Minhas aparições no Ouro de Tolo são semanais. Em todas as semanas em que eu entrego alguma coisa ao editor.

Algumas raras vezes, até duas na mesma semana. E o pobre editor sempre arranja um jeito de conviver com esta minha aperiodicidade crônica. Ou com crônicas aperiódicas, como preferirem.

Até porque a Sobretudo, que não se propõe obrigatória, acaba sendo constantemente motivada por efemérides como a Copa, as eleições, as crises, as datas especiais… Então, nestas ocasiões, pode acontecer uma sequência de muitas colunas se atropelando e – pior dos mundos para o editor, o material vem datado, com certa urgência.

Outra característica da coluna é a passionalidade que eu nem tenho cara de pau de negar. Isso concorre igualmente para a insistência provisória em determinados temas como também na posterior ressaca em relação ao assunto e, não raro, em relação ao próprio ato de escrever.

De modo que eu já sou conhecido entre a crescente congregação ourodetoliana pelos meus sumiços e nem fica bem inventar desculpas para isso. Passadas as eleições, eu já deveria ter previsto um recesso natural.

img-1Só que, ao que já era esperado (menos pelo meu inquebrantável otimismo de que escreverei ainda “hoje”), somaram-se uns outros pequenos fatores. Por favor, não tomem como desculpas.

A reta final do ano não foi fácil no trabalho, ao menos não na geração de novas tarefas então urgentíssimas e inadiáveis. O futebol andou meio morno, notadamente se comparamos com as semanas agitadas da Copa. O pós-urnas se deu num clima de tentativa vazia de criação de um terceiro turno por parte de uma gente que não entendeu ainda que perdeu, que seu tempo passou, que terá que se reinventar para cumprir o necessário e democrático papel de contraponto.

Como escrever sobre isso sem cair na armadilha de manter vivo um debate eleitoral viciado e que deveria estar superado? Ou, abrindo mão da seriedade, cair na tentação de ridicularizar esta atitude de menino mimado da oposição? No blog, sou da facção minoritária dos que não curtem intensamente o carnaval, tema que já começa a ser amplo desde novembro neste espaço assumidamente momesco. Somados estes fatores, eu já pensaria em até expandir minhas férias literárias até depois de fevereiro.

E, por falar em pretensão literária, há ainda meus possíveis escritos mais extensos, minha vontade de concluir uns romances que me ocorreram como inspiração de temas, viraram pesquisa, alguns personagens e suas estórias gerais, umas poucas descrições de cenários, o conceito e o fio condutor, o esquema narrativo, os primeiros parágrafos escritos… Mas não passaram disso. Não sei ainda se progredirão à medida em que eu escreva sempre e mais, ou se avançarão sobre o tempo economizado por não escrever tanto outras coisas.

Só que ninguém escolhe o nome de uma coluna Sobretudo impunemente. Vai acontecendo, aqui e ali, uma crescente vontade de dar pitacos sobre pequenos temas cotidianos mais leves que os grandes debates. E foram tantos, e tão diversos, que eu cumpri o ritual de iniciar (e não concluir) uma, duas, várias colunas.

E fui ficando dividido entre o teclado perfeito do desktop do trabalho (e a falta de oportunidade de utiliza-lo para escritos privados) e o teclado defeituoso do meu ex-laptop de casa.

engenheiros-2Ocorreu que um pouco de poeira – talvez, bastante poeira – se escondeu debaixo de umas teclas, especificamente a primeira linha de letras, logo abaixo dos números. E foi um tal de letra faltante em frases que começaram a ficar exóticas e sem sentido algum.

Tomei uma providência enérgica, pelo menos enérgica para meus padrões: reunir toda minha paciência e habilidade manual para limpar as entranhas do teclado. Constato pela milionésima vez na vida que são raras estas qualidades em mim. Sem sutilezas nas mãos, calma próxima ao zero e mil precipitações, quebrei a letra “E” e inutilizei a tecla do “Q”, não sem antes deixar o estado do “R” bem pior, ainda que funcionasse sob pressão. O “W” também era incerto, mas dá para viver sem um “W”.

Ainda tentei persistir com o notebook, caçando letras em outros textos com o contr-c-contr-v. Desafiador. Comprei então um teclado extra com entrada USB. Incômodo desequilíbrio de um teclado sobre outro, ambos sobre a minha protuberante pança.

Tomei emprestado o notebook da minha esposa. O uso limitado pela agenda dela, afinal a dona da máquina e da casa, seria até superável. Mas o bichinho também estava velho e cheio de manias, como o desligamento forçado a cada vez que a tomada saía do contato, porque a bateria já tinha ido há meses. Um dia eu conto melhor como é impossível fazer esta troca “simples” num Dell.

Por enquanto, digo apenas que eu rodei uma baiana vestida de Papai Noel e comprei dois notebooks gêmeos na véspera de Natal e, aparentemente, resolvi o problema. Não me perguntem a configuração dos novatos, dizem que os mais novos são sempre melhores que os mais antigos.

Para mim, interessa que respondem com impressionante obediência e rapidez a cada vez que eu digito “E” ou “Q”.