Escrevo esse texto em um Chromebook Toshiba, um presente que comprei para mim no meu último dia de férias em Miami.

Me deixem fazer propaganda do Chromebook, se é que você não conhece o produto. Um Chromebook é mais do que um tablet e menos que um computador. Fisicamente ele se parece com um notebook, mas ele é um pouco menos do que isso.

Ele serve para acessar a Internet e usar produtos da família Google, como o Google Docs (razoável), o Google Sheets (uma porcaria, que saudades do Excel) e algumas outras funcionalidades. Mas não é possível instalar programas (o que também deixa o bichinho praticamente imune aos vírus). O meu tem uma tela de 13,3 polegadas e alto falantes da badalada marca Skullcandy. É absurdamente leve e a bateria dura mais de 12 horas em uso intenso, o que me permite viajar sem levar o carregador.

E o melhor de tudo, custou um tiquinho menos de US$ 200.00. Ou seja, uma pechincha, nem smartphone baratinho custa tão pouco. Sem contar que o Chromebook é bonito para caramba, com seu aspecto de metal. No Brasil, um modelo um pouco mais simples custa mais do que o dobro.

Essa longa introdução foi para dizer que esse Chromebook foi a única coisa realmente barata que eu consegui comprar em duas semanas passeando no sul da Flórida, o decantado paraíso das compras no exterior. E olha que fui para lá em pleno Black Friday, onde supostamente os preços estão no chão.

Dois anos atrás eu tinha comemorado meus 10 anos de casado em um restaurante de carnes em Miami Beach chamado Morton’s.

mortonsNão tem nada demais no Morton’s, vou logo adiantando. O restaurante original foi fundado em Chicago em 1978, mas hoje é uma rede com uns 75 estabelecimentos. Só na Florida são sete.

Não tem chef estrelado, não tem fila na porta, não é sequer bonito – a decoração oscila entre o brega e o ultrapassado. Só que se você avisa que está comemorando alguma coisa especial, eles decoram a mesa com o seu nome, espalham uns confetes metalizados, tiram uma foto e colocam em um porta-retrato de papelão. Uma bobagem bem ao estilo americano, mas que me deu vontade de voltar.

E eu voltei, para comemorar 12 anos de casamento. Voltei porque Novembro na Florida tem hotel em conta na beira da praia com piscina generosa, tem jogo de futebol americano no Sun Life Stadium, tem a já citada liquidação do Black Friday e é sempre bom comemorar aniversário de casamento como se fosse uma lua de mel (que eu não passei na Florida, passei na Bahia, em Itacaré e Morro de São Paulo).

Podia ficar horas aqui dando detalhes da minha vida desinteressante, mas não é disso que quero falar. Quero apenas compartilhar com os leitores que lá no Morton’s eu escolhi um vinho que estava, certamente, entre os 20% mais baratos da Carta de Vinhos. Além disso, tomamos uma taça de espumante. Comemos um bife cada um (claro que tem um nome mais pomposo, mas no fundo é isso mesmo, um bife gordinho), dois acompanhamentos. Tomamos umas três garrafas de água mineral com gás e dividimos uma sobremesa. Por esse jantar, gastamos US$ 280.00, gorjeta incluída.

Faça a conta junto comigo: a operadora do cartão de crédito, espertinha como ela só, em geral cobra uns centavinhos mais caros do que esse câmbio que a gente lê no jornal. Vamos dizer que sejam R$ 2,70 por 1 dólar. Já chegamos a R$ 756, mas ainda não acabou. Ainda tem mais os 6,38% de IOF. Estamos falando de um jantar, um jantar de festa, mas um jantar de um casal em uma churrascaria de uma rede, que passa de R$ 800,00.

Tá ligado? OITOCENTOS REAIS para um único jantar de duas pessoas.

O que no Brasil custa parecido com isso? Outro dia, em SP, fui conhecer o badalado Paris 6, onde não se fica menos de uma hora na fila. Também comemos dois pratos, também dividimos a sobremesa, também tomamos vinho mesclado com várias garrafas de água – ok, não tomamos duas taças de espumante. E a conta não chegou a R$ 250,00, com a gente reclamando de que em Porto Alegre teria sido mais barato.

NFL_Jets_at_Dolphins-Sun_Life_Stadium-2012-09-24Que tal pagar mais de R$ 200,00 para assistir uma ópera lá no alto do poleiro do Lincoln Center em NYC? Ou R$ 70,00 para entrar em um museu? Ou R$ 100,00 para estacionar o carro no estádio de futebol americano? Ou R$ 23,00 por uma latinha de cerveja? A vida de um brasileiro de férias nos EUA é pautada por esses gastos rotineiros.

Volta e meia leio e ouço reportagens falando sobre as maravilhas das compras nos EUA, de como tudo lá é muito mais barato. Sinceramente, não sei onde essa gente vai e que tipo de comparação elas fazem. Praticamente nada nos EUA é mais barato do que no Brasil. Praticamente nada, repito.

Ok, Chromebook é barato – mais barato que jantar fora ou assistir a ópera em um assento decente. Outros gadgets, admito, também são um pouco mais em conta. Mas só vale a pena de verdade se a pessoa for lá e se alimentar apenas de pipoca, Coca-Cola e hot dog. Porque basta um único jantar fora em um restaurante normal para desequilibrar a conta. Se for em um restaurante top, então, esteja preparado para o pior.

Viajar é ótimo, mas está longe de trazer algum custo benefício que possa ser empacotado na mala.

Se é você é desses que pretende ir a Miami fazer compras para “economizar”, vou te dar um conselho: vá jantar com a pessoa amada em um restaurante bem caro na sua cidade, peça um vinho de luxo e, na saída, compre um Iphone 6 Plus aqui no Brasil mesmo. Isso sai por menos da metade do preço do que ir aos EUA comprar bugigangas.

É só uma questão de fazer contas – aquelas que todo turista entulhado de sacolas se recusa a fazer.

One Reply to “Compras em Miami”

  1. Cara, vou discordar de você. Estive em Nova York há pouco mais de 1 mês e a impressão que eu tive foi exatamente o contrário da sua: com cerca de 40 dólares eu comi nos melhores restaurantes que encontrava na cidade. Uma coisa que percebi: o que faz a diferença na sua conta é a bebida. Cheguei a entrar em restaurante que tinha Maserati estacionado na frente, pra você ter uma idéia. A diferença é que eu pedia uma cerveja normal e o cara da Maserati devia pedir um dos vinhos mais caros. Mas com relação a comida, a impressão que eu tive é que se come muito bem por muito pouco.

    Outra coisa é em relação ao câmbio que você usa pra dizer o absurdo que é pagar pelas coisas. Isso eu só faria se estivesse pagando no cartão, que acho que foi o que você fez. Se a maioria do seu dinheiro for em espécie, essa comparação simplesmente não vai existir. Dá mais trabalho ficar cheio de dólares no bolso? Dá, mas você não vai ficar refém do câmbio.

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