Pronto… Dilma caiu.

Na verdade ela já tinha caído em 17 de abril, quando teve a votação na Câmara dos Deputados, mas agora caiu oficialmente. Ainda é Presidente da República, mas presidente afastada, não vai voltar. Todos nós sabemos disso, ela sabe disso. Michel Temer é o novo presidente do Brasil.

O presidente da “ponte para o futuro”, dos “homens de bem”.

Não há como se negar. Dilma Rousseff foi uma péssima presidente, ou presidenta como ela gosta de dizer. Fez até um primeiro mandato direitinho até 2013 quando aconteceram as manifestações. Vou falar sobre elas semana que vem se nada de diferente ocorrer, mas já adianto que não as culpo por 2016. Depois as coisas foram piorando.

A economia está em frangalhos, inflação subindo, desemprego aumentando a níveis assustadores, falta de liderança, de habilidade política, corrupção, enfim, tudo de errado naquele que é o pior governo brasileiro desde Fernando Collor de Mello.

E teve o mesmo fim daquele governo. Mas mesmo com tudo isso que escrevi, ela não merecia.

Não merecia porque governos ruins como esse a gente tira nas urnas como fez com vários anteriores. Cesar Maia fez um último mandato como prefeito desprezível e hoje só consegue se eleger vereador. O segundo governo Brizola também não foi bom e depois até para prefeito perdeu. Quando o povo está insatisfeito é assim que reage, ou deveria, não elege mais o governante e lhe deixa no ostracismo. Em alguns casos o partido também, como o outrora forte PDT.

Oficialmente Dilma não caiu por nenhum problema que eu citei. Caiu pelas pedaladas fiscais, uma maquiagem em suas contas que ninguém consegue provar e nem dizer de fato como ocorreu e se ocorreu. Os dois lados usam a constituição para mostrarem que tem razão aumentando a dúvida e eu sempre aprendi que se há dúvidas pró réu. Não foi assim. Os homens de bem não poderiam deixar que fosse assim.

Além da incompetência que mostrou, Dilma não conseguiu governar. No dia seguinte à sua segunda vitória, o PSDB já pediu recontagem dos votos, manifestantes já foram para as ruas. Deputados usaram e abusaram das pautas bombas, votações com o intuito de paralisar o governo. Aumentos como do judiciário que o governo não tinha como pagar. Um presidencialismo envergonhado no qual quem manda mesmo é o parlamento. Se não se aliar, se não tiver partidos como o PMDB consigo, não consegue governar, não terá maioria no congresso e virará refém. O povo ainda não entendeu que tão importante quanto a votação no cargo majoritário é a eleição em deputados, senadores e vereadores, porque se eles quiserem não tem governo. Como foi agora.

A presidente teve que se unir ao que tem de pior na política, porque infelizmente governar apenas com PC do B não lhe daria maioria para passar o que precisava. Porque infelizmente é utopia pensar “faça, lute que o povo estará com você” as coisas não funcionam assim. O político deixa o povo pensar que ele faz o que o povo quer quando é o contrário.

Teve que se unir ao que tem de pior na política e foi sugada por ele.

Foi chantageada pelo presidente da câmara e por causa dessa chantagem, apenas por causa disso, foi aceito o pedido de impeachment no congresso. Com a economia ruim e a mídia batendo forte no governo, deputados viram para qual lado estava a correnteza e tomaram partido. Faltou habilidade à presidente, sobraram corrupção e atos desastrosos como tentar colocar Lula no governo e não seguir o pedido do PMDB  que não nomeasse políticos seus a ministérios enquanto não fazia convenção. Política é a arte de engolir sapos e a presidente que teve que lutar contra a ditadura e sofreu tortura não aprendeu a fazer isso. Um fim de governo melancólico que ainda teve a “patetada” de Waldir Maranhão para fechar com “chave de bosta”.

Que pena Dilma. A primeira presidente mulher, que recebeu o governo numa época de esperança dos brasileiros, com popularidade sua e de seu partido  em alta. Poderia ser uma grande estadista e só procurou ser depois que a votação do impeachment passou na câmara. Ali virou a presidente que todos esperavam. Saiu da forma que todos queriam ter lhe visto por cinco anos. Aguerrida, falando o que todos queriam ouvir, junto ao povo, falando nos olhos de cada um e mostrando que é uma mulher que fracassou como presidente, mas é uma grande mulher. De luta e de garra, Mas mostrou isso tarde demais.

Agora começa o governo dos homens de bem. Homens sim porque não tem nenhuma mulher no primeiro escalão, algo que não acontecia desde Geisel. Não tem mulheres, não tem negros e tem gente que acha isso normal, que governo não é lugar para fazer cotas. Acho incrível imaginar que na política nacional não exista nenhuma mulher ou negro com competência para fazer parte de um ministério. Não é pedir cotas, é pedir igualdade. Justiça.

Governo com sete investigados pelo Lava-Jato, com um presidente inexpressivo e ficha suja, com Sarney Filho no Meio-Ambiente, José Serra nas Relações Exteriores cumprindo profecia feita por mim em coluna passada, com pastor que quase virou ministro da Ciência e Tecnologia, mas acabou indo para outro porque os pastores farão o que quiserem nesse governo, com advogado do PCC na Justiça, com Cultura perdendo força e sendo incorporada à Educação. Mas os problemas do Brasil todos acabaram, já que os manifestantes pró impeachment saíram da Paulista, Gilmar Mendes assumiu o STF, investigações contra Aécio e Renan foram arquivadas, Sergio Moro agora só dá palestras e a mídia não fala nada sobre tudo isso já que a missão foi cumprida.

Os homens de bem fizeram todos nós de palhaços. Todos nós, mortadelas e coxinhas, brigamos, rompemos amizades achando que realmente temos voz e nos dão atenção quando nem ligam para gente. Dilma e Cunha foram punidos, a lava jato sumiu e a vida voltou ao normal. Aos poucos, Dilma, Lava-Jato e manifestações perderão força no noticiário. Até porque tem Olimpíadas e precisamos desse circo patético em forma de tocha.

Homens de bem… Não sei porque eu vejo essa expressão e penso num tipo como Jair Bolsonaro de pijama sentado em sua poltrona preferida com arma na cintura resmungando das notícias do Jornal Nacional. Talvez eu saiba porque penso isso.

Desculpem, mas não consigo ver com bons olhos essa expressão e não consigo mais ver a bandeira do Brasil e as cores da nação, tão usadas nesses meses para colocar os homens de bem no poder, com o mesmo orgulho.

Talvez eu não seja um homem de bem.

Talvez isso não seja ruim.

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2 Replies to “Os homens de bem”

  1. Antes de ela merecer, o povo brasileiro não merece mais dois anos de ausência de governo ou de desgoverno — que foi o que tivemos até então.

    O povo brasileiro mereceria isso sim, se tivesse votado nisso. Mas votou num projeto que foi jogado no lixo antes mesmo da posse. Aliás, Dilma merece o que tem sim, pelo estelionato eleitoral praticado contra seus eleitores.

    Se o que entra no lugar dela é o Brasil antigo, é tb por grande culpa do PT, que se aliou ao Brasil antigo e o colocou na vice-presidência.

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