No próximo dia 10, vamos comemorar o Dia das Mães. Será o momento de demonstrarmos todo amor e gratidão a quem nos criou, deu educação e amor. Filhos de casais de lésbicas poderão prestar homenagens duplamente. Estranhamente algumas pessoas pensam que, em um casal homossexual feminino, haverá uma que vai desempenhar o papel de pai; mas não é bem assim, por mais que possa haver na relação um componente com personalidade mais masculina ou que desempenhe um papel mais ativo, há sim duas mães.

A recente novela Babilônia apresenta ao público cenas emocionantes e reais do dia a dia vivido por um casal de lésbicas, interpretado pelas veteranas Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Ambas possuem um filho, e a trama vai se desenvolvendo em meio a bastante preconceito, dúvidas, discussões, mas acima de tudo amor.

E quem não acompanhou a cantora Cássia Eller (falecida em 2001) que tinha como companheira Maria Eugênia. Cassia era mãe biológica de Francisco com um ex-companheiro e quando da morte da cantora o mesmo passou a ser criado apenas por sua companheira. O mais interessante é que mesmo não tendo participado diretamente do nascimento de Chicão, como era carinhosamente chamado pelas duas, Maria passou a ser a outra mãe do menino, sem distinção por parte dele.

Tais casais são frequentemente questionadas com uma infinidade de perguntas. Embora algumas delas sejam bastante perspicazes, há outras que deixam a pulga atrás da orelha e são de fato desnecessárias.  Para ajudar a ilustrar essa afirmação, Márcia Silva, 37, e Silvia Souza, 35, casadas há 8 anos respondem a algumas perguntas que nunca deveriam ser perguntadas a um casal de lésbicas:

  1. Qual de vocês é a mãe?

Nós duas! Como somos mulheres, então nós duas somos mães; mais do que isso, temos igualmente responsabilidade ​​para o nosso bem-estar infantil, segurança e educação. Em nosso  caso, minha parceira e eu já estávamos juntas quatro anos antes de ter o nosso filho. Queríamos ter um bebê juntas. Juntas sonhamos sobre como ter o bebê, como iríamos criá-lo, e o que esperávamos para ensiná-lo. Estamos juntas e comprometidos com ele para o resto de nossas vidas.

  1. Quem é a mãe biológica?

Esta é uma pergunta ligeiramente diferente e, de certa forma, até correta e clínica. Mas não pergunte por uma mãe biológica, porque ela pode não estar na família. A criança pode ter sido adotada, ou uma das mães pode ter gerado o bebê enquanto a outra contribuiu com o óvulo.

A questão também foge dos limites, pois pode questionar a qualidade de ser mãe: onde a mãe que deu à luz seja mais importante que a outra. Você pode ter as melhores intenções fazendo esta pergunta, mas por favor, entenda que uma mãe não-biológica pode se sentir um pouco na defensiva sobre como respondê-la.

  1. De onde você tirou o esperma?

Obviamente, nenhum casal de lésbicas é delirante o suficiente para achar que as pessoas pensem que elas fizeram um bebê juntas. Se há uma gravidez na família, certamente um esperma estava envolvido e que não veio de uma das mães. Mas mesmo que você conheça o casal muito bem, esta questão ainda é um assunto delicado. Talvez o esperma seja de um conhecido ou você não queira falar de onde foi o banco de esperma, mas o fato é que não é da conta de ninguém.

  1. O que você sabe sobre o doador de esperma?

A menos que as mães iniciem a conversa dando detalhes sobre o doador, não faça esta pergunta. Nada importa sobre o doador. Você tem que confiar que as mães tenham verificado o seu histórico de saúde e qualquer outra coisa que seja importante para elas. A resposta a esta pergunta nunca será: “Bem, ele é de inteligência mediana, preguiçoso e fez doação em troca de dinheiro.”

A escolha de um doador de esperma sempre é o mais desesperador, estranho, incongruente, deprimente e emocionante na hora da decisão. Doadores de esperma são testados para doenças e condições genéticas, e porque ele não vai ser um pai presente, seus hobbies, peso e status de emprego não importam. Nós optamos por não compartilhar detalhes sobre o doador com ninguém a não ser que nosso filho queira saber esses detalhes por ele mesmo. É a sua informação privada.

  1. Seu filho não se confunde em como chamá-la?

Esta é realmente uma boa pergunta, mas há uma maneira melhor de fazê-la. Que tal, “como  chamar cada mãe?” Quando nosso filho nasceu, não poderíamos decidir como queríamos ser chamadas. Nós realmente não sabíamos se era viável esperar até que ele tivesse idade suficiente para escolher seus próprios nomes para nós. Mas um dia ele começou a me chamar “Meme” e minha parceira “Mama”. Estas foram seus nomes para nós, e ele os escolheu, sem nenhuma influência (acredite em mim, eu escolheria algo mais descolado do que “Meme”).  Ele não está confuso, porque o conceito de ter duas mães nem sequer entrou em sua mente ainda. Ele nos vê como dois pais diferentes: um Mama e um Meme.

  1. O papel de pai não se faz presente na vida de seu filho, como jogar bola e usar ferramentas?

Tentamos expor nosso filho para tantas coisas quanto pudermos, que inclui atividades que são de estereótipo masculino, mas nosso filho define a direção de seus interesses. Não o fazemos brincar com os brinquedos que nós amávamos quando crianças, apenas abrimos o leque de opções e ele as escolhe.

  1. O que você escreveu no espaço “Pai” da certidão de nascimento do seu filho?

Isso também faz parte do tópico “não é da sua conta”, mas entendo que as pessoas fiquem  curiosas (eu também ficaria, para ser honesta). Mas em nosso caso conseguimos autorização para uma certidão especial e há o campo “mãe 1” e “mãe 2”.

  1. Você está preocupada sobre como seu filho vai se sentir por você ser gay?

Alguns casais ficam preocupados e outros não, dependendo, em parte, das comunidades em que vivam. Minha parceira e eu não estamos mais preocupadas sobre as provocações que o nosso filho vai receber sobre nós duas. Hoje ele tem mente que é filho de duas mães e não se deixa abalar pois está seguro de si. Desde pequeno ensinamos a viver livremente, optando por suas próprias escolhas sem interferência de nós duas.

Diversas pesquisas feitas já descobriram que curiosidades existem, mas o preconceito na infância quase em sua totalidade é fruto da educação recebida no convívio familiar, se os familiares são preconceituosos é bem provável que os filhos sigam as mesmas ideologias.

A cada dia lutamos por uma sociedade sem preconceitos; está claro que a sociedade tem importante contribuição para o aumento ou diminuição destes. Por mais que os mais tradicionais queiram provar o contrário é bem visível que casais homossexuais podem sim constituir família, com base em amor, entendimento e acima de tudo respeito ao próximo.

Feliz Dias das Mães!