Pronto, agora estou tranquilo para falar sobre o Carnavália Sambacon. Até o momento não morreu ninguém famoso ou famoso que eu não conhecesse essa semana. Vamos ver até a hora de acabar a coluna…

Semana retrasada tive a oportunidade, por intermédio do SRZD, de participar do Carnavália Sambacon, feira de eventos e debates que ocorre no Centro de Convenções Sul América. É seu segundo ano e acredito que seja uma grande oportunidade para os sambistas.

Oportunidade de fazer negócios, de confraternizar e adquirir conhecimento de samba. Para quem já foi a uma bienal do livro, posso dizer que é parecido. São vários stands que comportam entidades de carnaval de todo o planeta como ligas desde a poderosa Liesa até uma liga de Nova Orleans, imprensa, todos os veículos voltados ao carnaval estavam lá e de negócios como venda de penas, plumas, até mesmo marketing.

No meio disso tudo, ocorriam debates sobre carnaval como negócio, geração de recursos, mídia e shows como de Dudu Nobre, Ito Melodia e Cordão da Bola Preta. Não era raro andar pelo local e esbarrar com uma personalidade do samba como o próprio Dudu e Elymar Santos. ou uma galera sambando e batucando passando pelos stands como um bloco. Quase sempre com Milton Cunha à frente.mangueira2011b

Enfim, um evento muito interessante e que tem tudo para entrar em definitivo no calendário do carnaval da cidade. Tem seus “poréns” e questões a serem levantadas. Até porque se não tivesse “poréns” não seria coluna minha e sim de um “diário oficial”.

Não estava muito cheio, quer dizer, até estava, mas não com lotação do tamanho que o evento pede. O.K., pelo menos na sexta-feira choveu na cidade e isso sempre atrapalha, mas não sei se o pouco tempo de existência do evento atrapalhou. Poderia sim estar mais cheio. Trinta reais para os três dias não é tão caro.

Mas senti falta do povão ali. Do pessoal que faz realmente carnaval, que frequenta quadra. Achei bem elitizado. Tudo bem que para negócios talvez seja o pessoal mais elitizado que se interesse, mas não eram só negócios, tinha troca de culturas também e aí achei que faltou aquele carioca simples que vemos em todas as quadras.

E o principal. Muito se falou no futuro do carnaval como negócio. Mas como falar em futuro se ele não sabe se vender?

portela2015bÉ um assunto que debati no stand do SRZD nos dois dias em que participei da feira. As escolas de samba não sabem se vender, não sabem vender seu produto. Marcas como Portela, Mangueira, Salgueiro são nacionais, mais do que o Cristiano Araújo, mas a gente vê o marketing das agremiações carnavalescas engatinhando.

As agremiações sabem se mostrar poderosas, fortes, da porta da quadra pra dentro. Da forma que tratam o folião, seu componente. São leões. Mas são gatinhos na hora de se apresentar ao poder público e a mídia. Principalmente a emissora oficial.

Como se vender como bom produto? Como fazer crescer o produto se a emissora que transmite o desfile caga e anda pra ele?

Não passam samba-enredo na Globo, não toca em rádio, as vinhetas duram quinze segundos e, antes de chegar a qualquer refrão, acabou. Não vemos puxador de samba-enredo no Faustão e quando vai ao Luciano Huck é pra concurso de passista mais bonita. Em nosso debate sobre samba-enredo, o Alexandre Araújo comentou muito bem, Em 1988, o Chacrinha levava todas e o povão cantava inteiro o samba da Cabuçu. Hoje muita gente nem sabe que a Cabuçu existe.

Samba não toca na TV, não toca nas rádios por não pagar o famoso “jabá” – que vem a ser a grana paga a rádios pra música ser tocada – e assim não aprendem o samba. Como fazer um produto que ninguém conhece ser vendido? Como fazer um produto desconhecido ser popular?

Qualidade não tem a ver com popularidade e o Brasil é mestre em mostrar isso. Digo e repito sempre, mesmo com a ditadura das sinopses, com a queda natural do nível como todas a artes passam, o samba-enredo é a melhor música produzida no país.

A Globo não faz filantropia, ela não é a maior emissora do Brasil e a segunda do mundo à toa. Se chegou a esse ponto é porque sabe negociar e se transmite os desfiles é porque lucra. Acho que as escolas de samba têm de sair do ponto de “coitadinhas” e virarem mesmo negociadoras. Dar valor ao produto que têm nas mãos.

Não adianta debate para vender algo que você não sabe ao certo o valor. Não adianta vender futuro se esquecer o passado. Carnaval tem história, tem peso e esse peso histórico é que pode impulsionar seu futuro.

Vende-se carnaval.

Mas terão que pagar bem.

@twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

3 Replies to “Vende-se carnaval”

  1. Boa tarde!

    Prezado Aloisio Villar:

    Devo dizer que, em muito tempo lendo os artigos deste site, inclusive seus, raras vezes fiquei insatisfeito.
    Neste momento estou insatisfeito com o que li.

    Não sei em quais circunstâncias as palavras acima foram escritas, mas senti falta de uma reflexão minimamente mais apurada.
    O presente texto mais parece um tópico de fórum na Internet (No Facebook, ou site de discussão que seja), do que algo que realmente acrescente à discussão sobre o carnaval e seus rumos (O que sei que você e toda a equipe do site fazem muito bem. Por isso me tornei leitor deste veículo).
    Para não ficar apenas na crítica sem apontar efetivamente minha insatisfação, vou deixar os dois tópicos que me ferveram a cabeça depois de lidos:

    – Sobre a Rede Globo
    Da forma como foi escrito, parece que o problema é a emissora. Sim, é ela, mas não adianta ficar dando murro em ponta de faca. A Globo é uma empresa privada, e vai agir conforme seus interesses. Se as Escolas acham que precisam de melhor divulgação na TV, que procurem outras emissoras que as tratem como elas acham que deveriam ser tratadas. Pode até ser que você tenha tentado ir por este viés, mas não ficou claro no texto.

    – Samba enredo é a melhor música produzida no país
    Bem, acabamos de sair do Festival de Parintins. Dizer que as toadas dos Bois não são boas músicas, ou que não chegam aos pés de um samba enredo (Possuindo muito mais variações melódicas e rítmicas do que o sambão) soa-me quase ofensivo.

    Aguardo mais colunas suas, bem como de todo mundo do site. Apenas não curti esta pelos motivos expostos acima.

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

  2. Vcs não pensam em adaptar o conteúdo do blog para celular? As pesquisas mostram q praticamente 50% da audiência hj já vem de aparelhos mobile. Eh bem difícil ler esse blog nas telinhas de smartphone. Fica a dica.

    1. Caro Thiago, está prevista uma mudança de layout que também irá contemplar os celulares, mas ainda dependemos da disponibilidade financeira.

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