Depois de mais um ano de disse-me-disse (como é bem típico deste mundo carioca de escolas de samba) a LIESA divulgou a lista com os julgadores para o Grupo Especial de 2016 entre o Natal e o Ano Novo.

Pelo segundo ano consecutivo tivemos uma ampla mudança, com 15 nomes trocados em relação ao corpo de julgadores de 2015 em uma lista de 36, quatro julgadores para cada um dos nove quesitos. Porém, dessa vez não tivemos nenhuma mudança radical dos quatro julgadores de uma só vez, como ocorreu em Samba-enredo e Fantasias para 2015, infelizmente. Digo infelizmente, pois, como já escrevi na Justificando o Injustificável de Samba-enredo, esse quesito merecia outra mudança radical.

Alguns dos novos nomes não são nada novos, mas sim julgadores de 2014 cortados na sangria de 2015 que retornaram. Outros três foram “promovidos” da Série A, continuando um intercâmbio que deu muito certo em 2015, tanto é que vários dos “promovidos” de 2015 permaneceram. Um deles, Sergio Naidim, se encaixa nas duas condições acima. Também há julgadores totalmente novos.

Assim como no ano passado, o Ouro de Tolo fará um resumo de quem entrou, quem saiu e quem ficou, comentando as decisões tomadas e, quando possível, pincelando a experiência no quesito dos novos que estão entrando.

A ordem dos quesitos seguirá a ordem usada na série Justificando o Injustificável que o Ouro de Tolo apresentou em abril com os comentários as justificativas de cada um dos julgadores. A partir de agora, a primeira parte da análise – a outra será publicada nesta terça-feira.

imperatriz2015Samba-enredo

Saíram:  Ricardo Ottoboni e Felipe Barros
Entraram: Alfredo del Penho e Mauro Costa Junior
Ficaram: Eri Galvão e Clayton Fabio Oliveira

Eu juro que quero elogiar a LIESA, dizer que o júri formado é competentíssimo, tanto é que esse será o tom predominante desta coluna. Mas eu não tenho como descrever a decisão da LIESA de manter dois julgadores do péssimo julgamento de Samba-enredo do ano passado.

Para piorar, um deles é exatamente Clayton Fábio Oliveira, o pior julgador de 2015 com sobras. Fica difícil acreditar que a LIESA realmente queira fazer um júri sério e competente mantendo tal julgador. Sobre ele, me reporto ao longo texto que fiz na Justificando o Injustificável.

Eri Galvão é julgador antigo, que dificilmente desconta muito. Inclusive acho que o ótimo julgamento deste quesito em 2014 teve como um dos motivos o seu afastamento naquele ano.

Ottoboni simplesmente não despontuou ninguém em melodia ano passado e foi um bom corte. Felipe Barros foi o menos pior do desastre de 2015 nesse quesito, se fosse para manter alguém deveria ser ele.

Quanto aos novos, Alfredo del Penho é compositor, violonista e um conceituadíssimo pesquisador da música popular brasileira. Frequentou bastante o Candongueiro (bar que é considerado um dos maiores celeiros de sambistas atualmente) e conhece muito de samba a ponto de ser escolhido conselheiro para o projeto do Novo Museu da Imagem e do Som. Dificilmente se acharia alguém com currículo tão apropriado para julgar o quesito. Excelente nomeação, mas vamos esperar suas notas e justificativas, pois esse quesito Samba-enredo é pródigo em queimar currículos.

Mauro Costa Junior também é um violonista autodidata, porém até onde conheço, não tem maiores ligações com o samba, mas sim com jazz.

tijuca2010cHarmonia

Ficaram: todos (Celia Souto, Jardel Maia, Humberto Fajardo e Miriam Orofino Gomes)

Aqui, em linhas gerais, um acerto. Jardel Maia e Humberto Fajardo, oriundos da Serie A em 2014, acrescentaram bastante ao quesito com suas experiências profissionais em regência de corais e fizeram um bom julgamento. Ganhando experiência, tendem a melhorar ainda mais.

Agora, a LIESA poderia dar uma atenção especial em seu curso a Celia Souto e Miram Orofino. A primeira, apesar de um bom julgamento de forma geral, descontou duas escolas por “falta de garra e vibração”, algo que não se vê nos parâmetros de Harmonia.

Já em relação a Miriam Orofino, a LIESA precisa definir bem o que é Harmonia. Em 2015, Orofino descontou carro de som, bateria, empolgação, animação, entre outros vários, alguns pertencentes a Evolução e Bateria; mas descontar a falta de canto dos componentes, que é a alma do quesito, ela só descontou a Viradouro. Com esta julgadora, muitas arestas precisam ser aparadas.

desportelaEvolução

Saíram: José Roberto Lages e Sonia Gallo
Entraram: Edileusa Batista de Aleluia e Marisa Maline
Ficaram: Salete Lisboa e Paola Novaes

Eu sei que é chover no molhado, mas é impressionante como os anos passam e Salete Lisboa permanece no júri. No polêmico assunto julgamento entre os amantes de carnaval, ela é uma das raras unanimidades: todos reclamam dela. Ela tem uma lista extensa de notas inacreditáveis, não obstante permanece.

Já Paola Novaes já tem dois bons anos de julgamento de experiência, sendo uma das julgadoras mais rigorosas e  com boas notas, mas mesmo com toda essa rigorosidade, ela achou um 10 para a Beija-Flor em 2015. Talvez a única nota complicada das 24 que ela já deu.

José Roberto Lages era novato em 2015 e foi bem cortado. Seu julgamento foi um no domingo, bem rigoroso, e outro na segunda-feira, com cinco notas 10 em seis possíveis mesmo com duas atrocidades no quesito feitas por Beija-Flor e Portela, ambas contempladas com 10.

Sonia Gallo era julgadora antiga, mas não assinou o mapa de notas da segunda-feira. Em 2015 fez um julgamento errático, com boas notas e algumas justificativas totalmente incoerentes. Também foi um bom corte.

Já as duas novas, também não são novas. Edileusa e Marisa eram julgadoras antigas que foram cortadas na sangria de 2015. Porém, ambas foram deslocadas de quesito. Marisa era uma boa julgadora de Enredo e Edileusa, uma “fiscal de erros” do extinto quesito Conjunto, que era muito mal definido pela LIESA. Vejamos como as duas se comportarão neste novo quesito.

AMANDA MATTOS BATERIA UNIÃO DESFILEBateria

Saíram: Leandro Osíres e Xandy Figueiredo
Entraram: Sergio Naidim (Série A) e Ary Jaime Cohen
Ficaram: Cláudio Luiz Matheus e Fabiano Rocha

Fabiano Rocha foi mais uma boa aquisição da Serie A e foi bem mantido. Já Claudio Luiz Matheus está na lista de julgadores que já estão fazendo hora-extra no júri. Notas e justificativas polêmicas o acompanham há anos.

Ao menos, finalmente tiraram Leandro Osíres do júri. Pela a quantidade de notas polêmicas e o enorme tempo que Matheus e Osíres já estavam no júri, seria interessante uma renovada. Se ela não foi completa, um deles já é um avanço.

Porém, se houve um avanço com Osíres, talvez haja um retrocesso com o corte de Figueiredo, um julgador com notas normalmente bem dadas e bem justificadas.

Quanto aos novos, Naidim é julgador antigo do quesito e fora cortado na sangria de 2015. Seu gosto por percussão é conhecidíssimo e é um dos poucos julgadores que aparecem nos ensaios técnicos para apreciar o espetáculo. Porém, adora distribuir notas 10 adoidado. Só em 2014 foram oito, dois terços de todas.

Não conheço Ary Jaime Cohen, mas repito nessa coluna o que já escrevi ano passado: na minha mera opinião de leigo, creio que o problema neste quesito não seja de nomes, mas de concepção. A impressão que me passa é que os julgadores, por mais que justifiquem seus descontos, acabam não respeitando as características de cada escola e julgam cada bateria de acordo com alguma batida que eles considerem padrão.

Aí quando passa uma bateria totalmente diferente como a Mocidade, com seus surdos de afinação invertida e sua batida de caixa de alta complexidade na “mão boba” eles a consideram fora do padrão e canetam sem dó. Importante notar que nomes vêm e vão nesse quesito e isso não muda.

mangueira2007Comissão de Frente

Ficaram: todos (João Wlamir, Marcus Nery Magalhães, Paulo Cesar Morato e Raphael David).

Excelente decisão de LIESA de manter o júri de Comissão de Frente. Depois de muitos problemas nos anos anteriores, em 2015 Comissão de Frente foi o quesito melhor julgado dentro dos padrões estabelecidos pela LIESA.

Como já comentei na Justificando o Injustificável, o problema em Comissão de Frente não está nos julgadores, mas nos critérios de julgamento estabelecidos pela LIESA, que na minha opinião não condizem com o que seria melhor nem para o quesito nem para a fluência do desfile.

One Reply to “O Corpo de Julgadores de 2016 do Grupo Especial – 1ª parte”

  1. Desisti de tentar entender porque raios a LIESA mantém a Salete Lisboa como jurada. Ela não enxerga os erros da Beija-Flor. Só das outras. Gostaria muito de não falar mais nem da LIESA e nem da Beija-Flor. Mas é impossível. É como não falar (mal) do Flamengo. Sempre arrumamos um jeitinho.

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