Uma honra ter sido chamado nesse período de tensão pré-desfile a enumerar numa ordem pessoal os sambas que mais gosto da minha escola querida, a Deusa da Passarela. O porquê de eu ser Beija-Flor é simples … era carnaval de 1976 e ouvi minha mãe assistir o desfile na sala de casa em São Paulo. Ao perceber que eu e minha irmã estávamos espionando, autorizou descermos e assistirmos. E ouvi pela primeira vez o “Sonhar com filharada é o coelhinho”. Soube depois que aquilo tinha vencido, mesmo sem saber muito o que. Estava criado o meu laço afetivo com a escola.

Então vamos lá, a viagem vai começar, e vai longe:

10 – Um Griô Conta a História: Um Olhar sobre a África e o Despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a Trilha de Nossa Felicidade (2015)

Depois de um tenebroso desfile, a escola resolveu voltar a navegar em águas em que se sente confortável. Esse sambão de Samir Trindade e companhia tem o tradicional refrão fortíssimo da escola precedido de uma frase que virou mania na baixada: “Quem beija essa flor não chora”. Enredo polêmico e confortável para a Beija–Flor, grande desfile e a 13ª estrela. Esse samba tem um significado muito especial para mim. Sou pai de uma linda garotinha chamada Bianca, hoje com 11 anos. Desde a primeira vez que o ouviu, se apaixonou por ele e por tudo o que Samir Trindade escreve. À época, ao responder na escola quais as músicas preferidas dela, não titubeou em “Garota de Ipanema e África – Samir Trindade”, com o detalhe de que estávamos em Setembro de 2014.

9 – O Mundo é uma Bola (1986)

Em ano de Copa do Mundo no México, João 30 resolveu fazer sua viagem anual ao início dos tempos onde se jogaria futebol, afinal “O Mundo é uma Bola”. Com refrão forte, dizendo “É Milenar, a invenção do futebol”, a escola faz um desfile magnifico, onde ainda na concentração pega uma grande tempestade e com água pelas canelas, desfile de forma empolgada. Histórico!

8 – Manôa – Manaus – Amazônia – Terra Santa… Que Alimenta O Corpo, Equilibra A Alma E Transmite A Paz (2004)

Após um campeonato, a escola de Nilópolis faz uma linda viagem ao Amazonas. Sempre cheio de lendas e mistérios. O mote do enredo é o Guaraná, que tem em Maoés, o seu principal produto. Sambão de Claudio Russo e cia, que tem um refrão do meio muito bem bolado e melódico: “Ei Manoa, minha canoa vai cruzar o Rio-Mar”. Já que o samba pede água, a escola desfilou sob um dilúvio monumental novamente e venceu o carnaval.

7 – O vento corta as terras dos Pampas. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete povos na fé e na dor… Sete missões de amor (2005)

Buscando o segundo tri, a Beija–Flor vai ao sul do Brasil, contar a história da colonização jesuíta ocorrida no sul do Brasil. Grande samba que rendeu grande desfile e o novo tri estava em Nilópolis.

6 – Araxá – Lugar Alto Onde Primeiro Se Avista o Sol (1999)

Ao cantar a cidade mineira de Araxá, a Beija Flor trouxe esse belo samba do grande Wilsinho Paz, que tem um refrão do meio muito inteligente e saboroso. Mais um grande desfile e marca minha primeira experiência desfilando na Sapucaí.

5 – Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia (1989)

Quando ouvi esse samba a primeira vez achei horrível. “Qual areia na farofa” pra mim era demais… Mas, com o patamar que ele atingiu com o maior desfile de todos os tempos, ganhou pontos valiosos no coração azul e branco. De letra simples e refrão nagô, foi cantado e emocionou a todos naquele dia único da história do carnaval. Emocionante!

4 – Áfricas, do Berço Real à Corte Brasiliana (2007)

Um samba difícil. Como alguns proferiram à época: Tem samba que só a Beija Flor canta. Um emaranhado de citações africanas e com um refrão que o povo da Baixada se deliciou com o “Sangue de Rei… Comunidade”.

3 – A Saga de Agotime, Maria Mineira Naê (2001)

A Saga de Agotime foi cantada num samba lindo de Sidney de Pilares e rendeu um dos meus desfiles preferidos. O refrão que pedia um tambor ressoando até no Maranhão, emocionava a escola desde os tempos de eliminatórias. Atuação magistral de Neguinho da Beija Flor na avenida, pra variar.

2 – Sonhar com Rei dá Leão (1976)

O início. De escola iôiô do carnaval a ser aquela que desafiaria o poder das quatro grandes campeãs. Trazer o gênio João 30 e cantar um tema tão politicamente incorreto seriam a cereja do bolo. Eternizar o compositor do samba como a voz da escola. Primeiro campeonato, guinada na história, marcante e etc… afinal, sonhar com rei dá Leão!!”

1 – Criação do Mundo na Tradição Nagô (1978)

O grande samba da escola sem dúvida. Tanto que todo carnaval ao fazer um mix, Neguinho o entoa inteiro. A Tradição Nagô cantada de forma linda e simples, com um refrão que embalou o primeiro tri da escola.

5 Replies to “TOP 10: Beija-Flor (por Emerson Braz)”

  1. Muito legal sua lista Émerson, é interessante notar que do seu top 10 seis sambas são da comissão de carnaval, 1998, pra cá. A partir dessa comissão, a Beija-Flor, além de outras mudanças, passou a valorizar bastante a escolha do samba-enredo como fundamental para o sucesso de seus desfiles, o que se mostrou uma decisão sábia com o tempo (e os títulos). Acredito, inclusive, que o sucesso da escola unindo a técnica de desfile com ótimo chão e sambas foi fundamental para a revitalização do gênero, pois várias escolas pararam de deixar a escolha somente por “fatores externos”. Claro, eles ainda estão lá, mas dificilmente alguma escolhe um samba sem que seja um dos três ou quatro melhores na safra, dependendo da qualidade dela, claro (Estácio esse ano foi exceção).

    Sobre a lista em si, acho justa, 2015 acho justo estar, mas Caruanas poderia perfeitamente também ser escolhido, ou Poços de Caldas (sei que a maioria não gosta, mas eu aprecio bastante), ou Brasília, Roberto Carlos… Trocar mesmo, só 1986 por 1980, simplesmente adoro o refrão da língua do P!

    “P B, p ru, p xa, levantando a poeira, até a bruxa vem brincar”…

    1. é difícil … cheguei a sofre por deixar Caruanas fora…rsrs mas eu não consegui tirer o desfile do samba…. aí ficou assim … Adoro o samba de 80

    1. heheheeh é sempre uma coisa muito difícil organizar lista…. pra mim 98 está nos dez , mas eu não consegui dissossiar de desfile … aí ficaram esse…

      1. Tô ligado, Emerson; até hoje o pessoal me “cobra” por não ter posto o da Mocidade de 1971 na minha lista.

        Em minha opinião, se fosse só pelo samba, sei que você poria o de 1998 – até porque samba por samba ele é infinitamente superior ao de 1976. Mas quando se analisa o contexto histórico, não tem como colocar o início de tudo para a escola de Nilópolis!

        Reitero: bela lista!!! =D

Comments are closed.