Ano passado, escrevi neste espaço artigo no qual mostrava minha caminhada no carnaval até o momento em que chegara, ansioso com o primeiro desfile compondo uma diretoria de escola de samba.

Hoje, nesta semana do Carnaval-2015, quero falar algo que já vinha ensaiando desde o ano passado: os dez desfiles inesquecíveis de que já participei. Não são os dez melhores de todos os tempos nem os dez melhores a que assisti, mas aqueles entre os 40 em que desfilei que tenham sido mais marcantes.

Em ordem cronológica, vamos relembrar, um por um:

1) Paraíso do Tuiuti 2001 – O Primeiro Desfile

O vídeo está no alto do post. A escola de São Cristóvão estava de volta ao Grupo Especial após quase meio século perambulando por grupos inferiores e havia subido de uma forma, digamos, “insólita”.

Como estrearia na Portela na mesma noite, optei por outro desfile a fim de “quebrar o gelo” antes de testar o coração. A fantasia, em uma das primeiras alas, era de veludo e bem quente, representando os portugueses conquistadores.

Foi um desfile agradável, apesar dos problemas enfrentados pela agremiação antes e durante o desfile, que confirmaram um rebaixamento anunciado antes mesmo do Carnaval. E voltaria a desfilar pela escola em 2004.

2) Portela 2001 – Estreando na Escola do Coração

https://www.youtube.com/watch?v=kJMK50vnZhM

O desfile, em si, foi mais um dos diversos “esquecíveis” e de meio de tabela em que a Portela se notabilizou nos anos 90 e na primeira década deste século, mas foi minha estreia na escola do coração e por isso está nesta lista.

Fiz uma loucura: desfilei no Tuiuti, voltei em casa, troquei de roupa e voltei à Sapucaí. Hoje teria comprado um ingresso. Estava na segunda ala, representando o elemento terra, em um desfile cuja comissão de frente levou intermináveis 55 minutos até a dispersão.

A fantasia tinha uma máscara que um grupo de paulistas componentes da ala insistiu em tirar durante o desfile, o que gerou perda de pontos no quesito Fantasia – e uma discussão de proporções razoáveis na dispersão, com direito a troca de sopapos.

3 – Unidos de Vila Isabel 2004 – O Primeiro Título

https://www.youtube.com/watch?v=1wJtpmW5EWw

Já escrevi aqui que tenho três títulos do Grupo de Acesso, e este é o primeiro. A última ala da Vila Isabel naquele 2004 trazia pessoas dentro de uma espécie de “lençol” azul, representando o mar de Paraty, enredo da azul e branco de Noel.

Naquele ano eu quase não desfilei porque de última hora surgiu uma fantasia de bateria da Rocinha, que vinha imediatamente após. Só que, ainda bem, a roupa não me chegou na frisa onde eu estava a tempo… A roupa era tênis, uma bermuda branca e uma camisa azul brilhante.

O curioso é que fui à quadra na comemoração do título, mas fiquei pouco tempo: aconteceu um tiroteio… Observação: este registro acima é o único disponível no YouTube.

4) Portela 2004 – Primeiro e Único Desfile na Bateria

Estou devendo esta história há algum tempo, que é rocambolesca, de como parei na “Tabajara do Samba” tocando chocalho naquele ano. O desfile, reeditando o samba de 1970, foi bastante injustiçado pelos jurados, mas as notas de bateria saíram até baratas dados os problemas que tivemos.

O comando da bateria foi trocado a 40 dias do desfile, o chapéu altíssimo da fantasia – que era enorme e quente, apesar do desfile sob o sol – atrapalhou e ainda houve divergências dentro dela durante o desfile que quase resultaram em pancadaria na altura do Setor 3. As notas, três 9.9, saíram até baratas.

A nota pitoresca daquela manhã foi que eu, inexperiente, não levei água para a concentração. Resultado: quando chegou ao recuo, eu estava com tanta sede que quase tomei a garrafa da mão do pessoal que fica ali ajudando a rapaziada – a ponto de um jornalista amigo de “O Globo”, que viu a cena, ter mandado a estagiária com uma garrafa de água para mim.

Mas acho que cumpri bem meu papel: até hoje quando Mestre Mug se encontra comigo elogia minha dedicação. Foi o primeiro e provavelmente o último na bateria.

5) Portela 2005 – A Tragédia

Existem desfiles que são inesquecíveis para a tristeza também. Este é um deles. E, incrivelmente, não é o pior momento da história da escola.

Já contei a história aqui. Pouco a acrescentar, a não ser ressaltar que, felizmente, é parte do passado.

6 – União da Ilha 2008 – O Início do Flerte

Sou morador da Ilha do Governador há dez anos, sendo que minha esposa e meu irmão são torcedores da escola. 2008 marca meu primeiro desfile pela tricolor insulana, com o reedição do clássico “É Hoje” e uma camisa de diretoria.

Era o início de um relacionamento que teve momentos intensos, mas que por motivos óbvios esfriou um pouco após as eleições portelenses de 2013. Ainda assim, sigo gostando da escola e a acompanhando a distância.

Apesar de um desfile aclamado por público e crítica, a escola parou no quinto (!) lugar – com direito a um jurado considerar um dos sambas mais clássicos da história do carnaval como o PIOR do grupo. Pois é…

A largada deste desfile é uma das maiores emoções que já vivi em minha trajetória de carnaval.

7 – Portela 2009 – A Volta, a Estreia nas Campeãs

Fiquei três anos sem desfilar na Portela por causa do nascimento das minhas filhas – a diferença entre elas é de um ano e quatro meses. Então, 2009 marcava minha volta após o desastre de 2005.

Na semana anterior cheguei a ter um problema estomacal devido à ansiedade em que estava. Mas deu tudo certo, e ainda fiz minha estreia no Desfile das Campeãs – em 2004, na Viradouro, minha fantasia ficou imprestável devido à chuva.

Esperava-se que a partir dali o então Presidente Nilo Figueiredo aprumasse o rumo, mas foi o contrário – ladeira abaixo…

8 – União da Ilha 2011 – Emoção em Estado Puro

Este seria um desfile com uma carga de emoção muito grande desde o início para mim: a convite, desfilaria na histórica Ala de Compositores da agremiação insulana. Ainda houve o incêndio na Cidade do Samba, que aumentou a carga de emoção do desfile.

Para mim, pessoalmente, ainda seria uma pequena alegria após ter vivenciado no dia anterior o momento mais melancólico da história da Portela.

Mas foi muito mais que imaginava. Uma catarse, com a arquibancada vindo junta com a gente, desfilando junto e cantando junto. Um desfile que, se julgado, ficaria facilmente entre as três primeiras colocadas.

Inesquecível, sem dúvida – e imagino como tenha sido para os insulanos legítimos.

9 – Portela 2012 – O Início da Virada

O leitor pode estranhar este listado, mas está aqui por uma série de fatores: é o melhor samba enredo deste milênio, a escolha deste samba foi o início da aglutinação das forças políticas que levaria a este momento que vivemos atualmente e foi a primeira – e até agora última – vez que desfilei de azul e branco.

Além disso, o samba marcou o início do resgate da autoestima portelense. E a volta ao Desfile das Campeãs.

10 – Portela 2014 – Outra Responsabilidade

Escrevi sobre este desfile após o carnaval de 2014, mas obviamente estaria aqui: sai o desfilante e entra o diretor/conselheiro, e ainda desfilando na Harmonia. Se fosse escolher um dos dez como o mais importante, acho que cravaria este – espero que 2015 o supere.

É isso. Outros desfiles que merecem menção seriam União de Jacarepaguá 2004 e 2009, Boi da Ilha 2009, União da Ilha mesmo ano e Renascer 2011, estes dois últimos campeões do Grupo de Acesso.

Mas em 40 desfiles durante 15 anos, posso me considerar um privilegiado: tenho pouquíssimos desfiles que classificaria como “roubadas”.

E o leitor, quais são seus desfiles inesquecíveis?