Estreia desfilando com roupa de diretor. Estreia como diretor de Harmonia no Grupo Especial. A Portela chegando a um momento crucial em sua existência.

Estava nervoso? Sim e não.

Estava um pouco tenso e nervoso com o desfile, mas menos do que imaginava. Consegui me manter focado nas tarefas que me cabiam, até chegar na dispersão. Não chorei, nem me emocionei além da conta. Estava imbuído em uma missão.

Estava no Setor 2 assistindo ao desfile e cheguei à concentração cerca de duas horas antes do início do desfile. Bati algumas fotos do tripé da comissão de frente (abaixo) e dos primeiros carros, que não poderia ver durante o desfile. Iria fazer a Harmonia da ala 21, início do quinto setor, que representava a rádio Nacional. Uma grande responsabilidade, pois é uma ala comercial e que, portanto, não ensaiou exaustivamente como as alas de comunidade.

20140304_010430Logo me entrosei com o Sérgio, presidente da ala, que eu não conhecia. O clima na concentração era bem diferente dos anos anteriores: estava leve e confiante. As fantasias lindas, os carros à altura do que é a Portela.

Começamos a montar a ala. Conversa com o diretor de setor, com o presidente de ala, e começamos a colocar os componentes de forma a armar a Portela para o desfile o mais rápido possível. Além disso se fazia necessário ajudar alguns componentes a colocar os chapéus e especialmente os resplendores, haja visto que estavam bem grandes as roupas.

Neste momento houve o primeiro stress da noite, com componentes se recusando a trocar de posição para manter a ala formada. Baixou em mim o “caboclo Laíla” e gritei para todos: “não tem de ter vaidade porra nenhuma, nossa vaidade é ver a Portela campeã!” Foi o primeiro momento onde me estressei – o segundo seria na avenida.

Logo combinei com os desfilantes que me ajudariam fazendo a “ponta” de ala (foto abaixo) e fomos organizando em nossa posição, atrás do quarto carro – que representava o Teatro Municipal. Vale destacar a tranquilidade dos diretores gerais de Harmonia, em especial o Gilberto, responsável pelo quinto setor.

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A entrada na avenida foi bastante tranquila, dentro do planejado. O único pequeno percalço é que havia uma imensa poça de água e lama em frente ao Setor 2 e como eu estava todo de branco – a Diretoria representava o “lá vem o Rio/de terno de linho e chapéu Panamá” da letra do samba – tive de levantar a calça do terno.

A evolução da escola foi um tanto quanto rápida, mas o trabalho de Harmonia foi sem grandes percalços – salvo ajustar um ou outro resplendor de fantasias e chamar a atenção do pessoal para o avanço do carro. Deu até para brincar carnaval e fazer uma bossa tirando o chapéu e cumprimentando o pessoal das frisas no trecho do samba citado.

O segundo stress aconteceu perto do recuo da bateria, quando o pessoal da Globo entrou no meio da ala para filmar o carro à nossa frente e tive de ir no meio da avenida dar um esporro neles. Sei que estão trabalhando, mas é impressionante como atrapalham o desenvolvimento de uma escola na avenida.

Cheguei à dispersão sem ter muita noção de como havia sido o desfile. É aquilo: estamos tão concentrados em nossa Missão que acabamos não nos apercebendo do que ocorre à volta. Ajudei a tirar a ala da avenida para permitir a entrada dos carros e parei para observar o restante da escola. Minha reação deixo para as palavras do jornalista e amigo Rica Perrone:

“No final do desfile surge a figura de Pedro Migão, um dos diretores desta nova Portela, que me olha assustado e pergunta: “E ai?! como foi?”. 

Meu sorriso respondeu. Mas detalhei com um ousado e precipitado: “Vocês ganharam o carnaval”. 

E aquele cara chato, reclamão, quase ranzinza, me abraçou olhando pro alto como quem tenta acreditar que o risco havia valido a pena. E que a Portela de tanta gente mais velha havia sido reerguida por braços fortes e jovens, capazes de amá-la pelo que ela foi e pelo que lutam para que ainda seja.”

Foi ali que a ficha caiu. Também caiu quando, na volta das frisas, estranhos me cumprimentavam, me abraçavam e me agradeciam pelo resgate da Águia.

Todo o esforço destes nove meses na Diretoria, todo o esforço de aglutinação anterior, mostrou resultado: a Portela voltou ao lugar de onde nunca deveria ter saído, que é ser uma das forças dominantes do carnaval carioca. Independente do resultado desta quarta, sabemos que nossa missão está cumprida e que o caminho é este. Se o campeonato não vier este ano, não tardará.20140304_040333E eu tenho a certeza do meu dever cumprido. Tanto como um dos integrantes da equipe de gestão da escola, tanto como um humilde diretor de Harmonia da ala. E isso, leitores, não tem preço. Estou muito feliz.

2 Replies to “Missão Cumprida em Azul e Branco”

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