De volta ao Grupo Especial a Estácio de Sá soube se defender. Comissão de frente impactante. Ideia nota dez, execução nem tanto. Mas veio mostrando que queria acabar com o bate e volta de quem vem do Acesso. Samba não era o meu favorito na disputa, nem na safra. Porém, graças ao chão maravilhoso do Berço do Samba, passou muito bem. No desenvolvimento do enredo, no entendo, senti falta da relação de São Jorge com as religiões afrobrasileiras. O sincretismo com Ogum no Rio, com Xangô na Bahia. Enquanto isso, vimos São Jorge na Inglaterra, Turquia, Rússia, Portugal…faltou mais Brasil. Gostei muito da lembrança às outras escolas que têm o santo guerreiro como padroeiro, com a presença de velhas guardas na última alegoria. Ainda assim, uma homenagem tímida. No geral, fiquei com a sensação de que o esforço do Leão poderá ser recompensado na quarta-feira.

Sobretudo porque a União da Ilha, como se comentava no pré carnaval, veio com problemas visíveis em suas alegorias e fantasias. Apesar de criativas e leves achei um tanto confuso o desenvolvimento do enredo. Temia pela comissão de frente com os cadeirantes. Poderia ficar apelativa, além da própria dinâmica da apresentação. Mas o resultado foi muito bom. Agora, a relação Olimpíadas e homenagem ao Rio ficou embolada. Abertura com a trégua que os Jogos representam durante a guerra. Depois, louvações seguidas ao Rio. Aí, a bateria vem de quimono. Mas as demais alas não fazem referências aos esportes olímpicos. Até que surge um carro com atletas. Gostei da exibição da bateria. Ciça e Ito quase salvaram o samba. Quase. A obra é das mais fracas do grupo e não ajudou. Fiquei preocupado com a permanência da escola.

Chover no molhado falar da grandiosidade e da competência da Beija-Flor. Então, para avaliar a sempre favorita vou tocar nos pontos que podem tirar o título de Nilópolis. A coreografia da comissão de frente me pareceu muito longa e pouco criativa. O enredo foi por um caminho correto, mas chato. Louvação a uma figura histórica que não tem essa relevância toda. Mas isso é opinião pessoal. Claro que o jurado não levará em conta. E o samba-enredo eu não conseguiria dar dez num julgamento comparativo. Há bem umas quatro ou cinco obras melhores este ano. Fora isso, um desfilaço. Que harmonia, que evolução, que bateria cadenciada. E que casal! Flutuaram na Passarela Selminha e Claudinho.

granderio2016cA Grande Rio fez um desfile alegre, simpático. Mas irregular. O início foi bem promissor, com as soluções sempre interessantes da dupla Priscila e Rodrigo na comissão de frente. Carros bonitos na parte histórica do enredo. Só que, a meu ver, houve um desequilíbrio no desenvolvimento do enredo. A abordagem esportiva acabou ganhando muito destaque e a ausência dos homenageados tirou um impacto positivo que poderia impulsionar a escola. Por que no lugar do pai de Neymar não foi colocado um sósia do jogador? Ou um dos jogadores do Santos? O carro da baleia, aliás, não teve o impacto esperado. Aquela sequência de alas representando conquistas de Pelé com o Santos e a seleção também não funcionou muito. A sensação era de que faltava história pra contar da cidade homenageada e optou-se por um homenagem ao clube e seus feitos. Num dia com Ilha e Mocidade o samba tão criticado passou quase ileso. E a escola comprou a obra, defendendo a tricolor com garra.

Veio a Mocidade e sua bipolaridade. Rica, alegorias bonitas – maravilhoso o carro dos retirantes – um abre-alas com escultura gigantesca (parecia que a Estrela Guia desfilava no Anhembi), fantasias bem acabadas. Lindas baianas tropicalistas, lembrando a Mocidade de Fernando Pinto. Edson Pereira se firmando como um dos carnavalescos com mais bom gosto da atualidade. A parceria dele com Louzada deu certo. A não ser pelo enredo. Por mais que tentem explicar, não se absorve bem. Complexo, confuso, difícil. Se era crítico, ácido, como sugeria a comissão de frente, faltou mais leveza. Se era intelectual, faltou conexão com o popular. E saí da Sapucaí com a sensação de que a escola, com menos recursos, seria candidata ao descenso. A bateria não brilhou e, ao contrário do que aconteceu com a Ilha, pouco colaborou para tentar um samba arrastadíssimo.

O melhor da noite ficou para o fim. A Unidos da Tijuca fez, na minha visão, o melhor desfile da noite. E que legal que o melhor samba da noite proporcionou isso. Embora eu ache que esses trambolhos da comissão de frente são exagerados não dá para negar que a execução foi bem legal, com a vida germinando da terra. O abre alas, de barro, maravilhoso. E mesmo a alegoria menos feliz, do trator, foi salva pela coreografia da ala à frente, com o milho sendo colhido. Aula de harmonia e e evolução tijucanas. Fantástica ala de baianas. Bateria no ponto. Disputa acirrada com a Beija Flor. Mas, na bola dividida, fico com a Tijuca.

Minha classificação da noite ficou assim: Tijuca, Beija Flor, Grande Rio, Estácio, Mocidade e União da Ilha. Essa ordem mistura gosto pessoal com uma tentativa de interpretar o que os jurados farão.

4 Replies to “A primeira noite do Grupo Especial do Rio”

  1. Tenho exatamente a mesma ordem de classificação somando as notas dos quesitos. Só acho que a Mocidade corre sim riscos de descenso. Desfile tecnicamente muito fraco.

  2. A meu ver, o desfile da Tijuca estava de fácil entendimento, com uma divisão maravilhosa das cores tanto nas alas como nas alegorias.Já a Beija, a meu entender,veio com um setor carregado no dourado,o que dificultou a fácil compreensão.

  3. Sobre a Estácio de Sá, o carnavalesco já havia deixado bem claro que o enredo não seria Ogum e sim São Jorge, um santo católico. Então a falta de sincretismo se justifica porque ele não estava no enredo. Não era essa a intenção da escola.

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