Flamengo S.A.

E o Flamengo teve uma grande conquista essa semana.

No início da semana, orgulhoso, o presidente Eduardo Bandeira de Mello foi receber o troféu de “Clube mais citado no twitter”. Um grande orgulho que emocionou todos os rubro-negros e deixou entusiasmado o presidente.

Na mesma semana, as contas do clube no último ano foram aprovadas com apenas um voto contra. Unzinho. Uma grande semana, com grandes notícias.

Tivemos uma notícia meio chata, mas sem nenhuma importância. Perdemos mais uma vez pro Vasco e fomos mais uma vez eliminados por eles do Carioca com o detalhe que os jogadores ignoraram as crianças que iriam entrar com eles e, correndo na entrada, fincaram uma bandeira do clube no meio do campo para mostrar que quem mandava ali era o Flamengo.

Mas o que é o futebol perto de tantas notícias importantes que falei acima? Nada né?

Tudo.

Tirando o deboche de lado, evidentemente que a melhora financeira do clube é de orgulhar e é importante. Fomos por muitos anos motivo de chacota por ser um clube endividado, falido, que não pagava jogadores e ex-jogadores. Um clube sem credibilidade e que ninguém queria jogar.

Essa diretoria mudou isso. O Flamengo hoje é um exemplo de administração financeira, fecha contratos bilionários como o da Globo e a dívida, se não está equacionada, está sob controle, mas tem um problema nisso.

O problema é que o Flamengo não é um banco, uma S.A. Se fosse estaria tudo perfeito, estaríamos agora na esperança de vê-lo passar o Bradesco e ver o nosso bravo capitão Wallace ficando a bandeira do clube na sede do FMI. Mas o Flamengo não tem seus milhões de torcedores porque ganhou prêmio no twitter ou dá lucro. Ganhou porque sempre teve um caso de amor, um caso de paixão avassaladora com seus torcedores.

E essa paixão está sendo deixada de lado.

Não é fincando bandeira em campo que se mostra superioridade. O grande Flamengo de Zico nunca fez isso, não lembro de nenhuma imagem do Zico fincando a bandeira do clube no meio do campo do estádio Nacional de Tóquio para mostrar que era melhor que o Liverpool, que muito lhe menosprezou antes do jogo. Mostrou isso em campo.

É marketing? Imitar a NFL é sinal de “Modernidade”? Tenho medo disso. Daqui a pouco o time do Flamengo entrará em campo fazendo o “haka” da Nova Zelândia e me apavora a ideia do Wallace fazendo aquelas caretas esquisitas.

Aliás, o Wallace, o Paulo Victor e o Márcio Araújo me apavoram pelo simples fato de pertencerem ao Flamengo.

Essas estratégias de marketing modernoso do Flamengo e de seus parceiros mostram duas coisas. Que não entendem nada de marketing e nada de futebol. Não existe marketing positivo quando fazem propaganda de venda de camisa insinuando que rubro-negro é ladrão e usando a expressão “Framengu”, isso só irrita os torcedores. Não existe marketing positivo em fazer papagaiada entrando em campo e esquecendo as crianças e por isso virando chacota. Ah… Se tivesse ganho todo mundo teria achado legal. É amigo, pode até ser, mas desde que Charles Miller trouxe essa brincadeirinha pra cá sabemos que num jogo de futebol há três possibilidades. Vencer, empatar ou perder, então sabiam que o risco corria.

O marketing vira anti-marketing quando aparecem fotos das crianças não entendendo nada ao serem largadas para trás ao lado das crianças vascaínas que estão de mãos dadas com seus ídolos. Ah, mas elas sabiam… E daí que sabiam? Eu sei de um monte de coisas que eu não concordo e não é porque sabiam que estavam felizes.

E se o time do Vasco resolve por piedade levar as crianças do Flamengo para dentro de campo? Pensem no estrago na imagem, o mundo todo vendo aquilo. Pensem que fatalmente algumas dessas crianças poderiam virar Vasco. Se não ligam para o fatos esportivos vou naquele que realmente importa a eles, o econômico. Seriam menos consumidores no futuro.

Não ligar para a torcida vai trazer prejuízo. Deixar crianças para trás, cobrar ingressos altos segregando os mais pobres, não ter inteligência para em sete anos pensar numa alternativa na cidade de estádio em reflexo do problema olímpico. Até o Botafogo se resolveu e parece que vai jogar na Ilha. O Flamengo terá que viajar mesmo quando mandante e assim fica quase impossível pensar em título brasileiro. Impossível fica quando lembramos que até meu filho de dois anos sabe que o Flamengo precisa de zagueiros urgentes e a diretoria faz nada desde o começo do ano. Aliás diretoria, por que contratar um goleiro caro para deixar no banco?

Voltando ao marketing. Não entendem nada de futebol quando não percebem que não existe marketing maior que vencer, ser campeão. Pode fincar bandeira, fazer haka, entrar com cãezinhos amestrados ou em carros num globo da morte. Podem fazer campanha para sócio torcedor que quiser, até sortear torcedor para ir a festas do bonde da Stella, nada disso tem efeito em time que se acostuma a perder, em time que vira freguês de quem sempre foi seu freguês. É lindo ver a festa que os torcedores fazem nos aeroportos quando chega o time. Mas ninguém ainda teve coragem de filmar as saídas dessas mesmas cidades.

O Flamengo virou uma “Caranava Rolidei” do mal. Joga mal em São Paulo, Juiz de Fora, Brasília, Manaus democratizando a ruindade entre toda sua torcida. Um “Globetrotters” da perebice. Não precisa fazer nada disso. Vença, tenha alma, seja campeão, seja Flamengo que aumenta ST, aumenta torcida e não precisa fazer palhaçadinhas.

Repetindo. É maravilhoso o ganho financeiro, a estabilidade, virar exemplo como clube e gestão, mas não resolvendo o futebol, não dando orgulho em campo, toda essa conquista será esquecida e será até atacada de forma injusta. Não queremos o Flamengo das últimas décadas de volta. O falido e que também não tinha conquistas. Queremos o Flamengo que merecemos.

Um Flamengo saneado financeiramente e grande dentro de campo não é pedir demais. É pedir o que ele pode.

Não somos banco, não somos um Flamengo S.A. Somos um clube de apaixonados de todas as classes sociais, idades, credos, raças, de todos os lugares e que ama esse clube pedindo pouca coisa em troca. Apenas alma, coração e o respeito com aquele que sempre foi seu maior parceiro. A torcida.

E que volte a alegria de ser rubro-negro

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

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