Maravilhas da tecnologia. O CD oficial com os sambas de enredo da Série A nem foi oficialmente lançado ainda e já baixei o meu álbum na loja virtual de aplicativos. Paguei, é claro, já que os compositores e as escolas dependem desse “capilé”. Digo não à pirataria.

Enfim, ouvindo as obras agora já gravadas, conversando, lendo as repercussões em fóruns de debates e redes sociais, me deparei com algumas críticas à qualidade e ao formato da gravação. Não tenho competência técnica para julgar a qualidade. Posso comentar o formato e os sambas que, para mim, cresceram, se mantiveram ou caíram em relação aos que ouvimos quando concorrentes. Alguns sofreram modificações de letra e melodia. Outros não. E agora já podemos escuta-los nas vozes de seus intérpretes oficiais.

No mês passado, assim que foram definidos os vencedores, postei uma breve avaliação. O que mudou de lá pra cá? O que ainda vai mudar no decorrer das audições? E, por fim, quais os sambas que, de fato, vão cumprir bem seu papel na Sapucaí? Esse é um dos exercícios de adivinhação favoritos de todos nós, amantes das escolas de samba. Sem medo de ser atropelado pela história…aí vai um segundo olhar sobre a Série A.

Sobem

Cubango. Tinha dito que não era G4 porque me incomodava (incomoda) o enredo batido sobre a água. Mas é melodioso, gostoso e proporciona bons momentos para a bateria Ritmo Folgado tirar onda. Já me pego várias vezes cantarolando o refrão principal.

Alegria. Atabaques dão um clima legal na introdução. A segunda muito bonita melodicamente. Tiganá bem na gravação. Já gostava. Estou gostando mais um pouco.

Rocinha. Falei de Tiganá tenho que mencionar Leléu. Ele é a alma e a cara da Rocinha. Caiu e levantou-se com a escola. Dá um show de interpretação, empolga com os bons refrães de um samba que tenta, desesperadamente e com bravura, defender um enredo que não (me) convence. Mas é gostoso de ouvir. Acho que vai abrir bem o Carnaval 2016.

Santa Cruz. Ainda sou da opinião que o trocadilho “diz mata, eu digo verde” é infame. Prefiro o trecho “folha do mais verdejante matiz eu sou”, em que a cor da escola é envolvida na poesia da música. Enredo manjadíssimo mas o samba cresce nas audições e a gravação deu uma levantada na obra.

Renascer. Sou fã assumido dessa parceria Claudio Russo-Moacyr Luz, que ganhou a luxuosa colaboração de Teresa Cristina. Que delícia de samba, que beleza, que sutileza. Versos que se encaixam, melodia que envolve. Hoje, para mim, o melhor do Grupo.

Ficam

Padre Miguel. A participação da bateria é bem resolvida na gravação. Perdeu Marquinhos Art Samba, mas Luizinho Andanças segura bem o rojão. É descontraído mas com algumas quebras aqui e ali. Rimar “guerreiro fiel” com Padre Miguel outra vez me incomoda. Mas sigo com a mesma avaliação do mês passado.

Inocentes. Samba que não se destaca na safra. Nem positiva, nem negativamente. Correto. Gostei mais da interpretação do Nino este ano. Menos tenor, mais puxador. No fim, ele ainda tenta um solo operístico. Não caí de amores pelo samba mas não acho ruim.

Porto da Pedra. Sigo lamentando que enredo tão bacana não tenha rendido um samba mais animado, poético, envolvente. Refrães não se destacam. As palmas no trecho “Parabéns, Carequinha”, na primeira passada, parecem de um aniversário com sete convidados. Não caiu no meu conceito porque não esperava muito.

Caprichosos. Problemas flagrantes de letra e enredo não diminuem a minha vontade de escutar o samba. É divertido, trechos bem gostosos, a gravação valoriza a participação da bateria. Apenas o verso “tem que respeitar”, usado no refrão principal, é que está se banalizando entre as escolas de samba. Pessoal, quem é do samba respeita todas as escolas. Não precisa pedir.

Descem

Império da Tijuca. O que pouco me animou na escolha do samba me deixou ainda mais frustrado. O refrão do meio tem um óbvio problema de métrica. Assim como o trecho “colecionador e crítico”. Passa bem despercebido no conjunto de obras.

Curicica. Ao ouvir as primeiras versões gostei um pouco mais. O excesso de xotes e forrós misturados ao ritmo do samba tornaram a gravação uma versão piorada da obra em disputa. Na avenida não haverá tantas sanfonas, zabumbas e triângulos. Ainda bem. Nada contra a música nordestina – mas Sapucaí não é São João.

Os três restantes merecem um parágrafo à parte. Não acho que os sambas de Tuiuti, Viradouro e Império tenham caído de qualidade e continuo admirando os três. A referência a eles – como a todos os demais – leva em conta única e exclusivamente a gravação do CD.

Tuiuti. Letra bem trabalhada, nada é gratuito, explora bem o uso das expressões populares. Mas senti a falta de uma explosão na gravação. Correta, mas poderia ter rendido mais.

Viradouro. Gosto muito do Zé Paulo mas na gravação deste samba acho que houve certo exagero de virtuosismo vocal. Uns vibratos fora de lugar, mais ópera que samba. Ainda que o enredo tenha caracteristicas operísticas a trilha sonora é outra, diferente (ex. “Aaaaameeeeeiiii”). E com o maior respeito pelas opiniões contrárias. Mas não achei e continuo não achando este samba o melhor dos dois grupos. Vejo no Especial alguns superiores e, no momento, nem no Acesso o considero superior. Nunca deixando de reconhecer a alta qualidade da obra.

Império Serrano. Uma voz fantasmagórica no fim da segunda parte da primeira passagem me deixou em dúvida. Erro de mixagem? Silas baixando no estúdio? Foi proposital para que nos desse essa impressão mesmo? Além disso, me passou a impressão de que Pixulé ainda não encontrou o encaixe perfeito com o samba. Sou fã de carteirinha do trabalho dele mas será preciso lapidar melhor isso aí. No mais, continuo achando que foi uma escolha acertada da escola. Trechos como o refrão do meio e a referência a “Herois da Liberdade” em “é a evolução, a brisa que afaga a juventude. Com charme e negritude” são belíssimos.

6 Replies to “CD da Série A – Notas sobre a Gravação”

  1. Samba da Renascer o melhor do Grupo? Melhor que o da Viradouro? Realmente, não entendo nada de samba. Pra mim, o samba da Viradouro é o melhor do Grupo desde o Dono da terra.

  2. Achei esse CD do acesso, de maneira geral, um retrocesso. Pioraram o que já não era bom…Quanto aos sambas concordo que o samba da Renascer é o melhor do CD, mas pela versão concorrente prefiro o da Viradouro….a voz do Zé Paulo matou o samba…

  3. Além disso tem a primeira passada do refrão principal da Tuiuti com a voz do Ciganerey, que não é mais intérprete da escola, para a lista de “pérolas” deste CD.

  4. Gerar discussão é legal quando o tema é samba. Num texto anterior tinha escrito que, para mim, o samba enredo tem que bater de forma diferente, conquistar por algum motivo que transcenda a explicação. Isso pode até não acontecer no CD. Essa mágica pode só se dar na avenida. Quem sabe o decantado samba da Viradouro não faz isso comigo? Por enquanto – embora reconhecendo toda a qualidade, como sempre ressalto – essa empatia imediata não aconteceu. Nem comigo, nem com o Phil, nem com o Bruno (perdão por inclui-los no comentário sem prévia autorização). É do jogo. Quer ver mais uma opinião controversa? Não consigo me empolgar tanto com o samba da Tijuca deste ano, por exemplo. Nada a ver com o “Dono da Terra”. Este sim, adoro.

  5. Terei que escutar com mais calma os sambas, mas eu acho que o que pode mais render na avenida é, além do Império Serrano (que me encantou desde o primeiro momento) é o da Alegria.

    Não significa que é o melhor do grupo. Em 2010, Vila Isabel e Imperatriz trouxeram sambas esplêndidos e que, na Sapucaí, definharam.

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