste, as festas, as crenças e as referências, depois segue com a carreira de atriz e o sucesso como cantora;

A segunda do samba é bem inteligente, com trechos consagrados de músicas da intérprete, principalmente o “Estou de volta pro meu aconchego” em um trocadilho com o retorno da escola para o Grupo Especial.

Samba forte, de melodia linear e com uma cadência nordestina, tudo a ver com o tema.

Nota – 9,9

Mocidade Alegre

Intérpretes – Tiganá e Ito Melodia

Uma escola gigante do nosso carnaval contará seus 50 anos de uma forma muito perspicaz, pois fará o encaixe do jubileu com o lema de sua presidente e o espirito do sambista passeará pelos conceitos vitória, da luta, da força e da união.

A dupla de cantores deu a energia necessária para este samba, que segue fielmente a sinopse, mas que tem bons trechos poéticos na primeira e tem dois refrãos valentes, na segunda o ponto forte é o trecho do samba exaltação “Lá vem ela, simplesmente poesia…”

Samba que diz respeito ao componente, com certeza será muito cantado.

Nota – 9,9

Unidos de Vila Maria

Intérprete – Clóvis Pê

Uma oração em pleno Anhembi. A homenagem aos 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida será cantada em um samba focado em louvar os milagres da santa e devoção de seus fiéis.

A adequação à sinopse é impecável, mas não há muita poesia pois é um enredo que exige fidelidade histórica; mesmo assim penso que na segunda onde se cantam promessas e romarias feitas a Nossa Senhora poderíamos ter mais emoção.

A melodia é muito boa no refrão do meio, mas na segunda pode arrastar na avenida.

Nota – 9,8

Acadêmicos do Tatuapé

Intérpretes – Celso Mody e Dominguinhos do Estácio

O Zimbabwe será cantado pela atual vice-campeã. A escola determinou para a ala de compositores que o samba deveria ser “levanta chão” e o objetivo foi alcançado. A obra é contagiante e com certeza vai proporcionar um desfile valente e animado.

A melodia é ótima, o tempo todo deixa o samba lá no alto. O problema é a letra, pois não diz muita coisa e possuí diversas frases que se encaixariam em muitos outros sambas afro.

Mesmo assim passará muito bem no Anhembi na condução do Celsinho, que foi bem demais em 2016.

Nota – 9,9

Gaviões da Fiel

Intérprete – Ernesto Teixeira

Os Gaviões não tem tido boas colocações nos últimos carnavais, mas em samba enredo as notas são ótimas. O veterano Ernesto Teixeira entoará uma obra sobre os migrantes que construíram e ajudam São Paulo a crescer a cada dia.

O samba é no estilo Gaviões: segue a sinopse, tem a melodia reta e agradável de se ouvir. É feito para tirar 10 dos jurados, mas não é tão empolgante e não tem muita graça de se ouvir; no grau comparativo fica abaixo das melhores.

Nota – 9,8

Acadêmicos do Tucuruvi

Intérprete – Alex Soares

O artista de rua será cantado pela Tucuruvi em um samba que tem tudo a ver com o enredo. A melodia é bem sofisticada; a primeira e a segunda preparam bem para o refrão e em alguns versos possuí pequenas variações que a enriquecem.

Contando a história fielmente, o samba ainda procura colocar um pouco de poesia como em “O tempo traz do vento a poesia”. Só espero que o júri não desconte pontos por causa do refrão que termina com o “É nóis Tucuruvi”. É uma licença poética que tem tudo a ver.

Assim como em 2013 e 2014 a Tucuruvi tem um dos melhores sambas do ano.

Nota – 10

Águia de Ouro 2017

Intérpretes – Douglinhas e Fernandinho SP

Temos aqui o samba mais polêmico do ano, contando São Paulo e Rio de Janeiro. O samba sobre os nossos queridos pets foi encomendado pela escola e a citação a Luísa Mell gerou uma chuva de críticas. A letra foi melhorada, ao invés de “como diz Luísa Mell, protejam todos os animais” teremos “como faz Luísa Mell, defendam todos os animais”, pois na anterior ela parecia o santo protetor deles.

Quanto ao samba em si eu poucas vezes vi um refrão principal tão melhor que o restante do samba. Após os ótimos primeiros versos que são contagiantes a obra se arrasta na primeira e só sai do abismo na transição para o animado refrão do meio, mas na segunda cai muito de novo.

Esse é o típico samba que os componentes só cantam o refrão e a harmonia será duramente despontuada.

Nota – 9,7

Mancha Verde

Intérprete – Freddy Viana

Muitas vezes um enredo original não possibilita muitos recursos a ala de compositores. É o que acontece com a homenagem aos personagens importantes da história chamados de José.

Não temos uma melodia linear, tampouco que cresça para o refrão; em alguns trechos a transição não acontece, principalmente na segunda. A letra também tem repetições de palavras e pouca criatividade nas rimas.

Como um grande fã dos sambas da Mancha Verde, eu esperava bem mais.

Nota – 9,7

Unidos do Peruche

Intérprete – Toninho Penteado

A cidade de Salvador possibilita grandes sambas; tanto que a safra do Peruche foi a melhor do ano e na final o presidente havia escolhido outra obra (também sensacional), mas foi vencido pelos segmentos na votação.

Não falta nada ao samba, a letra corresponde a sinopse e é bem escrita; já a melodia é contagiante e o ritmo acelerado tem tudo a ver com os versos. Na versão concorrente havia uma falha melódica na entrada da segunda que foi corrigida.

É o melhor samba do ano na minha opinião. Será um verdadeiro sacode no Anhembi.

Nota – 10

Império de Casa Verde

Intérprete – Carlos Júnior

Clamando pela paz universal chega a atual campeã com um bom samba. A obra tem a pegada marcante da “Caçula do Samba”: samba descritivo com variações melódicas, nada de passar toda a primeira ou a segunda de maneira linear.

O samba cresce no refrão do meio e no final da segunda; além disso as transições são muito bem feitas. Com certeza passará muito bem no dia, mas na hora de ouvir no CD falta aquele algo a mais que dê a vontade de ouvir várias vezes.

Nota – 9,9

Dragões da Real

Intérprete – Renê Sobral

Os compositores tinham uma tarefa difícil aqui, pois além de “Asa Branca” ter sido eternizada por Luiz Gonzaga como uma das maiores canções do país ela é triste – portanto difícil de carnavalizar. Mas no meu modo de ver o resultado foi muito bom.

O samba passa pela lamentação, mas tem uma vibração de esperança em vários versos, na primeira, no refrão do meio e na segunda, que aliás entra muito bem com o “Êêê saudade, que invade o meu coração”; em nenhum momento o samba pede a força e na estrofe final vem o ápice para o refrão principal.

Sem contar que Renê Sobral é um dos grandes do nosso carnaval e o samba possibilita ótimas bossas para a bateria.

Nota – 10

Vai Vai

Intérprete – Wander Pires

Potencial de empolgar esse samba tem, pois na final foi um sacode histórico. Lá no Vai Vai todos os arredores ficam lotados de pessoas na rua e não havia dúvida que esta obra venceria para homenagear “Mãe Menininha do Gantois”.

O engraçado é que, ao contrário da maioria, esse samba tem pegada na primeira e na segunda, mas no refrão do meio ele desce ao invés de subir. Isso me incomoda um pouco.

Outra preocupação é com o intérprete. Claro que o Wander Pires é um monstro, mas esse samba parece acelerado demais para o estilo dele.

Nota – 9,9

Nenê de Vila Matilde

Intérprete – Agnaldo Amaral

A Vila exalta Curitiba em um samba clássico para enredos CEP. O símbolo da escola (Águia) encontra o animal símbolo do local (Gralha azul) e mostram a natureza da cidade, contam a história dos negros e imigrantes e exaltam o exemplo que o lugar é. 100% clichê.

Mas isso a parte o samba é muito correto, fiel à sinopse e razoável melodicamente. O refrão do meio tem uma entrada com uma boa bossa no CD e na parte do “Futuro, qualidade e educação” também dá para a bateria brincar.

Agnaldo Amaral tem um vozeirão para fazer esse samba passar firme na avenida.

Nota – 9,8

Rosas de Ouro

Intérprete – Royce do Cavaco

“Vem saborear, vamos brindar, um novo dia”. Tem forma mais legal de terminar um carnaval do que com um samba leve e muito bem cantado por esta lenda chamada Royce do Cavaco? A Roseira busca voltar ao topo e para isso nos deixará com água na boca com os maiores banquetes da história.

Ao contrário dos outros sambas que eu dei 10, esse não é tão forte nem acelerado, mas é no estilo dos sambas imortais da escola: gostoso de ouvir, parece que flutua. Além disso é construído, a primeira é rica melodicamente e cresce para o refrão do meio com seus atabaques, na segunda volta o ritmo da primeira e no final prepara o refrão principal.

Sairemos do Anhembi com vontade de voltar logo para 2018.

Nota – 10

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2 Replies to “A safra de sambas do carnaval de São Paulo”

  1. Os sambas da Vai-Vai, Dragões, Vila Maria, Peruche e Rosas de ouro são os melhores, o G-5 deste ano.De fato a safra 2017 superou a de anos anteriores. Parabéns São Paulo.

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