No último domingo, conforme o prazo limite determinado pela Lierj (entidade que coordena os desfiles deste grupo), encerrou-se a escolha de sambas do Grupo de Acesso do Rio de Janeiro. A Inocentes de Belford Roxo foi a última a escolher seu samba, já na madrugada da última segunda feira.

De uma forma geral, confirmou-se o que eu afirmara em artigo anterior: temos uma safra mais para o irregular 2014 que para a ótima 2015. Por outro lado, a irregularidade das safras vem mais dos enredos e das sinopses que de eventuais equívocos em escolhas: em minha opinião, as composições escolhidas eram merecedoras de tal fato – mesmo que aqui e ali o preferido fosse outro finalista, o escolhido estava em pé de igualdade.

Tanto que, em 13 disputas – a Renascer encomendou – a única escolha considerada polêmica foi a do Império Serrano. E, ainda assim, o samba escolhido está longe de ser ruim, bem como tinha seus defensores – e não eram poucos. Sendo bem rigoroso pode-se contestar a escolha da Porto da Pedra, mas o escolhido tinha a preferência dos segmentos da escola.

E, ainda com as ressalvas anteriores, o samba do ano na Marquês de Sapucaí está neste grupo: Viradouro. Isso dito antes de qualquer final do Grupo Especial, para o leitor ter uma ideia.

Nesta safra para 2016 temos outro fenômeno interessante: compositores não somente assinando em mais de uma agremiação como ganhando a disputa em mais de uma delas. Por exemplo, Cláudio Russo ganhou assinando em três escolas e Samir Trindade em duas. Pessoalmente, acho salutar – hora de acabar com a hipocrisia que muitas vezes reina no meio.

Feitas as considerações gerais, algumas palavras sobre cada samba, na ordem de desfile. Vale lembrar que não estou considerando alterações feitas em letra e melodia para a versão final.

Também vale lembrar que a percepção pode e deve sofrer alterações à medida em que o CD oficial for lançado com as versões finais, bem como ensaios técnicos e, finalmente, a avenida.

Sexta Feira

Rocinha: o enredo era genérico, gerou uma sinopse genérica e, obviamente, um samba genérico. Talvez, com cinco sambas na disputa, tivesse sido melhor a encomenda. A composição é aquela típica que na Quarta-feira de Cinzas ninguém se lembra.

Alegria: o vencedor não era meu favorito, mas é um bom samba. Enredo afro dificilmente gera uma composição ruim – e esta não é exceção. Agora é ver como fica na voz do intérprete oficial, que estava afastado do carnaval carioca e retorna em 2016, ganhando nova chance.

Porto da Pedra: mantenho o que disse anteriormente – Carequinha, o homenageado, merecia um samba melhor. Entretanto, era outro caso em que a safra não dava muitas opções.

Santa Cruz: sem dúvida, a grande surpresa deste grupo. De um enredo batido – preservação da natureza – saiu uma composição que é fácilmente o melhor samba da escola neste milênio e um dos cinco melhores da safra. E, ainda assim ganhou, a disputa por 4 votos a 3, como o vídeo abaixo mostra…

Viradouro: o enredo e os sambas já foram tema de dois posts nesta revista eletrônica. Pouco mais a dizer sobre esta oração em formato de samba-enredo.

Renascer: não é tão bom como o de 2015, mas mostra a competência habitual de seus autores. Ótima composição, que sofre com a comparação dos sambas de 2014 e 2015.

Império da Tijuca: a se lamentar a troca de enredo ocorrida de última hora. Darcy Ribeiro daria uma safra bem mais interessante que José Wilker. Além disso a safra foi muito reduzida em relação a anos anteriores, e a escola da Formiga tem seu samba mais fraco dos últimos dez anos. Resultado disso tudo é um samba bem abaixo do padrão encontrado nos últimos anos na escola.

Sábado:

Curicica: a escola tem um bom enredo e como consequência, um bom samba. Belo avanço comparado aos dois últimos carnavais.

Tuiuti: Cláudio Russo, novamente, assina um dos melhores da safra. Faço a ressalva de que ainda não ouvi o samba com as mudanças na melodia feitas após a final.

Inocentes: recebi e-mails mal criados de alguns torcedores da escola após escrever que a safra “tinha dado PT – e não foi o partido”. Pelo menos a escola minorou o prejuízo escolhendo o razoável samba da parceria liderada por Serginho Castro. Resta ver como ficará na voz do contestado Nino do Milênio, intérprete oficial.

Império Serrano: o samba escolhido não é ruim, longe disso, apesar de uma melodia que, em minha opinião, é “pra trás” demais (até para mim, que detesto samba acelerado) e tende a dificultar o trabalho da Harmonia. Entretanto, a parceria comandada por Hoffmann dominou amplamente a disputa e deveria, a meu ver, ter sido a vencedora. Enfim, agora é ver como o samba será trabalhado para ir à Sapucaí, em especial sua melodia – a letra é primorosa.

Caprichosos de Pilares: para o que se falava da safra e especialmente na semana da final – se falou muito em junção – o resultado é razoável. Caso clássico onde a ala de compositores não tem culpa – a sinopse é bastante confusa. O curioso é que em um enredo mais irreverente acabou se escolhendo a composição mais conservadora das finalistas.

Padre Miguel: vitória do bom samba do compositor Samir Trindade, que segundo a diretoria era o que estava mais adequado à sinopse. Uma curiosidade é que os dois sambas vencedores do compositor vem em sequência, o que irá propiciar uma comparação interessante no dia do desfile.

Cubango: o milagre do ano. De uma sinopse muito complicada, que não deixava claro o que era o enredo, saiu belo samba assinado pela dupla Samir e Russo. Um samba mais leve para encerrar os desfiles, ao contrário da opção feita pela escola em 2014.

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9 Replies to “Um primeiro olhar sobre os sambas do Acesso”

  1. Dos poucos sambas que ouvi, gostei muito do samba da Tuiuti. o da Viradouro, sem palavras! sambaço! agora vamos rezar para o Ivo Meirelles não estragar os sambas no CD.

    P.S. Ri alto quando avistei o “Para envio de ameaças, o email é…”

    1. Como escrevi no artigo, a melodia do samba do Tuiuti foi bastante mexida na gravação oficial. Temos de aguardar.

  2. Acredito que os e-mails a qual o Sr. recebeu do pessoal da Inocentes, tenha sido em relação a o Sr. se referir a safra como a pior do acesso, (com safras vergonhosas, como as da Caprichosos e Império da Tijuca) há de se estranhar a sua “opinião”. Ficou nítido um certo “preconceito” ao avaliar a safra da agremiação que, se não foi expressiva pela qualidade das obras, de maneira geral, as mesmas cumpriam bem a proposta do enredo e se desempenharam muito bem em quadra. Infelizmente ainda se avalia o pavilhão, mas acredito em críticos sérios do nosso meio que expressam opiniões mais coerentes. Grande abraço e parabéns pela prévia avaliação. Concordo em partes com a mesma.

    1. Prezado André,

      Nada justifica se ameaçar alguém. Menos ainda uma divergência de opiniões. É inadmissível.

      Isto dito, reafirmo o que eu disse: a safra da escola não foi boa, como outras também não foram – entre elas as citadas por sua pessoa. Menos mal que o escolhido era o que se salvava no quadro geral.

      Sds

      1. Pra mim, prezado blogueiro, as ameaças não eram tão graves como você expôs agora. E não as encorajo, tampouco as apoio. Isso é uma atitude irracional e que deve ser repreendida. Procure seus direitos se necessário. Falo do desconforto em ler que a citada teve a pior safra de sambas, sendo uma inverdade tendo em vista 2 outras safras muito piores, ao meu ver, resultando em sambas piores, ao meu ver.

        Saudações.

  3. Já fiz a primeira audição de todas as obras. Ainda não as versões de CD. Só não tive o tempo que gostaria para sentar e emitir minhas opiniões. Fico em dívida para o próximo texto do “Carnaval por Esporte”. De qualquer maneira meu caminho não vai desviar muito do seu. A não ser quanto à minha preferência pelo samba vencedor na disputa do Império Serrano. Curioso para ouvir as mudanças melódicas no samba do Tuiuti, um dos meus favoritos na safra 2016 do Acesso.

    1. Gil, não sei se viu a estreia do Bar Apoteose, mas lá o raciocínio sobre o samba do Império Serrano fica mais claro. O que me preocupa é que, parece, a melodia do samba da Viradouro foi toda mexida – parece que tem um vídeo circulando mas até ontem à noite não estava disponível no YouTube

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