O mais otimista dos dirigentes de escolas de samba do Rio de Janeiro talvez nem se imaginasse sendo campeão disputando o primeiro carnaval com sua agremiação. A não ser que esse, ou esses dirigentes, consigam unir um grupo determinado, disposto a se dedicar para a realização do sonho desse mesmo grupo, mantendo os pés no chão, conhecendo as limitações que terão de passar, que consigam mostrar para eles mesmos que levar um trabalho a sério traz recompensas. Foi essa forma que a família que fundou a Nação Insulana conseguiu converter a seriedade no carnaval em campeonato. Em menos de um ano de existência.

Vencer a dúvida tanto de pessoas que veem de fora, quanto de nós mesmos, componentes que resolveram dar uma nova escola de samba ao carnaval da cidade e à Ilha do Governador, foi um desafio de resistência psicológico e físico. Psicológico porque diante do nível de agremiação desfilantes na Sapucaí, para o nível de desfilantes da Intendente Magalhães, principalmente do Grupo E, aceitar a ideia de que não há de onde tirar dinheiro e que a Prefeitura do Rio não disponibiliza qualquer tipo de subvenção para este grupo é algo que fica dentro de nós, martelando. Pois só quem é apaixonado por carnaval e tem zelo por isso entende o que é estar com pensamentos de como será um desfile o qual você está fazendo parte, integrando, ajudando, opinando.

Carnaval sem dinheiro se faz com competência e creio que podemos traçar um paralelo semelhante ao que ocorreu com Leandro Vieira, carnavalesco campeão pela Magueira em 2016: Leandro começou na Caprichosos ano passado e desenvolveu um trabalho maravilhoso, colocando a mesma azul e branco, que desceu de forma lastimável em 2016, no sétimo lugar, mesmo com as condições semelhantes as desse ano. Seu bom trabalho o fez receber o convite para ser carnavalesco da Mangueira. Resultado: Campeão.

Com a Nação Insulana, muitas pessoas com uma longa história no carnaval com experiências no Boi da Ilha do Governador, Acadêmicos do Dendê e União da Ilha, fizeram muito por todas essas escolas. E com o esforço e a sede de dar à Ilha do Governador mais uma agremiação vencedora, a recompensa foi o título do Grupo E, o mais difícil e sacrificante.

A competência de diretores que se entregaram a partir do momento em que a Nação era reconhecida como agremiação, fez com que colhessem frutos muito bons. Não a toa a verde, amarelo, azul e branco da Ilha do Governador foi contemplada com o Prêmio Elite do Samba de melhor Harmonia e destaque com a Rainha Mirim e no Prêmio Ziriguidum levou de Melhor Intérprete (Cadinho e Nélio), Melhor Harmonia e Destaque do Grupo com a Rainha Vivan Cister. A missão foi cumprida, o carnaval foi pra rua e o alívio de ter feito um desfile impecável veio na apuração. Apenas 0,1 ponto foi descontado da agremiação que trouxe fantasias inéditas e quadripé também inédito. Reitero: em seu primeiro carnaval, tudo o que foi apresentado foi inédito, feito por Manoel Junior e tantos outros que ajudaram.

Nação ApuraçãoA Ilha do Governador não ganhou uma figurante no carnaval. A Nação já nasceu, ao menos, coadjuvante e da melhor categoria. A humildade, os pés no chão, a vontade de ter uma organização da agremiação e não somente uma escola de samba com níveis hierárquicos discrepantes, como vemos tantos por aí pelo carnaval.

No próximo ano a Águia Guerreira que em 2016 recebeu a ajuda dos orixás para se recompor, em 2017 fará seu carnaval completamente revigorada e amadurecida. Será reconhecida no Grupo D pelo seu desfile memorável no Grupo E e mantendo a organização, aumentando número de componentes, gestão mantendo os pés no chão – coloco a minha mão no fogo por essa diretoria –, divulgando eventos com o nome da agremiação e uma captação maior de recursos com quem pretender ser parceiro da escola, pode ser o caminho para começar a enxergar um desfile na Sapucaí. Não é exagero pensar nisso. Não diante do que foi visto no dia 13/02/2016, às 23h, durante 31min e 50seg. E ainda terá a companhia da agremiação que mais deu força para a Nação Insulana, o Acadêmicos do Dendê que contribuiu com a organização da escola da Freguesia até o dia do desfile.

Um brinde ao carnaval limpo, criativo, colorido, pensado e praticado. Que as demais agremiações sigam o exemplo de seriedade. Porque o que mais tem faltado no carnaval, principalmente da Intendente Magalhães, é um certo afastamento de algumas comunidades de suas escolas de samba. Obviamente não é só um problema administrativo e sim da exposição comercial inexistente.

Mas ainda há quem não leve tão a sério o maior legado cultural que o Rio de Janeiro tem.

3 Replies to “A Nação que se tornou realidade”

  1. Muito obrigado! Saibam que eu tenho o maior orgulho de poder estar do lado de pessoas super competentes e engajadas, que amam o carnaval a cima de tudo! Eu só tenho a agradecer a vocês por terem dado alegria à Ilha e eu participar disso.

Comments are closed.