Foi em Agosto de 2015 que um sonho começou a se realizar. A Ilha do Governador que já contava com duas filhas nascidas e criadas à beira da Baía de Guanabara, teve a benção de dar à luz a mais uma cria: Nação Insulana. Tendo como pais e mães a Unidos de Aquarius, diretamente de Cabo Frio, integrantes ilustres da União da Ilha do Governador e ícones que construíram a história do Boi da Ilha do Governador e Acadêmicos do Dendê. O berço da Nação está na Freguesia, praia da Guanabara. Mais precisamente na cobertura do número 605. Para toda comemoração sempre há uma grande festa. E não foi diferente com a Nação Insulana.

No dia 7 de setembro de 2015, na quadra do Acadêmicos do Dendê, deu-se início a um ciclo de vida. O batismo da bandeira da Nação pela madrinha União da Ilha do Governador. Contando com a presença do vice presidente da agremiação, Djalma Falcão que fez um belo discurso.

Para abrir a festa, apresentação do grupo Pagode 39,5º, com o melhor do samba de raíz e do pagode. Nada melhor também que uma dança cigana para passar boas energias após a apresentação do grupo. No esquenta da bateria um show das passistas da União da Ilha. Bateria esta que tem uma cadência sensacional e foi carinhosamente denominada de Swing da Guanabara. Ito Melodia também soltou a voz durante a festa. Enquanto ocorria o batismo da Nação Insulana (quem nunca presenciou um batismo de bandeira, está perdendo uma das mais maravilhosas cenas no mundo do carnaval), Nelio Marins, Cadinho e Junior Nova Geração cantavam o samba exaltação da agremiação.

Ainda houve a apresentação do casal de mestre sala e porta bandeira da Cavalinhos Marinhos, escola de samba mirim da União da Ilha do Governador. A coroação da rainha da Nação Insulana não poderia ser tão boa quanto o batismo. A coroa recebida das mãos de Luh Alves, coroada madrinha da agremiação e rainha de bateria do Acadêmicos do Dendê, fez com que Vivian Cister chegasse às lágrimas. Mas lágrimas de felicidade, como todas as outras que escorreram neste dia. A festa também teve a presença do jornalista Anderson Baltar sendo o locutor da agremiação neste dia e do subprefeito do bairro da Ilha do Governador.

Dada como concluída toda a cerimônia, a Nação Insulana ainda começou a apresentação dos sambas concorrentes. Com o enredo “Na Reação surge uma grande Nação”, criado pelo carnavalesco Manoel Junior e desenvolvido pelo historiador Luis Antônio Simas. A sinopse traz na justificativa a capacidade de reação diante das situações mais adversas que sempre nos aflige “desde que o mundo é mundo”. A agremiação trará a lenda de uma águia que, após longo tempo voando, cansou e avistou a Ilha do Governador como terra para seu repouso. Reparou que naquele lugar as pessoas buscavam reencontrar a felicidade que um dia existiu. Precisavam se reinventar. A águia concluiu que ela também precisava modificar, vencer seu cansaço a fim de alçar vôos maiores, conquistas maiores.

A ave, seguindo esse princípio, começa a se depenar ao cair da noite. Os orixás, percebendo o sacrifício da águia, decidem enviar sua energia – o axé – para a transformação dela.

Em linhas gerais, o enredo mistura tradição afro, mitologia grega e a cultura do brasileiro ter de se reinventar e fazer sacrifícios diários para obter suas conquistas.

Seis parcerias apresentaram seus sambas: Paulo Beckham, Duda SG, Rodrigo Torres e Renato Melodia. Rêgy.  Serginho Versador, Flavio Carioca, Janice e Katia. André Coelho, Edu Silva e Toninho. Rosangela Cunha, Alessandra Porto, Paula Lemos e Rafael Lemos. Lobo Jr, Edu Ferry, Ginho e Marcos Silva. Quatro dessas parcerias seguiram para a final. Mais satisfatório em uma final de samba enredo, que vença o melhor e o mais abraçado, é poder perceber que boa parte da diretoria da Nação Insulana conhecia e cantava as quatro composições das parcerias. Notou-se a imparcialidade na preferência pela escolha. Então em um feriado de domingo, 15 de novembro de 2015, diante de uma enorme festa promovida pelas torcidas dos concorrentes, foi escolhido o primeiro samba enredo da agremiação.

Com o anúncio do samba campeão e com um show do casal de mestre sala e porta bandeira, João Victor Silva e Carolina Accioli, a parceria de Rosangela Cunha, Alessandra Porto, Paula Lemos e Rafael Lemos, parceria majoritariamente composta por mulheres, foi a vencedora. O samba que foi interpretado por Nando Pessoa já vinha caindo nas graças da torcida por sua poesia e melodia bem feita, não poderia ter sido o melhor.

Principalmente pelo fato de percebermos uma maior inserção das mulheres nas composições de sambas enredo. Assim como na disputa de sambas do Império da Tijuca a parceria de Jussara Pereira, Dalton da Nelci, Luiza Fontella, Adriana Vieira e LID, foi a vencedora. Em meio a tantas polêmicas sobre a mulher na sociedade atual, vemos que na parte de samba enredo há um espaço democrático onde elas também mostram que lugar de mulher também é na composição. Confiram a letra original da parceria vencedora da Nação Insulana na íntegra:

Diz A Lenda
Que O Pássaro Cansado Avistou
Uma Ilha, Um Povo Em Busca De Alegria
Onde A Tempestade Existia
Mas A Esperança
Estava Nos Olhos De Cada Ser
Juntos Somos Fortes
Nosso Lema É Vencer
Com A Noite Vem O Sacrifício
A Ave Sofreu E Não Perdeu A Fé
É Preciso A Transformação
Axé Para Toda Geração

Exu Chamou Oxalá
Nanã Cantou Em Um Ritual
E Todos Os Orixás Se Uniram Para Curar
A Águia Imponente Vai Voar

A Luz Brilhou
No Rufar Do Tambor
A Vontade Imperou
Quem É Guerreiro Se Esmera
Renasceu Das Cinzas
Em Verso E Prosa
Linda E Maravilhosa
E O Povo Unido Canta Em Seu Louvor
Ôôôô, A Nação Chegou!

O Samba É Nosso, Pode Sambar
Eu Sou Nação Insulana, Vou Te Conquistar
Tremulam As Cores Da Nossa Bandeira
Respeita Quem Soube Chegar
Sou A Águia Guerreira

A Nação Insulana desfilará pelo Grupo E, no sábado das campeãs na Estrada Intendente Magalhães, em Campinho.

[N.do.E.: faço parte do grupo de fundadores da Nação Insulana, compondo também o Conselho Fiscal de sua primeira diretoria. PM]

Imagem: SRZD Carnaval

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