Nesse país das polêmicas mais uma aconteceu na última semana, virando debate.

Surgiu na internet vídeo de um espetáculo chamado “Macaquinhos” realizado no SESC de Patativa do Assaré, Ceará. O “espetáculo” consistia em atores fazendo ciranda e colocando dedos no ânus do coleguinha para assim, explorar o mesmo.

Muita gente torceu o nariz, dizendo que aquilo cheirava mal. Pedro Migão se empolgou e quis fazer teste de elenco, mas a maioria foi contra o espetáculo e, principalmente, deste receber dinheiro público para realização.

Quem me acompanha há quase cinco anos nesse blog sabe que não sou moralista, combato esse câncer do politicamente correto e acho que o mundo está muito chato, careta. Mas dando uma de Unidos da Tijuca: “Devagar com o andor que o Santo é de barro”.

Tudo tem limite. Sim, eu sei que tem diretores e autores mais esquisitões que curtem esse tipo de performance. Peças esquisitas não são exclusividade da galera do macaquinhos. São as chamadas “peças experimentais”. Tem uns diretores, como Gerald Thomas, que adoram surpreender e chocar o público e teve um tempo que até Nelson Rodrigues foi considerado pervertido – e hoje é cult.

Mas me desculpem. Por mais moderno que eu seja e que sempre tente ter uma visão de futuro sobre as coisas acho que a dita peça, de cult, só terá as duas primeiras letras.

Não consigo imaginar como uma história com tal foco seja “arte” sem ser no XVideos. Sei que é um terreno pouco explorado (no XVideos até é bem explorado), mas por mais que tente não consigo alcançar a “genialidade” de quem criou a peça e onde quer chegar.

Apesar de achar tudo muito estranho, é direito de quem fez. Nenhum ator foi obrigado a fazer, todos são maiores de idade, ninguém foi obrigado a assistir e, como o SESC disse, a peça foi realizada às 23 horas e quem assistiu foi obrigado a mostrar carteira de identidade comprovando ser maior.

Mas aí que está. Entrou na parte SESC já me incomoda e nesse incômodo nem KY dá jeito. SESC, dinheiro público envolvido numa peça bunda dessas. Como se o governo já não tivesse tantos problemas na cabeça, ainda arrumou mais esse. Quem foi o gênio que pôs uma peça dessas em um SESC? Quem foi o gênio que liberou dinheiro?

Isso só mostra que esse é o país do jeitinho; ou atualizando, o país dos macaquinhos, quase macaquitos como falam os argentinos. Evidente que teve QI (Quem Indica) nisso. Teve apadrinhamento, teve alguém do espetáculo com um contato mais íntimo com alguém que libera (talvez até ensaiando cenas, vai saber) e assim tudo fica mais fácil.

redes-sociaisÉ uma acusação que há décadas é feita pelos realizadores culturais do Brasil e que em um caso desses se comprova a tese. Não importa seu talento, proposta ou projeto, só vai conseguir dinheiro público e/ou benefícios de lei de incentivo se você tiver conhecimento.

Quer fazer espetáculo “tributo ao fio terra”? Faça, problema seu. Se fizer e tiver público, parabéns. Mas não pode tanta gente com projetos sérios, tentando fazer arte nesse país dar com porta na cara, ser dispensado, humilhado até cansar e desistir enquanto coisas esdrúxulas como essas ocorrem e recebem verba.

Não é fácil fazer arte no Brasil, não é fácil viver de cultura. Escrevi recentemente uma coluna contando como é difícil fazer arte na Ilha do Governador mesmo sendo um bairro de mais de 300 mil habitantes, central do Rio de Janeiro e porta carioca para o mundo. Tanta gente ralando, tentando fazer cultura, fermentar cidadania e descobre de uma hora para outra que se tivesse feito medicina se especializando em proctologia teria mais chance de receber ajuda.

Que esse país está um cu já sabemos faz tempo, mas não precisavam exagerar.

Ih citei a palavra cu. Será que tomarei bronca ou a mesma passará na edição? Bem, se rolar censura apresento a coluna no SESC. Lá gostam.

E houve um tempo que macaquinhos só queriam bananas.

Melhor não dar ideia. Com banana deve doer.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

3 Replies to “O país dos macaquinhos”

  1. Sei que o Sesc é privado, talvez não tenha sabido explicar que são duas contestações diferentes.Receber dinheiro público e se apresentar em um espaço como um Sesc,

  2. Boa tarde!

    Prezado Aloisio Villar:

    Muitas mudanças passam por cima de nossos gostos pessoais.
    Algumas passam maltratando, ofendendo, chutando. Ainda que não gostemos, elas acontecem.
    Poderão se tornar “normais”? Só o tempo saberá…
    Até lá, haverá muito estranhamento.

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

Comments are closed.