Chegou a hora de analisar os enredos das escolas que desfilam na sexta. Temos de tudo: biográfico, auto-homenagem, religioso, afro, regional, cultural e animal; por isso vamos entender se cada uma dessas histórias será bem contada no Anhembi.

Tom Maior

Enredo – Elba Ramalho conta em oração o folclore do nordeste – Toque sanfoneiro forró, frevo e xaxado.

A escola que abre o carnaval precisa de uma boa história para contar e encaminhar o desfile, e acho que pode dar certo. Elba Ramalho terá sua vida contada em 1ª pessoa, como se ela a descrevesse para o sambódromo – é o efeito Bethânia surgindo…

Ao ler a sinopse você se depara com uma poesia. O carnavalesco optou em “direcionar” o samba com termos que devem estar presentes para um enredo desenvolvido de uma maneira óbvia, mas coerente.

Começa na infância, lá no sertão da Paraíba, lembrança da terra, das festas tradicionais do local e da religião em que todos se apegam nos momentos difíceis. Depois chega na carreira de Elba, com seu início nos palcos do teatro até explodir como cantora; termina na sua coroação no carnaval paulistano.

Análise – Enredo cronológico e fácil de entender, certamente o carnavalesco Cebola nos trará essa temática com alguns tons criativos, como ele sempre faz. Espero por um bom desfile.

Mocidade Alegre

Enredo – A Vitória vem da luta, a luta vem da força e a força… Da união!

Grande potência da década, a “Morada do Samba” decidiu contar sua própria história baseada no lema da presidente Solange, que intitula o enredo. Mas como misturar os elementos desta frase com os 50 anos da escola?

Na sinopse esse mistério é resolvido. Aliás, nesse quesito a Mocidade sempre deu show: descreve o que vem em cada setor e deixa o amante do carnaval bem preparado para entender o que passará em sua frente.

Veremos setores para a vitória, a luta, a força, a união e fecha com a homenagem ao seu jubileu de ouro. Trata-se de uma viagem do “espírito do sambista” pela antiguidade, onde ele será guiado pela Deusa Vitória, que o guiará pelos valores destes quatro temas e mostrará o que é necessário para vencer – até ele voltar ao Anhembi e reencontrar os bambas que desfilam na escola e os que a criaram.

Análise – Foi encontrada uma solução muito criativa e com maior repertorio para a parte visual do que se fosse contada somente a história da agremiação. Um grande enredo que vai gerar muita expectativa.

vilamaria_raulzito_rzt_8153Unidos de Vila Maria

Enredo – Aparecida, a rainha do Brasil

Outra sinopse que setoriza o desfile e claramente nos passa o tema proposto. Claro, obra de Sidnei França, que reforça a escola do Jardim Japão após marcar época na Mocidade; ele já chegou com o enredo escolhido, mas o desenvolveu.

Não se trata da história de Nossa Senhora Aparecida, mas sim dos 300 anos da aparição de sua imagem na rede de um pescador no interior de São Paulo. Daí em diante são contados os milagres da santa, da relação com o Brasil Colônia e a devoção e gratidão dos fiéis.

Achei interessante que ao invés de setores, Sidnei os nomeou como “preces” e cada uma delas refere-se a um cântico do que será desenvolvido, algo bonito e bem apropriado para um desfile santificado.

Análise – É uma história muito bem contada, que assume o que é comprovado e o que se presume como verdade, mexe com a fé do brasileiro, não tenho dúvidas que vai resultar em um desfile lindo, a curiosidade é se vai emocionar.

Acadêmicos do Tatuapé

Enredo –  Mãe África conta a sua história: Do berço sagrado da humanidade à abençoada terra do grande Zimbabwe

Aqui temos o tradicional enredo afro, na exceção da palavra, desenvolvido de maneira padrão, como vários e vários que já vimos nesse e em outros sambódromos. O detalhe é que será sobre o Zimbabwe, então creio que as peculiaridades do país serão as pequenas novidades em uma história que já vimos muitas vezes.

É o bom e velho enredo da origem da humanidade com a visão afro, as raízes ancestrais, os orixás, o batuque, as contribuições para o mundo e a esperança de um futuro melhor. O leitor já viu esse filme, ou melhor, esse desfile antes, né?

Lamento pela saída do Mauro Xuxa, carnavalesco que realizou um senhor desfile ano passado e mudou a escola de patamar, agora ele foi inexplicavelmente para o acesso e a Tatuapé ficou sem grandes ideias.

Análise – Evidente que eu gosto dos enredos afros e os considero fundamentais, mas desde que seja uma temática nova ou então algo já abordado de maneira diferente e, sinceramente, não creio que vejamos nada de novo aqui.

gavioesGaviões da Fiel

Enredo – Com as mãos e a garra de um povo sonhador, surge o contraste de uma nova metrópole – Sampa, lugar de sonhos, oportunidades e esperança

Temos um problema semelhante com o da Tatuapé. Acho a ideia do enredo boa, falar da coragem do nordestino de se aventurar em uma terra desconhecida que é São Paulo e na base do trabalho construir seus sonhos é algo popular, sempre factual e importante de exaltar, mas me dá uma impressão de que a Tucuruvi de 2011 vai desfilar de novo…

O que eu destaco de diferente é que nesse desfile veremos o foco da luta que essas pessoas travaram e tudo que tiveram de superar; naquele, o lado cultural era mais destacado.

Como todo bom profissional que passou pela Mocidade, Zilkson Reis setorizou a sinopse, que nos conta na ordem cronológica a partida do migrante do nordeste, e a trajetória dele em “Sampa”, como diz no texto. A parte histórica é pincelada, mas o carnavalesco focou na parte emocional do tema.

Análise: Como eu disse o tema diz as pessoas, pode funcionar muito bem, mas não vejo se adequar a grande qualidade que a escola apresentou neste ano que foi o excelente trabalho de maquiagem. Espero um bom desfile.

Acadêmicos do Tucuruvi

Enredo – Meu palco é a rua

Primeiro de tudo, parabéns a Tucuruvi, mas não pelo enredo, que já adianto ser simpático a ele, mas porque esta foi a primeira vez que a escola divulgou a sinopse, que, apesar de servir para os compositores realizarem o samba, também é fundamental para os amantes de samba e para sua própria comunidade entenderem como a história será contada.

E essa sinopse do Wagner Santos eu achei muito bem feita. Para contar a história dos artistas urbanos ele divide os setores como adjetivos em que a arte revela o ser humano para demonstrar que a criatividade e o ato de expor a sua arte nada mais é que um humano revelando seu modo de agir e pensar.

O contexto histórico é muito bom, vai buscar lá no homem primitivo as primeiras demonstrações criativas, passa pela Europa e seu movimentos culturais, destacando as influências religiosas e econômicas nos segmentos de arte. Obviamente o desfecho seria na multicultural São Paulo, com todas as vertentes e cores, colorida por artistas anônimos que embelezam a metrópole.

Análise – Ao primeiro olhar parecia um enredo de pobre desenvolvimento, mas ao saber como ele será tratado gostei do tema e do conceito criativo. É popular e ao mesmo tempo dá margem a beleza plástica, interessante é o adjetivo.

aguiadeouro2013Águia de Ouro

Enredo – Amor com amor se paga. Uma história animal

Os desfiles de escolas de samba se iniciaram no início da década de 30, me espanta muito que só agora, após mais de 80 anos de festa, se pensou em falar da relação de amor do homem com seu animal de estimação.

Ainda bem que isso aconteceu e para mim é um golaço da Águia de Ouro em um enredo bem escrito, achei sutil a difícil transição da parte histórica para as estórias de cinema em que os pets são protagonistas. Depois o enredo fica mais sério e alerta para a proteção aos animais e o quando eles são importantes em nossas vidas.

Apesar de não aprovar sua citação no samba, acho coerente a presença da apresentadora Luisa Mell como embaixadora, pois ela levanta a esta bandeira de prevenção e adoção de animais há anos em rede nacional.

Análise – É uma pena que a sétima escola de sexta entre já com o sol brilhando e como o sambódromo não tão cheio, mas o lado bom é que muitas crianças devem assistir pela televisão e se identificar com personagens conhecidos. Será um desfile divertido e com um bonita mensagem, vale a pena ver.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

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3 Replies to “Análise dos Enredos do Carnaval de São Paulo (2017) – Parte 1”

  1. Gaviões não falará apenas do povo nordestino, falará do povo que saiu de todos os cantos do Brasil e formou nossa metrópole… Nada tem a ver com Tucuruvi

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