O foco, claro, é no futebol, mas, dentro de seus pormenores, o texto pode ser replicado para qualquer outra modalidade profissional.

Nossos atrasos escancarados pela Copa do Mundo e, depois de amanhã, pelos Jogos Olímpicos, podem ser explicados e justificados por mais de uma dezena de fatores, mas vou mirar em um: a existência das pomposas Federações Estaduais e seus Presidentes e campeonatos. Estas figuras pitorescas que influenciam na composição da CBF, no nosso calendário e na repartição de receitas com seus misteriosos borderôs. Porque tê-los?

A FIFA não obriga que haja divisão regionalizada em suas federações afiliadas. Aliás, confederação, para a FIFA, pressupõe uma organização continental. Em qualquer outro País temos federações ou associações, então, qual o motivo de não seguirmos a corrente majoritária? É urgente que a CBF se torne a FBF e que eliminemos as federações estaduais. Vários cabides a menos e, o que é melhor, o poder de voto para eleições fica somente nas mãos dos Presidentes de clubes, que podem ser os que jogam as três primeiras divisões nacionais, já que resolvi ditar regra.

mensaloeuricoTransformemos as federações estaduais em secretarias. Pronto! Menos pequenos poderes no futebol, que, cá pra nós, fazem um estrago danado. Em uma ceifada acabaríamos com a politicagem estadual, com a mentalidade tacanha de que um Flamengo x Barra Mansa – em pontos corridos – possa ser charmoso e fazemos a limpa no calendário nacional expurgando os estaduais, entendendo, ou rezando, que os clubes rumariam para a formação de ligas nacionais.

Como se daria? Como acontece na França ou na Itália, por exemplo, com as três ou quatro primeiras divisões nacionais e, daí em diante, divisões de acesso regionais, com clubes profissionais ou semiprofissionais brigando pela ascensão. Ah, mas o Brasil tem dimensões continentais, diria o contrariado. Tudo bem, os Estados Unidos também. E nem por isso o basquete, a NFL ou, agora, o futebol tem regionais profissionais. É a fantasia do clube pequeno, a ilusão de quem joga lá e a realidade de um manda-chuva empossado nas federações para puxar o freio de mão.

Não dá mais pra ficar vendo cartola votando em cartola para continuar cartola e ir subindo na cartolagem, com um joguinho da Seleção de regalo ou, para os mais sortudos, uma chefia de delegação em uma competição fora do País. Não dá mais pra ficar vendo clubes de primeira e segunda divisões perdendo dez ou mais semanas de seu calendário, trocando torneios internacionais de Verão por uma disputa com clubes desbotados que não estão em divisão nenhuma.

happysalernitanaTemos que botar o dedo na ferida e aceitar que o clube que disputa um estadual para, quem sabe, conseguir uma vaga na série D é um clube amador com encargos de clube profissional. É ruim para eles, mas eles não dão o braço a torcer.

Clube que não disputa nenhuma das quatro primeiras divisões nacionais tem que jogar uma quinta divisão regional de acesso e uma Copa do Brasil que dure o ano todo (isto é outro papo), com os grandes entrando nas fases mais adiantadas.

E com contornos amadores, não precisaríamos mais que secretarias estaduais, vinculando delegados e arbitragem. Contratos e boletins informativos, na era do pdf., podem ser enviados de qualquer região do Brasil para um único banco de dados. Aumenta a centralização, diminui a chance de falha (os famosos contratos protocolados no apagar das luzes da sexta-feira) e melhora a credibilidade.

Trabalhar com futebol e ver clube grande jogar pra três mil pessoas em campos horrendos dói o coração. Achar quem sustente o discurso de que, hoje, temos mais de cem clubes em condições de manter times que sejam, vá lá, razoáveis, eu não consigo. Pesquisar um bom exemplo de federação estadual que realmente sirva aos clubes, eu já desisti.

(Felipe Rolim é advogado e jornalista do Esporte Interativo. Assina o segundo artigo especial do sexto aniversário do Ouro de Tolo)

Imagens: Site Oficial do Flamengo, Arquivo Ouro de Tolo e Salerno Notícias

One Reply to “Confederações de Desportos: não precisamos. Estaduais: também não.”

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