Domingo passado teve mais uma etapa da turnê nacional pedindo o “Fim de tudo isso aí”. Esse último ganhou o saboroso apelido de “CarnaCoxinha”. Muito bom, apesar de achar injusto.

O país vive um grande radicalismo, que vem de todos os lados. Se você defende o governo é “petralha”, se é contra é “reacionário” ou “coxinha”. Poucos são os que tentam manter a razão em um momento conturbado como esse e os que militam desse pensamento acabam apanhando dos dois lados.

Começo a militar nesse grupo. O do “calma gente”.

É errado esse clima de “Fla x Flu” na política. Política não é futebol onde é permitida a cegueira e defendemos nossos clubes do coração sob todos os aspectos. O não alienado, aquele que procura enxergar e entender o momento, se preocupa com seu futuro e de sua família. Não de partidos políticos.

protestos a favorSou eleitor do PT desde 1998, apoio candidatos do PT desde 1989 e não vou morrer abraçado com o partido. Como falo muitas vezes, ninguém fez mais pelos pobres desse país que o PT. Ninguém tirou tantos da miséria, deu estudo, uma possibilidade de futuro.

Mas ser eleitor do PT me faz incomodar ainda mais a cascata de casos de corrupção envolvendo o partido. Os que tentam defender de todos os modos citam os casos de outros partidos (Sim. O PT não inventou a corrupção) e reclamam, com razão, que esses partidos parecem ter imunidade na Justiça.

Mas a corrupção que me interessa, me choca é de quem acredito. De quem não espero nada é que virá nada mesmo. Crimes de partidos como PSDB e DEM mexem em nada comigo porque nunca acreditei neles. Do PT sim.

E o agravante é que aos poucos os ganhos sociais ficam em risco. Não adianta negar, a economia vai mal. Ocorrem cortes no orçamento da educação, projetos sociais e o governo não tem dinheiro para bancar o adiantamento do 13°. Eu sempre pensei que enquanto o país estivesse bem a gritaria sobre a corrupção do mesmo seria rouca. Mas quando começa a fazer água onde o PT tem orgulho a gritaria aumenta e com razão.

Coletiva-de-imprensa-com-Jose-Eduardo-Cardozo-e-Miguel-Rossetto-apos-protestos-foto-Jose-Cruz-Agencia-Brasil_0005-850x565E muitos vão às ruas. É legítimo o direito de protestar. Muitos morreram e apanharam, inclusive a própria presidente, por esse direito. Então desqualificar aqueles que vão as ruas reclamar do momento do Brasil, que realmente é ruim, é babaquice. Existem muitos motivos para protestar, que se proteste então.

O erro, que acaba desqualificando esses protestos e inflando quem apoia o governo, vem da minoria.

O Brasil é um país prodigioso em papagaios de pirata e assim que aparecem mulheres seminuas distribuindo revistas suas peladas e recebendo alcunha de “musas dos protestos” o mesmo recebe uma punhalada em sua credibilidade. O caráter festivo não tira essa legitimidade; é uma característica nacional, mas a alienação sim. Protestar sem saber o porquê ou achando que candidato derrotado vai assumir em caso de impeachment abre margem a ironias e expressões como a “CarnaCoxinha”.

Mas mais agravante que isso é ofender a presidente, atacar quem pensa o contrário como vimos em alguns protestos. Pior que tudo isso é poupar gente como Eduardo Cunha que é, como citei em coluna anterior, uma das maiores ameaças à nossa democracia e citado em vários casos de corrupção. Não só poupam como tratam como ídolo.

Protesto que usa Eduardo Cunha como referência não pode ser levado a sério.

protesto-dilmaO protestar sem saber o porquê, o protestar de forma errada quando existia legitimidade para isso acaba abrindo margem para gente lunática e perigosa. Aparecem pessoas apoiando intervenção militar, dizendo que 1964 errou ao não matar todos e aquilo que de tão esdrúxulo começava a ficar engraçado perde a graça.

Esse povo mais radical, mais idiotizado e que elege seres como Jair Bolsonaro como ídolos se aproveita da abertura que a crise provoca. A classe política está desacreditada. O povo deixa claro que está cansado do jeito gangster de governar do PT, mas não quer o PSDB de volta por considerar farinha do mesmo saco.

O governo sem rumo somado à oposição oportunista e a alienação visceral de nosso povo deixa porta aberta ao ódio e aberrações.

É um momento perigoso. Um momento que o governo fragilizado vira refém e abre margem a sanguessugas que lhe oferecem apoio. Abre margem a quem quer tirar proveito da situação e abre margem a quem quer se oferecer da carência do povo para aparecer como um novo Messias.

Assim os protestos perdem o sentido.

Está mais que na hora do Brasil decidir o que quer ser quando crescer. Saber que governos vêm e vão, crises sempre acontecerão, protestos idem e que mais importante que tudo é o esclarecimento, exercer a cidadania e consciência do que ocorre a sua volta.

Para que o ódio não se propague.

Contra ele eu protesto.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar