Faltam doze dias para o início dos Jogos Olímpicos.

Sem sombra de dúvidas será um dos maiores momentos da já gloriosa história do Rio de Janeiro, uma das principais cidades do mundo. Não vou entrar no mérito da Olimpíada em si, sobre os Jogos já falei de forma crítica em uma coluna chamada “Descanse em paz Juma”, e pretendo voltar a falar semana que vem. Quero falar hoje dessa cidade gloriosa, linda, uma das principais da Terra. Falar e perguntar:

O que fizeram com você, meu Rio de Janeiro?

Sou um carioca apaixonado por essa cidade. Amo a mistura de cidade grande e pequena do bairro em que vivo desde que nasci, a Ilha do Governador. Amo as praias do Rio, o visual do Arpoador, um dos mais belos do mundo, passear pelos calçadões de Copacabana, Ipanema e o cheio de musicalidade de Vila Isabel. Amo o centro da cidade cheio de história, a Lapa malandreada, o subúrbio e as suas escolas de samba, Sapucaí, Maracanã e amo o carioca e seu jeito alegre, parceiro, maneiro mesmo com as adversidades do dia a dia.

Amo demais essa cidade e esse estado. Adoro Niterói, por exemplo, cidade bonita, cheia de natureza e obras de fazer qualquer turista se encantar. Por amar quero o seu bem, por amar fiquei feliz, me empolguei, me emocionei, chorei quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas. Tive muito orgulho como tenho sempre de dizer que sou carioca. Sou carioca da gema mesmo.

Por isso, estou em um momento de decepção.

Não posso falar de legado ainda, os Jogos nem começaram e tudo que for falado de positivo do futuro ainda está no terreno das hipóteses. O que posso falar é do momento atual e dos últimos anos, desde que a cidade foi escolhida como sede olímpica e o Brasil para sediar a Copa, e evidentemente que se esperava muito mais.

Não é culpa da Olimpíada. Não acho que o Rio de Janeiro estaria melhor se ela não existisse, apesar da péssima forma como tudo vem sendo conduzido e falei naquela coluna. Vejo pelo lado contrário, talvez se não existisse a Olimpíada, a coisa estaria muito pior porque, mesmo tendo a consciência que muitos enriqueceram com esses mega eventos no Brasil, pelo menos algumas coisas, algumas melhorias que talvez não ocorreriam, tiveram de ser feitas devido a esses eventos.

O Brasil perdeu uma grande oportunidade com a Copa, não melhoramos depois da Copa do Mundo e a impressão que me dá é que, mesmo que exista um legado olímpico, será muito menor do que o esperado e que assim o Rio de Janeiro e o Brasil perderam as maiores chances de suas histórias. Chances que nunca mais terão.

violenciario1O Rio de Janeiro mesmo vive um caos. Nesses meus trinta e nove anos, onze meses e quinze dias de Rio de Janeiro, nunca tinha visto momento tão ruim, nem quando Saturnino Braga decretou falência ou a Globo incrementou a imagem de desordem no governo Brizola. O fluminense (sim amigo off Rio, quem nasce no estado do Rio é fluminense) em sua maioria não consegue nem responder de supetão quem é o governador do estado.

Hoje, o Rio de Janeiro é governado pelo poste do poste. O governador Pezão foi eleito por ser vice de Sergio Cabral, por ter recebido toda a força governamental (inclusive do PT), dos caciques cariocas e fluminenses, e graças a isso e aos fracos nomes que concorriam contra ele, foi eleito mesmo sendo um ilustre desconhecido.

O problema é que pouco após sua posse, descobriu que tinha câncer e se licenciou para tratamento. Não saberemos quando volta e nem se volta, já que a família mesmo pede a renúncia. Então quem vem governando o estado é seu vice Francisco Dornelles. Um ex-deputado e ex-senador carreirista, que ficou décadas e décadas no congresso representando a velha e retrógrada política, aquele tipo de político que é reeleito por osmose por já ter seu curral eleitoral, vai se reelegendo despercebido e só virou notícia quando venceu Jandira Feghali em uma eleição ao senado jogando baixo e espalhando panfletos anônimos na véspera da eleição dizendo que a candidata era a favor do aborto.

Encontrou o estado esfacelado, sem dinheiro e a impressão que passa é que está mais perdido que o Stevie Wonder em um tiroteio. Funcionários públicos não recebem há meses, professores estão em greve, polícia ameaça também entrar ou fazer operação tartaruga, restaurantes populares estão fechando. O caos completo em um momento que devia ser bom, no qual devia se começar a colher os frutos desses eventos sediados aqui.

eduardopaesNão é só isso. Saindo um pouco da esfera financeira vivemos um momento que as UPPs começam a fazer água: tiroteios nas favelas ditas pacificadas, aumento da criminalidade, da sensação de insegurança, pessoas saindo de casa sem saber se vão voltar. Crianças morrendo, policiais morrendo, mãe esfaqueadas na frente dos filhos. Assaltos a rodo no centro da cidade, mortes em briga de torcida, pessoas tendo que se abaixar na Linha Vermelha para se protegerem de tiros. É assim que vamos tentar descobrir planos terroristas? Se até hoje não descobrimos nem o que ocorreu com as vigas da Perimetral ou onde está o Amarildo? Assim que vamos pegar homens bombas? Se não conseguem pegar nem pivete na Central do Brasil?

Pessoas apodrecendo em corredores de hospitais, ciclovias desabando e o prefeito, que não é bobo nem nada, tentando desassociar todos os problemas do Rio de Janeiro de sua imagem e de seu pupilo candidato a sucedê-lo. Começou a atacar o governador em exercício aproveitando que não é de seu partido se esquecendo que o seu partido, o PMDB, é o maior culpado de nossa situação atual.

O PMDB governa o estado desde 2003 e a prefeitura desde 2009, e se tem um grande culpado no caos que vive o Rio de Janeiro, ele se chama Sergio Cabral Filho. O sumido ex-governador acusado de vários trambiques e que era o comandante do estado na hora em que as benesses começaram a entrar devido a Copa e Olimpíada. O comandante na hora que o dinheiro entrou forte e agora esse dinheiro não aparece no caixa fluminense.20_MVG_RIO_cabral2

Onde está o dinheiro? Ninguém sabe, ninguém viu. Onde está Sergio Cabral? Ninguém viu também. Mas pode ter certeza de que no local em que está esse dinheiro tem muita gente que foi beneficiada nesse período. Dornelles é um incompetente, mas que recebeu uma bola de neve, ela não começou a ser criada agora.

Enquanto isso, vamos passar por um de nossos maiores momentos, vamos realizar a nossa Olimpíada como aquele cara que vai receber um prêmio tão sonhado, mas acabou de receber uma notícia ruim. É a alegria com sorriso amarelo. A sensação de que poderíamos mais.

É um Rio de caos passando em nossas vidas.

Que o sonho olímpico o leve pra longe.

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Facebook – Aloisio Villar

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3 Replies to “Um Rio de Caos”

  1. As instalações que ficarão são um legado sim. As melhorias no transporte, a nova área do porto. Penso que são legados sim, estão ai só pelos Jogos.

  2. Eu me sinto envergonhado com relação às lambanças da organização do Comitê e da Prefeitura. Vou ao evento porque o amo, assim como sou apaixonado por esportes. Mas estou decepcionado com o chamado LEGADO OLÍMPICO.

    1. Eu irei escrever após a Rio 2016 sobre o legado olímpico. Ele é menor que o ideal, mas é significativo

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