*Rodrigo Vilela é radialista profissional e torcedor da Mocidade Independente de Padre Miguel

Listar os 10 maiores sambas da Mocidade Independente de Padre Miguel. Vejam só a responsabilidade que a direção do Ouro de Tolo reservou para este gordo radialista e leitor assíduo do portal. Como diria Jamelão, estou “mais feliz que pinto no lixo”. Uma responsabilidade e tanto.

Claro que não foi tarefa fácil, afinal, eu trarei nestas linhas um pouco da história da minha segunda paixão na vida em ordem cronológica – depois do esporte a motor e antes do futebol. Sim, caros leitores, já me pegava aos quatro anos de idade cantando “Bye bye, Brasil, bejim bejim bejim…”, um dos piores da safra padremiguelense (se um dia tiver o Top-10 humilhações, esse entra na lista sem nem pedir licença).

Embora a última década seja predileta em sambas sem nenhum sentimento – além do sono -, muitos dos hinos listados entre os 10 escolhidos, mesmo sem ser tão belos, tem uma importância histórica graúda demais para não serem relacionados – e aí não coube apenas o gosto pessoal. Isso significa que tive que deixar de fora sambas que, em algumas escolas, seriam inesquecíveis. Doeu no coração escantear “Vira virou, a Mocidade chegou”, “Rapsódia da saudade”, “Como era verde o meu Xingu” e “O descobrimento do Brasil”, por exemplo.

Olhem só, sem querer fiz um top-15, porque também merece uma menção honrosa “Apoteose ao samba”, que é “somente” o pontapé inicial para uma história gloriosa. Ao lado de Portela, Salgueiro e Mangueira, a Mocidade nunca ofereceu aos seus torcedores o desprazer do rebaixamento. A escola subiu em 1958 com este último samba citado e cá encontra-se o “povão de Padre Miguel”, no grupo das grandes até hoje, embora com muitos sustos. Não é, 2009??

Mas chega de enrolação. Vamos, de fato, à lista. Discordem à vontade nos comentários!!

10 – Pernambucópolis (2014)

Apesar de nós, torcedores da Mocidade, nunca chorarmos o rebaixamento em nossa história, em algumas ocasiões a agremiação fez força para tal, como em 1977, 2007, 2009 e 2013. Pois bem, este último ano citado parecia ser o canto do cisne – fosse a apuração sem descartes e teríamos o destino que teve a Inocentes de Belford Roxo. Ninguém dava um centavo pela Mocidade em 2014. Mas o belo samba de Dudu Nobre, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Jorginho Medeiros, Gabriel Teixeira e Diego Nicolau marcou por ser a trilha que sonorizou “a hora da virada”, como o mesmo cantou na gravação do samba, ao lado de Bruno Ribas. Foi um momento sublime, porque todo independente chorou copiosamente – eu incluso – com esse samba, que até o momento simboliza o real renascimento de uma escola que estava fadada ao descenso. Pelo menos é o que dá a impressão.

“Louco de paixão, sempre vou te amar
Luz da emoção no meu cantar (bis)
Independente na identidade
Com muito orgulho, eu sou Mocidade

9 – Mãe Menininha do Gantois (1976)

Até o início dos anos 70, a Mocidade era a escola de samba carregada pela bateria imortalizada pelas paradinhas do Mestre André e pela voz de Elza Soares (“Lá vem a bateria da Mocidade Independente…”).  De largada, havemos de concordar que 1976 é, até hoje, uma das melhores safras da história do Carnaval. Entre os melhores do ano, claro, estava inclusa a obra de Tôco e Djalma Crill. O primeiro, aliás, um dos maiores nomes da escola; o maior compositor campeão da agremiação da Vila Vintém. A Mocidade conseguiu seu primeiro pódio no Grupo Especial, ficando atrás somente da revolução estética da Beija-Flor e do maior samba mangueirense pré-Sambódromo. Nada mal.

“Oh, minha mãe
Menininha
Vem ver, como toda cidade
Canta em seu louvor com a Mocidade

8 – Villa Lobos e a Apoteose Brasileira (1999)

Um dos mais aclamados até por torcedores de outras agremiações, é lógico que a exuberante obra de Santana, Nascimento e Ricardo Simpatia em homenagem a Villa Lobos não poderia ficar de fora. A escola levou três Estandartes de Ouro: Escola, Enredo e Mestre-sala. O samba foi maravilhosamente bem cantado por Wander Pires e, de “brinde”, uma atuação magnífica da bateria do Mestre Jorjão, que retornava à escola depois de quatro Carnavais. Tudo isso cativou a Sapucaí do início ao fim – e o mesmo encanto se fez presente no Desfile das Campeãs. Algumas alegorias, caprichosamente – ou odiosamente, teimaram em não agraciar este momento sublime, empacando na concentração e na dispersão. Não importava: a verde e branco saiu do Sambódromo aos gritos de “É campeã”. Pela última vez até a presente data… dureza.

“Villa-Lobos é prova de brasilidade
Sua obra altaneira
Vem na voz da Mocidade
Cantando a apoteose brasileira”

7 – Criador e Criatura (1996)

Claro que a trilha sonora do último título tinha que estar na lista. O que parecia ser um momento de tensão e desolação terminou em festa. Pena que lá se vão 20 anos… O desfile idealizado por Renato Lage e seus efeitos luminosos adentrou a Sapucaí com mais de duas horas de atraso, devido aos problemas enfrentados por Portela e Viradouro. Ou seja, o desfile teria que acontecer à luz do dia. Nem isso foi capaz de esfriar o público, maravilhado com tamanho capricho e criatividade em alegorias e fantasias. O samba de Beto Corrêa, Dico da Viola, Jefinho e Joãozinho, conhecidíssimo desde o pré-Carnaval, deu o seu recado com maestria e “explodiu” na Sapucaí – como se esquecer da bateria fantasiada de Robocop??

“A mão que faz a bomba, faz o samba
Deus faz gente bamba
A bomba que explode nesse Carnaval
É a Mocidade levantando o seu astral”

6 – De corpo e alma na Avenida (1997)

Entrou na lista por gosto pessoal. Esse eu considero muito melhor do que o que deu o quinto título à escola, no ano anterior. Até porque o desfile foi, pra mim, muito mais com cara de campeão do que o de 1996. Wander Pires arrebentou a concorrência, tanto que levou o estandarte de melhor intérprete. A bateria do Mestre Coé beirou a perfeição; uma das maiores atuações que eu já vi. O caneco não veio por conta de problemas com a Harmonia; algumas alas não cantaram o samba. Fala sério, tem como não cantar este que foi, ao lado da obra da Grande Rio, os únicos que se salvaram na horrenda e tenebrosa safra de 1997?? O samba, composto por Chico Cabeleira, Joãozinho, Muca e J. Brito, deu à Mocidade o último estandarte de melhor samba-enredo.

“Saúde e harmonia
Prazer de viver
Vou virar pelo avesso
Teu avesso eu quero ver”

5 – A Festa do Divino (1974)

Estandartes de samba-enredo foram dois em sua história. O primeiro foi com este samba. Aliás, sambaço!! Também foi o ano em que a bateria, enfim, teve o reconhecimento da sua fama transformado em Estandarte. Só esses dois motivos já seriam mais que suficientes para esta maravilha, composta por Tatu, Nezinho e Campo Grande, ser colocada na lista. Mas querem mais um? Foi a estreia do saudoso Ney Vianna ao microfone da Mocidade, após brilhar na Em Cima da Hora no ano anterior, iniciando aí uma das mais bem-sucedidas histórias no Carnaval carioca. Não tinha como ficar de fora.

“Roda, gira, gira, roda
Roda grande vai queimar
Para a glória do Divino
Vamos todos festejar”

4 – Sonhar não custa nada, ou quase nada (1992)

https://www.youtube.com/watch?v=df2iXb1_ty0

Um vice-campeonato até hoje lamentado. Também pudera. Até hoje o samba de Paulinho Mocidade, Dico da Viola e Moleque Silveira é um dos mais populares do gênero. Todo mundo coloca este samba para tocar em festas e confraternizações; sambistas entoam seus versos em seus shows por este país afora… Pena que a soberba acabou com o desfile em si e a realidade foi um pesadelo daqueles difíceis de se esquecer. Mas o que fica é a canção. E esta é impecável. Como diriam os ingleses, “awesome”!!

“Estrela de luz
Que me conduz
Estrela que me faz sonhar”

3 – Tupinicópolis (1987)

https://www.youtube.com/watch?v=eAT7IiZ7j24

Também uma “medalha de prata”. O que contou no desempate é que, diferente de 1992, este samba, de autoria de Gibi, Chico Cabeleira, Nino e J. Muinhos, merecia ser a trilha sonora do título com léguas de distância. Foi o último desfile do saudoso carnavalesco Fernando Pinto – que rendeu o estandarte de Enredo – e a consagração de Ney Vianna, também com o estandarte – de melhor intérprete. A cidade moderna dos índios, retratada de forma esplendorosa nas fantasias e alegorias, fez a torcida fincar pé nas arquibancadas até o fim do desfile, mesmo com um calor daqueles. Na apuração, a derrota para a Mangueira dá raiva até hoje. Mas façam uma pesquisa rápida com seus colegas: qual é o samba mais lembrado e adorado entre os dois?? É até covardia!!!

“E a oca virou taba
A taba virou metrópole
Eis aqui a grande Tupinicópolis”

2 – Chuê, Chuá, as águas vão rolar (1991)

O samba que deu o bicampeonato para a escola. Embora eu considere 1992 e 1987 melhores do que este, composto por Tôco, J. Medeiros e Tiãozinho da Mocidade, é inegável que esta obra merecia o segundo posto na minha lista. O motivo, além do título e dos dois estandartes (escola e bateria)? Simples. Escafandros, Planeta Água, Iemanjá… não foi só um desfile campeão. Foi um dos desfiles mais perfeitos da história do Carnaval. Daqueles que basta o cronômetro disparar para ter a certeza de vivenciar um momento histórico. Um desfile daqueles de não se deixar dúvida alguma! Um banho na concorrência – com duplo sentido!

“É no chuê chuê
É no chuê chuá
Não quero nem saber
As águas vão rolar
É no chuê chuê
É no chuê chuá
Pois a tristeza já deixei prá lá”

1 – Ziriguidum 2001, um Carnaval nas Estrelas (1985)

Finalmente a vencedora!! Eu poderia fazer um “copiar e colar” com os mesmos motivos que usei para justificar a escolha do samba de 1991. A obra de Gibi, Tiãozinho da Mocidade e Arsênio encabeça a minha lista pelas mesmas razões de 1991: todo mundo conhece seus acordes; o “Ziriguidum” foi relembrado em inúmeros sambas posteriores; foi a consagração do estilo futurista de Fernando Pinto, com seus planetas, alienígenas e naves espaciais… e isso tudo desfilando debaixo de um sol de rachar asfalto – o que, na verdade, só realçou ainda mais a beleza de desfile. Minha preferência por esta obra – e desempate com as anteriores – é pessoal. Foi o primeiro samba que aprendi de cor e salteado; foi o que me fez, mesmo alguns anos mais tarde, ter a certeza de que foi uma decisão acertada escolher a Mocidade para torcer!! E mesmo cambaleando nos últimos tempos, meu coração segue firme, em verde e branco. Afinal, a sua estrela sempre vai brilhar!!!

“Quero ser a pioneira
A erguer minha bandeira
E plantar minha raiz”

21 Replies to “TOP 10: Mocidade Independente (por Rodrigo Vilela*)”

  1. Bela lista Rodrigo.

    Dos citados por você como top 15, só não deixaria de fora do top 10 o samba de 1990, “Vira virou, a Mocidade chegou”, tanto pela qualidade quanto pelo que significou para a escola, que ali iniciava seu momento mais vitorioso, e o lindo “Rapsódia de Saudade”, de 1971.

    1. Esses dois, com certeza, serão os mais lembrados, Luis. “Rapsódia da saudade” eu considero o terceiro melhor da escola, mas eu levei em consideração o momento da escola, que ainda só era conhecida pela bateria.

      Se fosse só uma lista pessoal, entraria, com certeza.

      O de 1990 saiu da lista por pouco. Pus 1996 por simbolizar o jejum; 1997 por ser um desfile muito melhor do que 1996 e pus 1999 por ser o último momento de brilho da escola.

      De qualquer forma, obrigado pelo comentário!!

  2. “Vira Virou” é pra Mocidade o que o Ita é pro Salgueiro, o Kizomba pra Vila, o ´”É Hoje” pra Ilha e o “Big Bang” pra Viradouro. É o samba que representa e apresenta a escola. Talvez não seja o mais bonito, mas é de longe o mais popular e de quebra, foi a trilha sonora do maior desfile da história da escola.
    Uma lista sem ele é uma lista que já nasce bizarra.

    1. Pô, comparar o “Vira, virou” com o Explode coração? Já tá errado!!

      Brincadeira… bom, acho que sou o único que não acho essa importância toda no samba e no desfile de 1990. É muito mais simbólico por tudo que aconteceu na quadra da escola, em outubro de 1989.

      Minha opinião, claro, não foi um desfile arrebatador como 1985, 1987 e 1991. Este último, sim, o maior desfile da verde e branco, porque foi dominante em meio a outros excelentes desfiles! =D

  3. Belos sambas Rodrigo.

    Eu me apaixonei pelo carnaval aos 10 anos em 1991 assistindo o abre-alas da Mocidade (o feto dentro do globo) e desde daí sou torcedor da Estrela-Guia.

    Com certeza o Ziriguidum é incontestavelmente o melhor, o hino histórico desta agremiação que merece respeito e deve o quanto antes retomá-lo.

    Dos sambas que gosto e “colocaria” nesse TOP-10 seria o de 2001 e 2006. O de 2006 pelos 50 anos…

    Valeu Rodrigo!

    1. Já percebeu que o samba de 2001, no CD, tem uma falha grave de melodia? Uma atravessada grotesca na entrada pro refrão central, na primeira passada. =D

  4. Rodrigo, muito bom seu TOP10. Gostei também de ver o de 2014… um samba que eu gosto, mas principalmente pelo momento que a escola vivia aquele ano.

    1. Eu assisti o desfile todo chorando de felicidade!! Depois do desespero que foi ver a Mocidade não caindo por menos de 1 ponto – quando ela deveria ter sido rebaixada -, aquele samba entoado pelo Bruno Ribas e pelo Dudu Nobre foi de emocionar!!!

      1. Pra mim o melhor samba daquele ano era o da Portela, mas o da Mocidade, que era meu 3º preferido, foi o que mais rendeu na avenida, sem dúvida. No setor onde eu estava todo mundo cantava. E você notava a emoção dos componentes. Ali a Mocidade voltou.

        1. Portela e Salgueiro trucidaram em samba, neste 2014. E digo mais: se este desfile da Mocidade não fosse o primeiro de segunda-feira (tivesse, por exemplo, no meião de qualquer um dos dias), estaríamos nas Campeãs!!

          Nos quesitos de chão e de canto, fomos muito superiores a Grande Rio e União da Ilha.

    1. Hehehehehehe… da minha lista particular também colocaria!! É que eu foquei a importância do mesmo nos desfiles…

  5. Estou feliz demais pelos comentários de vocês. Discordar faz parte, óbvio, o meu top-10 virou, nas entrelinhas, top-15, o que só reforça que a safra padremiguelense é muito boa!!

    E acreditem: em 1990 eu só torci pela Mocidade. Desfile arrebatador, naquele ano, foi o da São Clemente – que, óbvio, deve encabeçar a lista aurinegra!! =D

  6. Apreciei a lembrança de “Tupinicópolis”, pois o samba, mesmo não sendo brilhante e responsável direto pela perda do campeonato, me emociona muito pela maravilhosa voz do saudoso Ney Vianna. E entre os sambas injustiçados que poderiam ser citados, acrescento “O Velho Chico” de 82. Bela lista, Rodrigo! Parabéns!

    1. Ah! E se tivesse um top-10 melodias das escolas de coração, certeza que 1994 entraria na lista. A letra é trash até o dedão do pé, mas a melodia compensa.

      A passagem do “Sou passageiro da alegria…” até o refrão é divinal!!!

  7. Boa lista, bons sambas. Saudade do tempo em que o carnaval do Rio tinha bons sambas e não sambas requentados.
    Está faltando criatividade e ousadia para os compositores e não ficar requentando letras de quase 30/40 anos atrás.
    Perfeitas escolhas, mostram bem a evolução da agremiação.

    1. Depende do ponto de vista, né, Marcondão… a evolução, pra quem teve Paulo Vianna, foi apenas cronológica.

      E com Claudia Leite e Anitta, a evolução vai f… de vez!! Hehehehehehehe…

  8. Ah minha Mocidade. Muito legal ver todos esses grandes momentos da escola. Respeito demais sua lista. Claro que cada um faria a sua diferente. Isso que é o bacana. Eu por exemplo colocaria o samba de 2008. Que pode não ser muito lembrado em meio a tantos grandes momentos mas junto com o ótimo de 2014 são os que mais me emocionam nos mais recentes. Até pq o desfile também foi ótimo com uma Comissão de frente linda. Parabéns e saudações Independentes.

    1. Pois é, 2008 entraria na 10ª posição se não fosse 2014. O “Minha Mocidade… guerreira” acho inferior ao Pernambucópolis, por isso ficou de fora.

      O momento de renascimento, após o Paulo Vianna ter destruído a escola, merecia vaga no top-10, mas as obras-primas não poderiam ser escanteadas por completo!! Hehehehehehe…

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