*Rafael Lopes é jornalista esportivo e torcedor da Unidos de Vila Isabel

Bem, sempre acompanhei Carnaval. E comecei a torcer pela Vila Isabel, para variar, por influência materna, que era uma grande fã de Martinho da Vila. À época, morávamos na Rua Pereira Nunes, no antigo bairro da Aldeia Campista, a uns 500 metros do tradicional Boulevard 28 de Setembro. Era muito pequeno à época do histórico desfile de 1988 – minhas primeiras lembranças remetem à Fórmula 1 e aos anos de destaque de Ayrton Senna. Mas ouvi muitas histórias empolgadas sobre Kizomba.

Não tinha como não me apaixonar pela Vila. Mas não me considero um especialista em Carnaval, bem longe disso. Sou um espectador apaixonado, que ficou absolutamente impressionado quando visitou a Marquês de Sapucaí pela primeira vez, em um Desfile das Campeãs. Por isso, não acreditei quando recebi a ligação do meu grande amigo Fred Sabino para fazer este top 10 da Vila, que, dia 4 de abril, completa seu 70º aniversário. Pensei: “Cara, que responsabilidade… Só vou escrever no mesmo espaço de tanta gente boa como o próprio Fred, o Migão, o Carlos Gil…” Mas como não sou de fugir de desafios, aceitei.

E aí está a lista! Tem alguns pontos fora da curva, admito, mas tentei fugir do óbvio! Espero que gostem!

10 – Soy loco por ti, América – A Vila canta a latinidade (2006)

OK, não é um dos melhores sambas da história da escola. Mas está na minha memória afetiva. Afinal, foi o primeiro título da Vila que pude acompanhar de perto – em 1988, tinha apenas quatro anos de idade. Foi importante por marcar a quebra do jejum de 18 anos sem títulos. E mudou o patamar da escola, que voltou a figurar entre as grandes do Carnaval depois de alguns anos no Grupo de Acesso.

9 – Iaiá do cais dourado (1969)

Um dos primeiros sambas emplacados pelo mestre Martinho da Vila na escola do bairro de Noel. E também o começo de uma revolução nos sambas-enredo, se aproximando mais do partido alto e com letras mais curtas e próximas da linguagem popular.

8 – Direito é direito (1989)

Um samba absolutamente lindo, de autoria de Jorge King, Serginho Tonelada, Fernando Partideiro, Zé Antônio e J.C.Couto. Um enredo difícil, sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Como não lembrar da comissão de frente com as mulheres grávidas simbolizando o direito à vida? Um desfile inesquecível, mas que deu o azar de concorrer com as passagens sensacionais de Imperatriz, Beija-Flor e União da Ilha.

7 – Muito prazer! Isabel de Bragança e Drummond Rosa da Silva, mas pode me chamar de Vila (1994)

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Esse samba marca o começo de uma era na Vila Isabel: foi a primeira vitória do compositor André Diniz, que venceria outras tantas vezes na escola. E é um senhor samba, com riqueza melódica e pegada ao mesmo tempo! “Desperta, Seu China! Acorda Noel!/Pra ver a nossa escola desse branco azul do céu”.

6 – Sonho de um sonho (1980)

Mais uma obra-prima de Martinho da Vila. Em tempos de censura pesada da ditadura militar, ele se inspirou em um poema de Carlos Drummond de Andrade. E, com isso, enganou a mão de ferro dos censores daquela época, como nos versos: “A clemência e ternura por amor da clausura./A prisão sem tortura, inocência feliz./Ai meu Deus, falso sonho que eu sonhava.” Não precisa dizer mais nada, não é mesmo?

5 – Raízes (1987)

Este é um samba que não poderia ficar fora dessa lista. Afinal, Martinho da Vila (sempre ele!) – ao lado de Ovídio Bessa e Azo – resolveu revolucionar as composições. O enredo se baseava em uma lenda indígena de como surgiram as estações do ano. E o que ele fez no samba? Simples, escreveu uma letra sem rimas. A melodia era sensacional e a bateria deu show naquele ano. Não valeu título, mas entrou para a história do Carnaval.

4 – A Vila canta o Brasil celeiro do mundo – Água no feijão que chegou mais um… (2013)

Mais um samba campeão na lista. E na primeira vez em que Martinho da Vila e André Diniz assinaram uma composição juntos (ao lado também de Arlindo Cruz, Leonel e Tunico da Vila). Um samba que, como o enredo sugeria, tinha uma pegada mais rural. E contagiante na avenida. Não à toa ganhou o Estandarte de Ouro daquele ano.

3 – Pra tudo se acabar na quarta-feira (1984)

No primeiro ano do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, uma obra-prima de Martinho da Vila. O enredo falava sobre uma escola de samba e era inspirado na música “A Felicidade”, de Tom Jobim e Vinícius de Morais. E ganhou um mais que merecido Estandarte de Ouro na categoria. Mas a Vila estava sem grana e ficou apenas em quinto lugar no desfile de segunda.

2 – Noel, a presença do poeta da Vila (2010)

Um samba composto por Martinho da Vila para homenagear Noel Rosa. Uma mistura que não poderia dar errado, não é mesmo? Foi a volta da assinatura de Martinho a uma composição da escola depois de 17 anos. Na avenida, entretanto, o andamento da bateria deixou a desejar, muito acelerado, o samba pedia uma cadência mais lenta, quase como nos sambas de antigamente. Além disso, houve atravessamento após problemas no sistema de som.

1 – Kizomba, festa da raça (1988)

Literalmente, um desfile único. Afinal, não houve Desfile das Campeãs naquele ano por causa das fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro. Um samba inesquecível quando se completavam 100 anos da Abolição da Escravatura. Um samba emocionante, que exaltava a negritude. Sem dúvidas, um dos melhores da história do Carnaval.

9 Replies to “TOP 10: Vila Isabel (por Rafael Lopes*)”

  1. Muito bom!!

    Óbvio, só trocaria 2006 por 2012 – afinal, em 2006 a Vila Isabel ganhou um Carnaval, digamos, estranho. E em 2012 ela foi a campeã moral de muitos especialistas.

    Mas a lista tá perfeita. Todos os outros nove sambas seriam exatamente os que eu colocaria!!!

  2. Como tem samba bom a vila! Acrescento a lista os sambas de 1968 – 1976 – 1990 – 1993 – 2012 e 2016… e procurando tem muito mais.

    Acho “Raízes” o mais genial de todos. Salve Martinho

    Bela lista.

  3. Concordo com o Rodrigo, só tiraria 2006 da lista, os outros nove, perfeitos! Só confesso que não sei qual colocar no lugar: 1993 (“Gbala, viagem ao Templo da Criação”), 2012 (“Você Semba lá que eu Sambo cá, o canto livre de Angola”), 1967 (“Carnaval de Ilusões”), 2005 (“Singrando os mares bravios… E construindo o futuro!”)…

  4. Parabéns, Rafa. Você cumpriu muito bem sua missão. De fato 2006 não é um grande samba dessa querida Vila de tantas obras-primas. Mas te entendo. O primeiro título que a gente vê não dá para esquecer. Acho que tentaria colocar o canto livre de Angola nessa meiúca. Aquele contracanto é absolutamente fantástico. E que desfile! Mas assim como na hora d fazer a minha lista, do Império, bem sei que você deve ter feito e refeito a sua várias vezes. Viva a Vila!

  5. Muito bom. Em 2006 acreditava muito no título pra verde-rosa, eis que o júri de forma absurdamente estranha escolheu a Grande Rio. Pra mim, a Vila ter sido campeã salvou o carnaval daquele ano.
    Quanto aos sambas senti falta de dois, o de 2012 e o de 1993. Além de Belíssimo “Gbala” marcou um momento de reafirmação da escola de Martinho depois da desastrosa apresentação de 1992 quando empatou com a Leão de Nova Iguaçu e as notas dadas a bateria salvaram na do rebaixamento. Também, ao ouvir o samba de 1993 me vem a imagem do carro da Criação em tom de barro.

  6. “Além disso, houve atravessamento após problemas no sistema de som”. (descrição do samba de 2010). Leia-se “a bateria não obedeceu ao Mestre Átila”! Hehehehehehehe…

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